Produção da Comédie Française com o Festival de Avignon, que Tiago Rodrigues dirige, a peça é interpretada por um elenco francês com legendas em português.
Na peça, é entrelaçada "a história de Hécuba, a viúva de Príamo que, com a derrota de Troia, perdeu o marido, o trono e os filhos, com a de uma atriz que, nos nossos dias, interpreta a Hécuba de Eurípides".
"À medida que os ensaios para o espetáculo avançam, elas sobrepõem-se a uma investigação judicial, com a própria atriz a procurar por justiça para o seu filho autista, vítima de abuso", acrescenta a sinopse da peça.
Inspirado num caso real de abuso de crianças no espetro do autismo, na Suíça, o dramaturgo e encenador cruzou essa realidade com "Hécuba", de Eurípides, uma peça em que a "questão da justiça está intimamente ligada à questão da vulnerabilidade", como disse o autor numa entrevista reproduzida na folha de sala do espetáculo.
"Crio peças porque me sinto inspirado ou movido por um tema, mas o propósito da peça nunca é esse tema. A peça é fruto da minha urgência, do meu desejo partilhado com uma equipa. Neste processo, envolvemo-nos com os temas, não os analisamos. Não existe tese, nem explicação, nem 'mensagem'! Vejo a peça como uma consequência de um ato de presença coletiva", disse Tiago Rodrigues na mesma entrevista.
Com cenografia de Fernando Ribeiro e figurinos de José António Tenente, música e som de Pedro Costa e desenho de luz de Rui Monteiro, a peça é interpretada por Éric Génovèse, Denis Podalydès, Elsa Lepoivre, Loïc Corbery, Gaël Kamilindi, Élissa Alloula e Séphora Pondi.
Praticamente esgotada no CCB, a obra faz hoje a estreia em Portugal, e regressa à mesma sala, no sábado e no domingo, para novas récitas.
Este ano, "Hécuba, Não Hécuba" já passou pelos Teatros do Canal, em Madrid, e prossegue a digressão para Antuérpia e Luxemburgo, antes de voltar a França, ainda este mês, em La Rochelle.
Entre 28 de maio e 25 de julho, a peça vai estar em cena na Comédie Française, em Paris.
Tiago Rodrigues tem, como habitualmente, várias peças em digressão. Uma delas, "Catarina e a Beleza de Matar Fascistas", que passou em novembro por Nova Iorque, foi considerada uma das melhores de 2024 para meios da grande metrópole norte-americana como a Vulture (da revista New York, onde a crítica Sara Holdren escolheu a peça portuguesa para encabeçar a sua lista dos 10 melhores espetáculos do ano) e a New Yorker.
"Catarina e a Beleza de Matar Fascistas", que se estreou em Guimarães em setembro de 2020, também vai regressar este ano a palcos portugueses, nomeadamente ao Ponto C, em Penafiel, nos próximos dias 24 a 26, seguindo-se representações no Teatro Viriato, em Viseu, em 31 de janeiro e 01 de fevereiro.
Tiago Rodrigues trará ainda a palcos portugueses a sua mais recente criação, "No Yogurt for the Dead", a estrear-se daqui por duas semanas no teatro belga NTGent. Este novo espetáculo vai estar em cena na Culturgest, em Lisboa, de 19 a 23 de fevereiro, e no Theatro Circo, em Braga, em 27 e 28 de fevereiro, no âmbito da programação da Capital Portuguesa da Cultura 2025.
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