"Era uma escritora de grande talento, criativa, e de grande dedicação e empenho na defesa das suas ideias", apontou o também autor, em declarações à agência Lusa.
A editora Dom Quixote anunciou hoje a morte da última das "Três Marias", a par de Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Velho da Costa (1938-2020), autoras das "Novas Cartas Portuguesas" (1972).
"Maria Teresa Horta foi incansável no feminismo, na defesa dos direitos dos trabalhadores e do acesso da população à cultura", reiterou o presidente da SPA, entidade da qual a autora era cooperante desde 1999.
Nascida em Lisboa em 1937, Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube, militante ativa nos movimentos de emancipação feminina, jornalista do jornal A Capital e dirigente da revista Mulheres.
"Novas Cartas Portuguesas", escritas a partir das cartas de amor dirigidas a um oficial francês por Mariana Alcoforado, constituiu-se como um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril, que denunciava a guerra colonial, as opressões a que as mulheres eram sujeitas, um sistema judicial persecutório, a emigração e a violência fascista.
"Eu acompanhei a produção desse livro e o processo que se seguiu de repressão por parte do regime", recordou Letria, apontando outra obra, no seu entender fundamental, do percurso de Maria Teresa horta, intitulada "Minha Senhora de Mim" (1971).
O presidente da SPA disse sentir "grande mágoa" pelo desaparecimento da autora, de quem era amigo há mais de 60 anos: "Perdemos uma grande mulher, uma grande cidadã e escritora de grande talento, o que empobrece a cultura portuguesa".
Maria Teresa Horta recebeu em 2014 o Prémio de Consagração de Carreira da SPA, indicou o responsável.
Com livros editados no Brasil, em França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada um dos expoentes do feminismo da lusofonia.
Foi amplamente premiada ao longo da sua carreira literária, destacando-se, só nos últimos anos, o Prémio Autores 2017, na categoria melhor livro de poesia, para "Anunciações", a Medalha de Mérito Cultural com que o Ministério da Cultura a distinguiu em 2020, o Prémio Literário Casino da Póvoa que ganhou em 2021 pela obra "Estranhezas", e a condecoração, em 2022, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República.
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