"Reconhecer o talento português é algo que nós não estamos habituados"

Rui Bandeira esteve à conversa com o Notícias ao Minuto no dia em que foi anunciada a sua nomeação aos prémios Play, 27 de fevereiro, em Lisboa.

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© Prémio Play

Marina Gonçalves
05/03/2025 08:28 ‧ ontem por Marina Gonçalves

Cultura

Rui Bandeira

No ano passado, Rui Bandeira subiu ao palco dos PLAY – Prémios da Música Portuguesa, para receber o prémio de Melhor Artista Feminina que foi atribuído à filha, Bárbara Bandeira. Na altura foi entregue uma carta ao cantor para ler em nome da filha, e o momento foi emotivo

 

Este ano, Rui Bandeira vê agora o seu nome entre os nomeados da edição deste ano. O artista está na corrida para o prémio de Melhor Canção Ligeira e Popular com o tema 'Alô'. A seu lado estão também nomeados os 4 Mens, com 'É no meio delas', Toy, com 'Vou beijar na boca', e ainda os Toka e Dança, com 'Reviravolta'.

Em conversa com o Notícias ao Minuto, o cantor comentou este reconhecimento, falou da importância da cultura portuguesa e desta 'nova' era da indústria, comparando com o início da sua carreira. 

De referir que a gala de entrega dos Prémios PLAY - criados em 2019 - vai decorrer no dia 3 de abril, no Coliseu de Lisboa, numa cerimónia apresentada por Filomena Cautela e Inês Lopes Gonçalves, que será transmitida em direto na RTP1, RTP África, RTP Internacional, RTP Play e Antena 1. 

Qual a importância deste tipo de reconhecimento?

Em primeiro lugar, quero agradecer muito aos prémios Play porque não estava rigorosamente à espera, e não estou a dizer isto por dizer. Estou mesmo muito agradecido. Ainda por cima com uma canção escrita por mim, feita por mim, dos pés à cabeça, a 'Alô'. No ano passado tive o gosto de poder vir representar a minha filha nestes prémios. Subi ao palco com um texto emocionante que nem eu próprio estava à espera, porque foi-me entregue um envelope segundos antes de subir ao palco. Jamais pensaria que este ano poderia estar aqui nomeado.

É o reconhecimento de uma carreira de 26 anos - independentemente de ser uma canção que está, de certa forma, a ser reconhecida. Para mim é um motivo de grande orgulho aos 51 anos poder subir a este palco do Coliseu, que é um palco emblemático para toda a cultura portuguesa. E poder ter uma música minha a ser reconhecida, para mim já é uma grande vitória - independentemente de quem possa ganhar na minha categoria. Quero salientar que estes Prémios Play vieram dar um 'élan' muito grande à indústria. De facto, às vezes, somos vistos como uma classe "menor". Mas trabalhamos muito para que possamos chegar até ao público de uma forma tão bonita.

Não há música boa nem má. Há música e existe a música portuguesa. E reconhecer o talento português é algo que nós, portugueses, não estamos habituados. 

Este tipo de iniciativas consegue ajudar a que haja um maior reconhecimento da música popular portuguesa?

Sim! Estou aqui mais pela música ligeira do que propriamente pela música popular, porque esta categoria abrange as duas. Estamos a falar de dois artistas de música ligeira, que sou eu e o Toy, e dois grupos de música popular, que são os Toka e Dança e os 4 Menos. Fico muito feliz porque esta é a sétima edição e só há duas edições é que esta categoria entrou.

Não há música boa nem má. Há música e existe a música portuguesa. E reconhecer o talento português é algo que nós, portugueses, não estamos habituados. Estamos mais habituados a reconhecer o que vem de fora. E quando vemos os Grammys ou quando vemos algo do género, ficamos deliciados e aquilo é que é bom. Os Play estão a conseguir, ano após ano, que a música portuguesa comece a ganhar um 'élan' diferente perante o público, e isso agrada-me bastante.

A música popular, ou a música ligeira, é uma música que está muito enraizada na nossa cultura. Não podemos desassociar as nossas raízes e a nossa verdade

Como descreve a importância da música popular portuguesa?

É super importante. Não há festa nenhuma de aldeia em que não haja uma "brejeirice", que não haja algo de que as pessoas se libertam e se queiram divertir. Desde a música erudita, ao jazz, ao fado, à música pop, ao R&B, à música ligeira... Toda ela faz parte da nossa cultura. E a música popular, ou a ligeira, é uma música que está muito enraizada na nossa cultura. Não podemos desassociar as nossas raízes e a nossa verdade. Até mesmo as próprias concertinas, que é algo que é tão característico como a guitarra portuguesa. Não podemos dizer que isso não faz parte da música portuguesa, claro que faz. E faz todo o sentido estar aqui representada nos Prémios Play.

Quando comecei profissionalmente há 26 anos, haviam músicas que eram sucesso nas comunidades portuguesas um ano depois. A Internet, e as redes sociais, vieram ajudar

E hoje em dia é essencial as plataformas, e até as redes sociais, para chegar ao público? Só a divulgação nas rádios já não é 'suficiente'?

Hoje em dia faz todo o sentido. Vejo pelos meus filhos, que são de uma geração diferente da minha, e que a sua 'fanbase' - chamemos assim - veio toda das redes sociais. Vivemos numa era digital. Ainda sou do tempo das bobines e da cassete. E quando queria que uma editora apostasse em algo que estava a fazer no momento, tinha que levar a cassete. As coisas mudaram muito. Hoje, o que é sucesso em Portugal pode ser sucesso na Austrália ou nos Estados Unidos. Não há a barreira da distância.

Lembro-me quando comecei profissionalmente há 26 anos, haviam músicas que eram sucesso nas comunidades portuguesas um ano depois. A Internet, e as redes sociais, vieram ajudar [a chegar mais rápido a outros países]. Tem os seus prós e contras. Mas o facto de ser uma muleta para nos ajudar a difundirmos aquilo que estamos a fazer, acho que são essenciais.

"Qualquer pessoa em casa pode "fazer uma música" e consegue publicar nas plataformas digitais. Esse acesso é muito fácil

E o facto de hoje ser-se mais fácil chegar a todos os artistas, de haver um consumo musical mais 'rápido', acaba por criar pressão nos artistas?

Temos que ser muito mais criativos porque os álbuns, ou os singles, acabam por ter uma durabilidade mais curta. Até porque as redes sociais, a Internet, trouxe muita coisa boa, mas também muito lixo. Hoje, qualquer pessoa em casa pode "fazer uma música" e consegue publicar nas plataformas digitais. Esse acesso é muito fácil. 

Existem artistas que hoje fazem sucesso e não precisam de ir à televisão, nem precisam de fazer muita coisa. São sucesso até na própria rede social que têm e que dominam. Mas quem sou eu para dizer o que é que é lixo? Só o público é que pode decidir.

É uma terapia para mim, e acabei por ficar como um cantautor. Ainda bem que o fiz. Ainda vou a tempo e a prova disso é estar nomeado para os Play deste ano

Se tivesse que definir a importância da música na vida das pessoas, o que diria?

A música é essencial. Há pessoas que, se calhar, são capazes de viver sem ela. Poderia viver sem música, mas a minha vida seria muito triste. Não sei se é porque já vem de família, os meus avós já eram músicos, mas não consigo ver a minha vida sem música.

Aliás, aquilo que fiz durante a pandemia, que foi a época mais difícil que atravessamos - aqueles quase três anos sem trabalho porque fomos muito afetados, não podíamos trabalhar, concertos desmarcados todos os dias… Foi aí que me redescobri novamente, voltei à composição. Pelo menos é uma terapia para mim, e acabei por ficar como cantautor, a cantar as minhas próprias histórias, as minhas próprias melodias. Ainda bem que o fiz - pena ter sido aos 47 ou 46 anos. Ainda vou a tempo e a prova disso é estar nomeado para os Play deste ano.

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