"É a primeira vez que a comunidade portuguesa no Luxemburgo é retratada e que pode exprimir-se num filme, mostrando as suas vidas, a sua intimidade, as suas emoções, as suas discussões e reflexões, e é muito importante para nós mostrar que são reconhecidos e que têm voz", disse à Lusa o realizador português Rui Eduardo Abreu, que assina o filme com os luxemburgueses Thierry Besseling e Loïc Tanson.
Durante três anos, os realizadores filmaram o dia-a-dia de três imigrantes portugueses e um cabo-verdiano: Fernando, eletricista recém-chegado ao país, Jonathan, um adolescente com dificuldades na escola, Isabel, que encontra trabalho a fazer limpezas, e Carlos, com problemas com a justiça.
Filmado no Luxemburgo e em Portugal, na serra da Lousada e na costa de Viana do Castelo, o documentário levou sete anos a ser concluído e vai chegar aos cinemas luxemburgueses a 16 de março, sendo exibido hoje e no domingo na competição oficial do Lux Film Festival.
O documentário, que também foi selecionado para a competição oficial do Taiwan International Documentary Festival, está a ser promovido pela produtora luxemburguesa Samsa, com projeções para a imprensa, participação dos realizadores em debates e exibição prevista nas maiores salas do país.
O jornal Le Quotidien diz que o filme retrata "sem pretensões nem evasões (...) o pesadelo dos recém-chegados, as dificuldades para encontrar casa, um emprego fixo, as relações de família, o insucesso escolar".
O Luxemburger Wort, o mais antigo diário do país, diz que o filme faz "um retrato - nem sempre lisonjeiro" da imigração portuguesa no país, mas que "reflete fielmente uma realidade palpável (...), pelo menos para quem não teme abrir os olhos".
O semanário Land elogia "as imagens incrivelmente belas (a costa rochosa de Portugal na bruma), e uma montagem em contraponto que abre a porta a novas perspetivas, como a cena no final do 'ballet' com empregadas de limpeza e trabalhadores da construção", mas critica a escolha apenas de "casos de insucesso".
À Lusa, o realizador Rui Eduardo Abreu defendeu que "o sucesso e a integração não se medem pela profissão nem pela conta bancária", e que o objetivo do documentário foi "dar voz a pessoas que não é habitual ver no grande ecrã".
"Para nós era importante mostrar o que continua a ser o trabalho da maioria dos portugueses no Luxemburgo, sem negar que haja outro tipo de histórias e pessoas com vidas mais fáceis, mas é precisamente por estas vidas não serem fáceis que quisemos dar-lhes voz", explicou.
"São pessoas que apesar das dificuldades nunca desistem, que mantêm sempre uma grande dignidade, e isso sobressai muito no filme, essa força interior e essa vontade de conseguir uma vida melhor", disse o realizador português, que chegou ao Luxemburgo com 11 anos, é licenciado em Etnologia e tem um mestrado em cinema documental.
Os realizadores esperam que o documentário ajude a mostrar uma realidade "ainda desconhecida" do público luxemburguês.
"Os luxemburgueses não conhecem necessariamente a vida de uma empregada de limpeza ou de um operário da construção. Com este filme damos finalmente acesso a uma realidade que uma boa parte do público luxemburguês ignora, através de uma perspetiva íntima, que mostra emoções universais", disse o realizador Thierry Besseling.
Os primeiros portugueses chegaram ao Luxemburgo no final dos anos 1960, rondando atualmente 100 mil, que representam cerca de 17 por cento da população.