O investigador da Universidade de Coimbra que coordena o projeto FireCamp2, Miguel Almeida, disse hoje à agência Lusa que as experiências decorrerão "em todos os dias do Boom Festival", de 11 a 18 de agosto, com auxílio de um balão equipado com uma câmara de raios infravermelhos.
"Esta câmara não reconhece as pessoas e vai captar imagens sempre que as condições atmosféricas permitam" a subida do balão de hélio, acrescentou.
Em julho, cientistas de quatro universidades portuguesas envolvidas na investigação "já tinham realizado ensaios de voo" preliminares no espaço do festival de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, quando a zona não estava ainda ocupada.
O membro da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), laboratório associado da UC liderado pelo catedrático Domingos Xavier Viegas, salientou que a organização do Boom Festival demonstrou "uma grande vontade de colaborar no projeto", que visa reduzir os riscos incêndio em parques de campismo e caravanismo, incluindo estacionamentos e outros espaços de apoio temporário a festivais que implicam grandes concentrações de pessoas em áreas agrícolas e florestais.
"É uma tecnologia que vamos ainda experimentar", disse Miguel Almeida, indicando que a câmara de infravermelhos captará imagens que depois, em laboratório, ajudarão os cientistas a analisar o risco de incêndio nesses locais e a criar "um algoritmo de reconhecimento" do fogo.
O sistema de deteção precoce dos focos de incêndio incluirá "uma ferramenta para alerta de incêndios" que deve melhorar a segurança de pessoas e bens naqueles parques, bem como nos espaços equivalentes de apoio pontual a festivais ao ar livre.
Miguel Almeida defendeu que os festivais, que geralmente se realizam nos meses de verão e em áreas com vegetação inflamável, devem ser "zonas altamente salvaguardadas do risco de incêndio".
A instalação de "cozinhas comunitárias para os festivaleiros" que optem por confecionar as suas refeições é uma das recomendações dos investigadores.
"Temos detetado várias situações de risco nos parques de campismo e caravanismo", admitiu, indicando que o Boom Festival disponibiliza aquelas cozinhas aos interessados, contribuindo para diminuir o risco de incêndio.
Os campistas devem também "deixar as viaturas prontas para sair da forma mais rápida possível" em caso de necessidade, disse.
Na semana passada, Miguel Almeida visitou o Andanças, depois de um incêndio ter queimado, na quarta-feira, mais de 400 automóveis nas imediações do Festival Internacional de Música e Dança Tradicional, no concelho de Castelo de Vide, distrito de Portalegre.
"Dois dias depois do incêndio, ainda vi no estacionamento uma série de carros bloqueados por outras pessoas, o que não pode acontecer, muito menos numa zona de risco", alertou o investigador de Coimbra.
Além da ADAI, que coordena, o FireCamp2 envolve investigadores de unidades congéneres do Instituto Superior Técnico, Universidade da Beira Interior e Universidade do Porto, integradas no Laboratório Associado de Energia, Transportes e Aeronáutica (LAETA).