Desde ‘Narcos’ que a história de Pablo Escobar beneficiou de um novo fôlego, reiterando-se os relatos de enriquecimento galopante, de violência, de derramamento de sangue e de inevitável tragédia. A história de Barry Seal, contada por Doug Liman em ‘American Made’ – em Portugal, ‘Barry Seal - Traficante Americano’ – é um dos capítulos dessa(s) história(s).
De acordo com Juan Pablo Escobar, filho de Pablo Escobar, é também o capítulo que a produção de ‘Narcos’ não quis aprofundar: "Se vir a segunda [temporada], atente na ausência de Barry Seal. Que casualidade, a série ter sido escrita pela DEA [os agentes Javier Peña e Steve Murphy, fulcrais na história de Escobar, fazem assessoria na produção de ‘Narcos’], e esqueceu-se o papel de Barry Seal na vida de Pablo Escobar. Justamente um agente da CIA, informador da DEA".
É impossível saber porquê, o que se sabe é que a história de Barry Seal, o piloto “que nunca falha uma entrega”, está ligada à ‘caça aos comunistas’ e, talvez, ao polémico caso Irão-Contra que complicou o segundo mandato do presidente norte-americano Ronald Reagan.
Quem era Adler Barriman Seal?
Barry conseguiu a licença de voo apenas com 16 anos de idade, era muito talentoso, e depois de uma passagem pelo exército tornou-se num dos pilotos mais jovens da Trans World Airlines, em finais dos anos 60. A imersão no universo do tráfico de drogas começou em meados dos anos 70, usando os aviões que pilotava para transportar, por exemplo, cocaína ou ‘quaaludes’ (metaqualona, o sedativo com efeitos hipnóticos cujos efeitos foram tão bem representados por Leonardo DiCaprio em ‘O Lobo de Wall Street’).
CIA. Casa Branca. Pablo Escobar... Este homem enganou-os a todos. Primeiro trailer de 'Barry Seal: Traficante Americano', com @TomCruise pic.twitter.com/E2aeDFpo6c
— Universal Pictures (@UniversalPicsPT) 5 de junho de 2017
No início dos anos 80 foi contactado por um dos irmãos Ochoa, passando a facilitar o transporte de drogas do Cartel de Medellín, na Colômbia, para os Estados Unidos. Para além dos Ochoa, o cartel incluía Carlos Lehder, Gonzalo Rodríguez Gacha e Pablo Escobar.
A espionagem, a Casa Branca e o momento da traição
Seal foi intercetado pelas autoridades em 1983 e confessou tudo. Viria a ser condenado a 10 anos de prisão mas acabou por ser ‘salvo’ pela CIA, que lhe deu uma tarefa: espiar os sandinistas em Nicarágua. A administração de Ronald Reagan queria saber onde estavam os comunistas. É nesta altura que é mencionado o escândalo da venda de armas ao Irão durante o segundo mandato de Reagan, ao arrepio do embargo internacional de venda de armas e cujos lucros terão acabado nas mãos dos ‘Contras’ de Nicarágua.
À medida que se intensificava a polémica em torno das drogas, a administração foi mudando de ideias. Barry começou a trabalhar para a DEA (Drug Enforcement Agency, agência de combate ao narcotráfico) e tornou-se “no mais importante informador da história da DEA”, segundo a imprensa da altura.
Até que a imprensa (ou a CIA) lhe passou a perna e revelou a sua identidade como informador, tendo publicado a imagem que acabaria por ditar a sua morte. Seal foi o autor da única prova concreta que ligou Pablo Escobar definitivamente ao tráfico de drogas.
[A fotografia que incriminou Pablo Escobar. Tirada por Barry Seal na Nicarágua, em 1984, através de uma câmara fotográfica escondida, provou definitivamente a ligação de Escobar ao tráfico de droga. Seal acabaria por ser morto por causa desta imagem]
Depois desta polémica, Seal foi abandonado pela CIA e pela DEA, pois já não servia como informador. ‘Marcado’ pelo cartel de Medellín, acabaria por conhecer um final trágico.
Pese embora a divertida realização de Doug Liman (‘Edge of Tomorrow’, ‘Bourne Identity’) e a atração da história - baseada em factos reais -, a escolha de Tom Cruise para interpretar o bem menos atlético e atraente Barry Seal cria um sério desafio.
[Imagem de Barry Seal, em 1986]
Cruise, que já trabalhou com Liman em ‘Edge of Tomorrow’, é o foco principal do filme e, embora seja um excelente ator, acaba por ser insuficiente. A seu lado está o profissionalíssimo Domhnall Gleeson (‘Ex Machina’, ‘The Revenant’, ‘About Time’), que interpreta o agente da CIA Monty Schafer, mas pouco mais. Lucy Seal, interpretada por Sarah Wright, é uma personagem menosprezada, assim como, de resto, a (crucial) vertente dramática da história.