Diogo Verdasca assume-se como peça fundamental no Saragoça. No verão de 2017, o jovem defesa português abandonou Portugal, depois de terminar contrato com o FC Porto, e não teve medo de ir em busca da felicidade em Espanha.
No país vizinho, Diogo acredita ter evoluído enquanto jogador até porque a exigência dos adeptos assim o obriga. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o defesa português recorda também os nove anos passados no FC Porto, bem como os títulos conquistados ao serviço dos dragões.
Não menos importante, confessa, é o sonho de chegar à seleção nacional. Com 22 anos, Verdasca acredita que um dia pode chegar às escolhas de Fernando Santos e olha para José Fonte como um exemplo a seguir.
Que balanço faz destes dois anos em Espanha?
O balanço é bastante positivo. A minha primeira época correu-me muito bem. A equipa ficou em terceiro lugar no campeonato e conseguimos ir aos playoffs, mas infelizmente não conseguimos subir de divisão. Ainda assim, foi uma época bastante positiva. Só tenho coisas boas a dizer da cidade e do clube. Na segunda época comecei a jogar como médio defensivo, passei por um período mais irregular, mas agora já estou novamente no onze e só quero acabar bem a época.
Como se deu a saída do FC Porto?
O FC Porto comunicou ao meu empresário que não queria contar comigo e o Saragoça já tinha demonstrado interesse em janeiro de 2017. No verão surgiu a proposta. Conhecendo um clube como o Saragoça, que é um clube histórico e que esteve muitos anos no primeiro escalão do futebol espanhol, quis arriscar. Vim para uma divisão igual mas com nível de jogo e de pressão bastante elevados.
Encontrou o nível de competitividade que queria?
Aqui todas as equipas têm nível. O primeiro pode perder com o último, como no jogo a seguir o último pode ganhar ao segundo. É muito competitivo. Além disso, outra coisa boa daqui é que todos os estádios estão cheios. Este ano, creio que somos a nona equipa com mais adeptos no estádio. Temos uma média de 25 mil pessoas ao estádio. É muita gente para uma segunda divisão.
Sente o reconhecimento dos adeptos na rua?
Saragoça é a quarta maior cidade de Espanha e é o único clube da região. Os jogadores passam pela rua e os adeptos transmitem sempre mensagens de força e de apoio. É muito bom.
Qual foi a sensação de marcar o primeiro golo ao serviço do Saragoça?
Foi uma sensação incrível. Acho que foi a 8 de outubro, que por acaso é o meu mês de aniversário. Foi um jogo em que ganhámos por 4-0. Nesse dia correu tudo bem (risos).
Diogo Verdasca já soma três golos apontados esta temporada e contabiliza mais de 50 jogos ao serviço do emblema espanhol. © Reprodução Twitter Zaragoza
E no início como correu a adaptação?
Vim para Espanha com dois amigos de Portugal. Viveram comigo os primeiros sete meses para ajudarem na minha adaptação. Além disso, também a minha família vinha visitar-me uns três ou quatro dias por mês. Foi tudo positivo. O staff do clube tentou sempre ajudar-me. Ainda agora a minha mãe esteve cá no fim de semana e disse-me: 'Filho, agora já nem precisas de GPS. Já conheces as ruas todas' (risos).
No meio de tudo isto, teve algum período mais negativo?
Houve uma fase em que estive um bocado em baixo, mas com o apoio da minha família e dos meus companheiros consegui ultrapassar isso. Tenho a ideia de que o jogador de futebol é 90 por cento cabeça. Temos de abdicar de muita coisa e é preciso ser muito forte psicologicamente.
Em algum momento se sentiu arrependido?
Não, nunca. Vir para o estrangeiro foi das melhores decisões que tomei na minha vida. Para já, tenho contrato com o Saragoça e estou bem aqui. Regressar a Portugal nunca está fora de hipótese, mas por agora estou bem fora do meu país.
Acha que em Portugal ainda não se aposta totalmente nos jogadores portugueses?
Nos clubes grandes aposta-se mais nos jogadores que vêm de fora e não nos jogadores da casa. O jogador português acaba por ter de sair para um clube mais pequeno em Portugal para dar um passo atrás e depois dar dois à frente. É essa a ideologia. É verdade que agora estão a apostar mais nos jovens, mas não está a ser uma loucura. Creio que os jogadores portugueses arriscam em ir para outros países e outras equipas para demonstrarem o seu valor. Eu sou um exemplo. Jogava no FC Porto B com 200 pessoas na bancada e vim jogar para o Saragoça que tem 25 mil pessoas todas as semanas. É uma diferença bastante grande.
O que sentiu na primeira vez que olhou para as bancadas do Saragoça?
Para dizer a verdade, não esperava. Quando entras em campo e vês aquele pessoal todo ficas do tipo: 'Uau, eu quero jogar sempre com este estádio cheio'. Foi uma sensação bastante positiva.
Diogo Verdasca com a Taça da Premier League International Cup. © Global Imagens
Voltando ao FC Porto. Faz parte de uma geração que ganhou dois títulos. No entanto, poucos desses jogadores conseguiram chegar à equipa principal...
Se formos buscar aquela geração, vamos ver que poucos estão em Portugal. Somos a geração que fez do FC Porto a única equipa do mundo que conquistou o título da segunda divisão com a equipa B. Na minha opinião, acho que não se apostou na geração que ganhou a II Liga, e sabemos que é um campeonato muito difícil. Além disso, éramos todos muito jovens e isso é algo ao qual se deve dar muito valor. Acho que não souberam aproveitar isso e agora é o que é. Estamos por aí espalhados.
Que memórias guarda dos tempos de FC Porto?
As boas memórias resumem-se à minha entrada e aos meus últimos três anos. Nesse período ganhámos o campeonato de juniores, depois a II Liga e no último ano ganhámos a Premier League International Cup. Cresci imenso nessa altura. E, claro, todos aqueles treinos na equipa principal. Todos aqueles momentos que vivi lá. Tenho experiências muito boas do FC Porto, mas vir para Espanha foi um bom passo para poder evoluir.
Qual treinador o marcou mais nesse período de três anos?
Todos. O António Folha era um treinador baseado no querer e na liderança. Era tudo aquilo que vemos no jogador à FC Porto e igual à forma de ser do Sérgio Conceição. O Luís Castro era mais um treinador do estilo 'senhor do futebol'. Um treinador que entende bem o jogo e que sabe lidar com os jogadores. São estilos diferentes, mas ambos me marcaram bastante pela positiva.
Diogo Verdasca num treino da equipa principal do FC Porto. Na ocasião com Jesús Corona, Héctor Herrera e André Silva. © Global Imagens
Continua a acompanhar o futebol português?
Claro! Estou a achar o campeonato bastante positivo. Creio que o FC Porto vai ser campeão e que vai ganhar a Taça de Portugal. Também o Sporting de Braga está a fazer um campeonato muito bom, com muito mérito do treinador Abel. O Benfica deve tropeçar (risos). Mas no futebol, não há nada garantido.
Espera então festejar o título no final da época?
Gostava muito de festejar o título do FC Porto no final da temporada. É uma casa que me marcou bastante e claro que fico contente quando ganham títulos.
Ainda sonha com a chegada à seleção?
O sonho de qualquer jogador português é chegar à seleção nacional. Sou muito jovem ainda e pode acontecer um dia. Quem sabe poderá ser mais cedo do que o esperado.
Há o caso do Fonte que chegou à seleção aos 32 anos...
Apareceu aos 32 anos e no ano a seguir foi campeão europeu!
Joga a central ou a médio defensivo. Qual das posições prefere?
Jogar a central, sem dúvida. Claro que prefiro, mas se tiver de jogar a médio defensivo... jogo. Temos de ser polivalentes.
E quem são as suas referências na posição?
Sempre gostei do Thiago Silva do PSG. Também sempre gostei do Ricardo Carvalho, do Godín, do Pepe... Sempre que vejo os jogos grandes tento sempre fixar-me nos centrais para poder ver como jogam. Por exemplo, faço isso quando vejo o Sérgio Ramos ou Piqué.
O que gostava de fazer no Saragoça e que ainda não fez?
Gostava de cumprir contrato e subir de divisão era excelente. Estou cá para ajudar a equipa para alcançar os melhores resultados possíveis.
Gostava de dar essa alegria aos adeptos de devolver o Saragoça ao principal escalão do futebol espanhol?
No ano passado estivemos muito perto e vivi uma experiência que é difícil de explicar. Esta cidade merece que o clube esteja na primeira divisão. Era uma das coisas que gostava de viver.
Onde gostava de estar daqui a alguns anos?
Não sei.. Acho que gostava de estar numa primeira liga e jogar a Liga dos Campeões. É isso que todos os jogadores de futebol desejam.
Diogo Verdasca vestiu a camisola do FC Porto durante nove anos. © Getty Images