O fenómeno é cada vez maior, o espetáculo envolve multidões em crescendo e os sinais mais recentes premeiam o trabalho do passado e a aposta do presente, deixando antever um futuro risonho. O futebol feminino veio para ficar e, definitivamente, se assumir no panorama do desporto dos quatro cantos do mundo.
Se em Portugal a evolução quantitativa e qualitativa é notória à medida que o tempo passa e corre a passos largos para esse sonho reduzir distâncias para o masculino, aqui ao lado, em Espanha, já existem recordes a serem batidos.
O último, há precisamente um mês, teve o Wanda Metropolitano como palco. Foram mais de 60 mil espetadores - 60.739 - os que assistiram ao clássico entre o Atl. Madrid e o Barcelona, um número estratosférico para a realidade atual, mas que enche de esperança e orgulho quem se mantém envolvido neste caminho.
Lá dentro, nas quatro linhas, houve uma portuguesa a espalhar magia e a provar que o velho ditado de que "o futebol é para homens" é apenas teoria gasta. Dolores Silva, uma das capitãs da Seleção Nacional, ainda recorda com ansiedade aquele momento da entrada no tapete verde, aos 68 minutos.
"Gostaria de voltar a vivê-lo, pois foi um dos sonhos mais bonitos que vivi. Por palavras não consigo explicar, foi um momento único, um misto de sentimentos muito especiais. Qualquer jogadora tem esse sonho, ainda para mais no estádio do clube que se representa", começa por dizer a médio, à conversa com o Desporto ao Minuto, que esta temporada já tinha atuado para cerca de 48 mil pessoas, nos quartos-de-final da Taça da Rainha, no San Mamés, frente ao Athletic Bilbao.
"O impacto do público foi enorme, apesar de não termos conseguido ganhar [este último frente ao Barcelona - derrota por 0-2], os nosso adeptos estiveram a cantar e apoiar a equipa desde o primeiro ao último minuto num ambiente fantástico. Lindo, mesmo!", acrescenta ainda.
Apesar de no nosso país o processo estar ainda um pouco mais 'demorado', Dolores não tem dúvidas de que o caminho está a ser trilhado da melhor forma e que os primeiros frutos já estão a ser colhidos. "Tem crescido muito aqui em Espanha nos últimos anos, nesse aspeto sinto vantagem e que estão mais evoluídos em relação ao futebol em Portugal. Passo a passo e Portugal vai chegar lá", sublinha a jogadora, de 27 anos.
Internacional portuguesa acredita que o futebol feminino vai continuar a crescer no nosso país.© Instagram Dolores Silva
Feliz no país vizinho
Com uma já vasta experiência internacional, Dolores Silva cumpre a primeira época no futebol espanhol. Depois de seis anos na Alemanha, onde representou o FCR Duisburg e o FF USV Jena, a internacional portuguesa voltou a 'casa' para vestir a camisola do Sp. Braga na temporada transata. A viver uma nova etapa nos colchoneros, a polivalente jogadora mostra-se feliz com a decisão tomada.
"A época tem corrido bem, estamos dentro das competições e a lutar pelos títulos que pretendemos conquistar. Estou numa grande equipa, com grandes jogadores a nível mundial, que me fazem crescer e evoluir todos os dias num contexto competitivo forte", explica.
Médio tem sido uma das principais peças do 'xadrez' do selecionador Francisco Neto.© FPF
Entrada para a história
Ao bom momento no clube, Dolores Silva tem juntado prestações de elevado nível na Seleção Nacional. A jogadora do Atl. Madrid, foi, de resto, titular nos dois últimos jogos particulares da equipa das quinas, na passada semana, frente à Hungria - duas vitórias, por 2-1 e 4-1 - e teve direito a uma entrada direta para a história do futebol feminino português.
Na companhia de Cláudia Neto, Ana Borges e Carole Costa, a médio recebeu do presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, uma lembrança comemorativa das 100 internacionalizações por Portugal.
"É um enorme orgulho. Continuamos em crescimento e a seguir o processo que temos trabalhado. Estamos focadas e com a máxima vontade de melhorar a cada jogo. Houve momentos positivos e outros aspetos que não correram tão bem, mas faz parte. O importante é que vamos trabalhar para melhorar nesses aspetos e potenciar tudo o que temos feito de bom", finaliza a jogadora, que já vestiu a camiola das 'Guerreiras' por 107 ocasiões.
Jogadora do Atl. Madrid foi homenageada juntamente com Ana Borges, Carole Costa e Cláudia Neto.© FPF