Sidnei, a 'pérola' lusa do Leicester: "Quero ser dos melhores do mundo"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o internacional sub-19 português fala da caminhada rumo à equipa principal dos foxes, do interesse dos 'tubarões' e das expetativas para o futuro.

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Carlos Pereira Fernandes
07/09/2020 08:07 ‧ 07/09/2020 por Carlos Pereira Fernandes

Desporto

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Uma das principais surpresas da pré-temporada do Leicester City dá pelo nome de Sidnei Tavares, médio português nascido em Cascais que, aos 18 anos, dá os primeiros passos na equipa principal do histórico emblema inglês.

A jovem promessa cumpre a décima temporada ao serviço dos foxes - equipa com a  qual assinou contrato profissional há cerca de ano e meio - e tem vindo a merecer a aposta de Brendan Rodgers, que, ainda recentemente, lhe teceu rasgados elogios.

"Na primeira parte, foi fantástico, tem qualidade e é um verdadeiro talento. Agora, temos de o colocar no próximo nível", afirmou aos jornalistas, após o triunfo no encontro de cariz particular com o Birmingham.

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o internacional sub-19 português não só agradece, como retribui os elogios do treinador. E fala, ainda, do percurso no Leicester City, do interesse de alguns dos maiores clube da Europa e das expetativas para o futuro.

Assinei o primeiro contrato profissional com o Leicester City e estou muito grato por isso

É internacional pelas camadas jovens de Portugal, mas é um desconhecido para a maior parte dos adeptos portugueses. Fale-me da sua história.

Nasci em Portugal, em Cascais, mas com cerca de oito meses eu e a minha família mudámo-nos para Inglaterra. Vim para Leicester, com o meu pai e a minha mãe. Depois, a partir dos oito anos, comecei a jogar futebol. Depois de um ano na minha primeira equipa [o Carib SSFC], o Leicester City chamou-me e, desde então, estou aqui.

Está desde muito novo em Inglaterra, mas fala português perfeitamente. Foi uma exigência da família?

Sim, claro. Falo inglês com os amigos e no clube, mas passei todos os verões em Portugal. Voltava para casa e falava português com a minha mãe e com o meu pai. Sempre me habituei a falar as duas línguas.

Sente-se mais português ou inglês?

Português, sempre português [risos]. 

Como é que foi aquele ano que passou no Carib SSFC, antes do Leicester City?

Foi o meu primeiro clube de sempre. Joguei por acidente, eu não queria o Carib, calhou estar lá. Naquela altura, só queria jogar à bola normalmente, não pensava em nenhum clube. Estava com os meus primos e um deles jogava lá, então pensei: ‘Vou também’. Não era para jogar, era só para estar com eles. Mas estavam a precisar de um jogador, então entrei e disseram-me: ‘Ah, tu jogas muito bem, devias vir para aqui’. Eu disse que não tinha a certeza… Tinha uns seis ou sete anos, para jogar com os sub-9. Disse que tentava, voltei e fui o melhor jogador da equipa. 

O objetivo foi sempre jogar futebol? Nunca pensou noutra profissão?

Sempre quis ser jogador, foi o que disse à minha família. O meu pai sempre me disse que ia ter que fazer sacrifícios, porque a vida de futebol não é fácil. Mas, desde que comecei, nunca mais olhei para trás.

Faz agora dez anos que chegou ao Leicester City. Que tal tem sido esta caminhada?

Uma caminhada longa, claro… Há momentos bons, há momentos maus e há coisas que acontecem, mas tudo o que acontece, acontece por uma razão. Felizmente, estou num clube que conheço bem, com pessoas que conheço há muito tempo. Assinei o primeiro contrato profissional com eles e estou muito grato por isso.

Assinar o contrato profissional foi uma decisão simples de tomar?

Tive que pensar… Falei com o meu pai, analisei as minhas opções e os meus sonhos, se ficava em Inglaterra ou ia para outro país… Mas, no final, concluí que Inglaterra tem a melhor Liga que há, e o Leicester é um clube que está sempre a lutar pelo ‘top5’. Pensei que seria uma boa oportunidade e assinei contrato.

Notícias ao MinutoSidnei Tavares com Brendan Rodgers no treino do Leicester City© Getty Images

Brendan Rodgers é um dos melhores treinadores do mundo e saber que tem essa opinião de mim é uma honra muito grande 

Agora joga a médio. Foi sempre a sua posição?

Comecei como avançado, ponta-de-lança, mas, nos sub-14, meteram-me a defesa-central. Joguei metade da época lá. Entretanto, mudámos de treinador e comecei a jogar a médio-centro. Desde aí, joguei sempre na mesma posição. 

Para quem não o conhece, como se apresenta? Quais são os pontos fortes e fracos?

Os pontos fortes têm de ser o drible e a visão de jogo. Como sou médio-centro box-to-box, sou bom a correr. Sou alto, sou forte, tenho um bom pé esquerdo… Já a fraqueza… Sem bola não sou muito rápido, mas também não sou lento. Gostava de ser mais rápido.

Quais são as suas grandes referências nessa posição?

Gosto de ver Pogba. Sempre gostei de Zidane, Pirlo… Mas, se tivesse que escolher um, escolhia Pogba.

Como tem sido trabalhar com Brendan Rodgers?

Claro que todos os treinadores dão na cabeça dos jogadores jovens… Ele vê muito potencial em mim, quer que faça parte do grupo. Ele diz-me que estou a fazer muito bem as coisas com esta oportunidade que me deu. É um dos melhores treinadores do mundo e saber que tem uma boa opinião de mim é uma honra muito grande.

Ele elogiou-o bastante depois do jogo com o Birmingham. Esperava aquelas palavras?

Não… O meu pai mandou-me mensagem a perguntar se tinha visto as notícias. Quais notícias? Depois vi, e vi que estava a falar de mim. É um grande elogio de um dos melhores treinadores do mundo, e não há mais nada a dizer.

Sendo tão novo, como reage ao ver o seu nome na imprensa?

Não me interessa muito aparecer nas notícias ou nos jornais. Agora, o importante é concentrar-me no Leicester e na seleção, para chegar a um nível de topo e ser um dos melhores jogadores do mundo. É nisso que estou focado.

Notícias ao MinutoO médio português em ação no particular com o Sheffield Wednesday© Getty Images

A minha família é toda portista, por isso gostava de jogar no FC Porto

No ano passado, antes de assinar contrato, a imprensa inglesa dizia que estava insatisfeito por ainda não ter tido uma oportunidade na equipa principal…

Depende… Tenho muita confiança em mim, sei onde acho que devo estar. Vou sempre pensar o mais alto possível para mim. Quanto mais cedo chegar à primeira equipa, melhor para mim. Isso é o mais importante agora

Chegou-se a falar do interesse de clubes como PSG, Borussia Dortmund, Juventus… Chegou a falar com algum deles?

O mais importante é que, agora, estou focado no Leicester e na seleção, e também em mim. Claro que não posso dizer ‘não’ a essas equipas, mas, enquanto estiver no Leicester, só vou pensar no Leicester.

Na altura também se falou do FC Porto. Vê-se a jogar em Portugal?

Nunca pensei nisso. Se calhar, um dia pensarei (risos).

Há alguma equipa em particular onde gostasse de jogar?

A minha família é toda portista, por isso seria o FC Porto (risos). Mas se aparecesse Benfica ou Sporting, iria na mesma.

Como tem sido trabalhar com a equipa principal? Já estava à espera?

Sim, sim. Já na última época estive com a primeira equipa. Aliás, era o mais novo. Todos tinham entre 20 e 30, e eu tinha 17 anos. Já esperava, mas gostei de jogar pela primeira equipa, de apanhar o ritmo. Já provei que posso jogar na primeira equipa, estou preparado para ir para o próximo nível. 

Como foi entrar pela primeira vez no balneário, com jogadores de ‘peso’ como Jamie Vardy?

Foi fixe. Na academia já os víamos, já falávamos com um ou outro, como se fôssemos irmãos. Quando é preciso alguma coisa, eles estão lá para nós. Também já conhecia alguns, como o Ricardo. Todos me ajudaram muito. 

O Ricardo, sendo também português, tem ajudado nesta integração?

Sim, claro. O Ricardo sempre me ajudou. Somos os portugueses da equipa, falamos um com o outro. Ele está sempre a elogiar-me, diz-me coisas em que me pode ajudar. Para mim, ele é uma inspiração.

Sente que os jogadores portugueses são bem vistos em Inglaterra?

Os jogadores portugueses são bem vistos na Premier League, até porque têm demonstrado a qualidade que têm, como aconteceu com o Ricardo, o Bruno Fernandes… Toda a gente gosta dos jogadores portugueses aqui.

Já sabe se vai fazer parte da equipa principal na nova temporada?

Por agora, não sei de nada, limito-me a treinar. Na próxima semana, vamos ver se fico na primeira equipa.

Quais são os objetivos da equipa para esta época?

O objetivo é fazer melhor do que na última. Estivemos a lutar pela Liga dos Campeões, infelizmente não conseguimos lá chegar porque perdemos com o Manchester United no último jogo da época. O mais importante agora é focarmo-nos na Liga Europa e ficar no ‘top4’ de Premier League.

Custou-lhe assistir a partir de fora àquela luta pela Liga dos Campeões?

Custou… Até porque quero fazer parte da equipa, quero dar o meu máximo, quero colocar o meu nome ali… Quero fazer o que sei, que é jogar futebol.

Notícias ao MinutoA jovem promessa ao serviço da seleção portuguesa de sub-19© FPF

Eu e a minha família sempre dissemos que queríamos jogar por Portugal

Quais são as metas individuais para esta época?

Quero fazer parte da primeira equipa e da seleção nacional. Depois, a partir daí, verei o que posso fazer. Quero marcar golos, fazer assistências e desempenhar bem o meu papel em campo. 

Olhando para o futuro, há algum clube no qual sonhe jogar?

Claro que há sempre o Real Madrid, o Barcelona… Toda a gente sonha jogar nessas equipas. Ninguém sabe o futuro, mas, se algum deles vier… Não se pode dizer que não (risos).

Falando agora da seleção. A prioridade foi sempre Portugal? Nunca pensou em representar Inglaterra?

Tive oportunidade de jogar por Inglaterra aos 15 anos. Treinei com eles, mas, a partir daí, nunca mais me chamaram. Depois, fui sempre chamado para os sub-18 de Portugal. Mas eu e a minha família sempre dissemos que queríamos jogar por Portugal.

Esteve no último jogo da seleção portuguesa de sub-19 antes da pandemia. Como viveu esta paragem tão longa?

Claro que para os profissionais é sempre difícil não jogar, não ver as mesmas caras que víamos antes… É difícil, mas o mais importante é estar focado. A paragem também está prestes a terminar, estamos quase a voltar para a nova época e só penso nisso.

Como é que que trabalhou durante esta pausa?

Trabalhava o meu físico todos os dias. Corria, ia ao ginásio, trabalhava os pontos fracos, relaxava também em casa com a família e pensava nos objetivos para a próxima época.

Se não fosse a pandemia, estaria mesmo agora a começar o apuramento para o Campeonato da Europa de sub-19…

Sim, é verdade. Com Portugal, sendo uma das melhores equipas do mundo, o objetivo é sempre ganhar.

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