O virologista Pedro Simas considerou hoje possível que o treinador Jorge Jesus já tivesse uma infeção respiratória provocada por um vírus ou uma bactéria, habitual nesta época, quando foi infetado pelo novo coronavírus, para o qual testou positivo na quinta-feira.
"É possível que tenha sido uma coincidência, que já tivesse uma constipação provocada por um vírus ou bactéria, e contraído uma infeção respiratória. O mais provável é que tenha sido infetado com o SARS-CoV-2, depois disso", disse Pedro Simas à agência Lusa, acrescentando: "É muito natural que isso possa acontecer a muita gente".
O virologista lembrou que atendendo à época do ano "se vive a fase crítica das infeções respiratórias", alertando para o facto de "o potencial pandémico do SARS-CoV-2 lhe permitir começar a ser contagioso antes dos sinais clínicos, que em muitas pessoas nem chegam a aparecer".
Pedro Simas admitiu também a hipótese, "menos provável", de o resultado positivo do treinador, anunciado na quinta-feira pelo Benfica, ser "um falso positivo".
"Só há cerca de 1% de probabilidade de ser um falso positivo, mas ela existe. Para haver certezas, o teste deve ser repetido passados um ou dois dias", afirmou.
O virologista voltou a lembrar que "as máscaras não oferecem 100% de proteção, pelo que, mesmo com máscara, a probabilidade de infeção é grande se não forem cumpridas outras regras".
"As máscaras ajudam muito, mas não podemos nunca esquecer a regra dos 'três cês': evitar contactos próximos, espaços fechados e espaços com muita gente (close contacts, close spaces, crowded spaces)", referiu.
Na quinta-feira, o Benfica informou que Jorge Jesus está infetado pelo novo coronavírus, esclarecendo que o técnico da equipa principal de futebol "apresenta um quadro clínico de infeção respiratória".
De acordo com o comunicado, Jorge Jesus, de 66 anos, teve sete testes negativos à infeção pelo novo coronavírus nas últimas duas semanas, mas "exames complementares de diagnóstico efetuados durante o dia de ontem (quinta-feira) no Hospital da Luz indiciaram um comportamento típico de infeção originado pelo novo coronavírus".
O clube reconheceu tratar-se de "um caso atípico, de índole rara", ressalvando que "há, contudo, evidência de situações similares em que, apesar de sucessivos testes negativos, o vírus é detetável somente ao fim de alguns dias, com o evoluir da infeção respiratória e o agravamento dos sintomas".
Já em 16 de março, quando treinava o Flamengo, Jorge Jesus teve um teste que revelou infeção pelo novo coronavírus, depois de um resultado "positivo fraco ou inconclusivo", tendo o próprio assegurado sentir-se "uma pessoa completamente normal, sem sintomas nenhuns". Dois dias depois, após novo despiste, o resultado do teste ao português já foi negativo.
O Benfica tem registado recentemente um elevado número de casos de infeção pelo novo coronavírus no plantel profissional, que afastou 10 jogadores da receção ao Nacional, na segunda-feira, para a 15.ª jornada da I Liga.
Desde o início da temporada, o Benfica já teve 21 jogadores infetados.