Rui Vitória garante guardar boas memórias da passagem pelo Benfica. O treinador português, que agora vai orientar os russos do Spartak Moscovo, não esconde o orgulho pelos títulos conquistados na Luz, mas também salienta os jovens jogadores da formação que foram sendo lançados na equipa principal durante a sua estadia.
"Provavelmente, consegui realizar tudo o que um clube espera do treinador: ganhar títulos, ter o estádio quase sempre cheio e valorizar os jogadores da formação. Ou seja, houve rendimento desportivo e financeiro. Aliás, há aqui um ponto que nunca podemos perder de vista para analisar o trabalho do treinador: a relação entre investimento e rendimento desportivo. Nesse sentido, o saldo que deixei no Benfica foi francamente positivo", começou por contar, no testemunho ao The Coaches Voice, prosseguindo.
"Tive a oportunidade de lançar alguns jogadores da formação. Era um desejo do clube que coincidia com a minha vontade. Decidimos em conjunto que era a hora de arriscar, de colocar cinco ou seis jovens em ação. É preciso haver sintonia nessas decisões. Não adianta só o clube querer. Ou só o treinador. É preciso partilhar a mesma visão. Assim, jogadores como João Félix e Renato Sanches, entre outros, passaram a ter mais protagonismo", explicou o treinador português, antes de aprofundar como geriu a evolução de João Félix.
"No caso do João, pouca gente sabe de todo o trabalho feito na formação. No ano anterior ao que integrou a equipa principal, decidimos que ele iria jogar a fase final do campeonato de juniores. O João estava na equipa B, mas optámos por sua volta à base na fase final da competição. Queríamos dar um último retoque antes que se afirmasse no futebol profissional. Acabou por ser o artilheiro daquela fase, com o Benfica a ser campeão nacional da categoria. O talento do João Félix é daqueles raros de se ver nos jovens. Ele toma decisões de forma rápida e eficiente. Eficiência é fazer as coisas bem feitas com o menor gasto possível de energia. O João nunca foi de perder tempo. Tem a capacidade de encontrar a melhor solução para a jogada com muita maturidade. O jovem normalmente gosta de adornos. Quer colocar o laço no embrulho. O João recebia a bola e pronto: golo. Mas, ele só veio a ganhar um grande protagonismo depois de eu sair do Benfica. Já com o Bruno Lage no comando. Para mim, o João rende melhor no corredor central. E nós estávamos a jogar num 4-3-3 bem definido: com um trinco, dois médios, dois homens abertos e um ponta de lança. Tínhamos mudado o sistema no início da temporada. Quando saí, o novo treinador mudou novamente o sistema, que acabou por ser ideal para tirar o melhor do João Félix", recordou Rui Vitória.