Luís Mata terminou, no último verão, a ligação com o FC Porto ao fim de 14 anos para se aventurar no futebol polaco, ao serviço do Pogon Szczecin. Depois de uma época que terminou da melhor maneira para o jogador português de 23 anos, o balanço coletivo e individual só podia ser positivo.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Luis Mata confessa que o início da aventura na Polónia não foi fácil, mas garante estar, agora, totalmente adaptado ao país.
O antigo capitão da equipa B do FC Porto elogia a continuidade de Sérgio Conceição no comando técnico dos dragões e deixa, ainda, elogios aos antigos colegas Fábio Vieira e Vitinha, com quem jogou e que brilharam recentemente ao serviço da seleção de sub-21 no Europeu.
Como descreve esta primeira época na Polónia, ao serviço do Pogon Szczecin?
Posso dizer que acabou por ser uma época com duas partes distintas. Tive uma primeira parte, no período inicial, que foi adaptação e na qual que vinha de lesão. Tivemos, ainda, aqui duas quarentenas na Polónia, por causa da Covid-19. A primeira passei no hotel e a segunda já na minha casa. Depois, quando volto e começo a ter as primeiras oportunidades, também sofro um toque e volto a lesionar-me. Ou seja, até dezembro foi complicado, embora estivesse a gostar do clube e dos meus colegas de equipa. Por outro lado, começou tudo a correr muito bem em janeiro, depois da pausa de inverno. A partir daí, comecei a jogar e fiz todos os jogos até ao final da época. É sempre melhor acabar bem do que começar bem. Ficámos em terceiro lugar, conseguimos a qualificação para a Liga Conferência Europa, e o balanço só pode ser positivo.
Brązowi medaliści mistrzostw Polski 2020/21! 🥉#MojaPogoń pic.twitter.com/EV4h0RtDDw
— Pogoń Szczecin (@PogonSzczecin) May 16, 2021
Como foi lidar com esses dois períodos de quarentena tão longe de casa e num país novo?
A primeira, no hotel, foi muito complicada. Estava sozinho no quarto e não podia sair. Tinha de pedir alimentação pelo telefone e iam deixar à porta do quarto. Mandaram-nos bicicletas para fazermos os treinos por vídeo, mas, como não conhecia muito bem a equipa, foi tudo mais difícil. Na segunda quarentena, já tudo foi mais fácil. Já estava na minha casa na Polónia e com a minha namorada a viver comigo. É sempre chato, mas, tendo mais espaço, é sempre melhor.
Houve certos momentos em que nem senti que estava no estrangeiro
Agora já se sente totalmente adaptado à Polónia?
Sim, claro. Apesar daquele início complicado, adaptei-me bem. A cidade e o país são agradáveis. Sinto-me adaptado, ainda que não domine a língua. No entanto, como falo inglês, tudo fica mais fácil. Além disso, no clube, o treinador fala alemão e os adjuntos também. É tudo feito em inglês e isso facilita muito a minha tarefa. Se fosse tudo em polaco, seria tudo mais complicado para mim.
Também tinha outro português na equipa, o Tomás Podstawski...
O Tomás e o Luka Zahović [filho de Zlatko Zahovic, antigo jogador esloveno que jogou no Vitória SC, Benfica e FC Porto], que fala português fluente. Ele viveu os primeiros 12 anos da vida em Portugal e o português dele até tem sotaque de Lisboa [risos]. Estivemos sempre os três muito juntos ao longo da época. Fizemos ali um trio e isso também me ajudou muito a adaptar. Mesmo fora da equipa, jantávamos fora com as nossas namoradas e íamos passear. Houve certos momentos em que nem senti que estava no estrangeiro, e isso também foi graças a eles.
Pogon e Legia Varsóvia são as duas equipas que fogem à regra do futebol polaco
Como descreve o futebol polaco? Há quem diga que é demasiado físico.
Percebo essa ideia, mas nem sempre é assim. Aqui, eles ligam muito aos números e a quantos quilómetros corres nos jogos. Ou seja, se não estiveres preparado fisicamente, é muito difícil conseguires adaptar-te. As equipas correm mesmo muito e futebol é muito direto. Não é tão tático como em Portugal. No entanto, a nossa equipa não entra neste estilo de jogo. Pelo contrário. Na maioria dos jogos, somos a equipa com mais posse de bola, e isso favorece as minhas capacidades, até porque fui habituado a jogar assim no FC Porto: jogo mais pensado e com mais posse de bola. No Pogon, temos jogadores com muita qualidade e que gostam de ter a bola. O treinador soube aproveitar isso. Mas, sim, no resto do campeonato não é assim. Acho que o Pogon e o Legia Varsóvia são as duas equipas que fogem à regra do futebol polaco.
O apuramento para as competições europeias era um objetivo desde o início da época?
Bem, se me perguntassem isso no início da temporada diria que não. Diria que o objetivo seria o top8 ou top6, mas, a partir do momento em que comecei a conhecer as outras equipas e a ver o nosso futebol... Terminámos em terceiro lugar, mas podíamos ter ficado em segundo ou até mesmo em primeiro, sendo que aí seria sempre mais difícil. O segundo lugar esteve à vista, mas o terceiro lugar foi histórico, porque desde 2012 que o Pogon não ficava no pódio. Optei por este clube porque está em crescimento. O estádio está em fase final de construção e há quatro campos de treino. É um clube que está em crescimento em todos os aspetos. As condições de trabalho estão a melhorar e o clube está a ficar estável. É um clube para se afirmar na Polónia e começar a ser presença recorrente na Europa.
Não há treinador que esteja mais identificado com o FC Porto do que Sérgio Conceição
Posso então presumir que vai continuar, seguramente, no Pogon para a próxima temporada?
No futebol, nunca temos a certeza de nada, mas diria que acho que há 95% de possibilidades de ficar no Pogon. Para não dizer mais [risos]. Quero uma época estável e depois penso no futuro.
Passou toda a formação no FC Porto e saiu como capitão da equipa B. Como viu esta renovação de contrato de Sérgio Conceição?
Eu diria que era algo natural, mas cheguei a pensar, pelas notícias que fui lendo, que ele ia mesmo sair. Agora, não estou muito por dentro, mas acho que a continuidade dele acaba por ser natural. Não há treinador que esteja mais identificado com o FC Porto do que o Sérgio. Não existe. O Sérgio sabe bem o que se passa no clube e é uma figura do clube. Por outro lado, já conhece os cantos à casa. É um excelente treinador para o FC Porto. Acredito que foi uma boa escolha.
Ficou surpreendido com o bom desempenho de Diogo Leite, Diogo Costa e Fábio Vieira no Euro de sub-21?
Já esperava. Joguei com todos e a qualidade sempre esteve lá. O Fábio Vieira é um jogador diferente do Vitinha, mas pode chegar aos melhores palcos do mundo. Se tiver os pés assentes na terra e se trabalhar a parte mental, pode chegar muito longe. Foi o melhor jogador do torneio, e o FC Porto pode aproveitar isso. O Sérgio Conceição pode aproveitar muito bem o talento do Fábio Vieira. Desses três, acho que o Fábio Vieira pode chegar a um nível muito elevado e ser muito importante para o FC Porto e para a seleção nacional.
Vitinha vai ter futuro risonho. Pela qualidade e pela cabeça que tem
Também tivemos o Vitinha em grande plano, alguém a quem sempre reconheceu enorme talento...
Falando do Vitinha e do Fábio Vieira, eu já tinha dito, anteriormente, que a minha aposta seria o Vitinha. Ele também merecia o prémio de melhor jogador do Euro de sub-21. Na final, não esteve tão bem, mas, nos dois jogos anteriores, esteve num nível altíssimo. Acredito que o Vitinha vai ter um futuro muito risonho. Pela qualidade e pela cabeça que tem.
No caso do Vitinha, o futuro dele ainda não está esclarecido. O Wolverhampton ainda não acionou a opção de compra e fala-se num possível regresso ao FC Porto. Qual seria a melhor opção para ele?
Pois, são duas boas opções para ele. Por um lado, já está adaptado à Premier League, mas por outro lado já está mais experiente e podia ajudar o FC Porto. Pela qualidade dele, qualquer opção é boa opção para ele. Acima de tudo acredito que o Vitinha vai singrar onde quer que esteja.
O Euro'2020 já começou. Como tem sentido os polacos em relação a esta seleção, agora orientada por Paulo Sousa?
No último Euro, perderam com Portugal nos quartos-de-final por penáltis. Eles sentem que aquele jogo poderia ter caído para o lado deles. Os meus colegas falam nisso. Acreditam que podem fazer melhor neste Euro'2020. Estão confiantes de que podem passar, pelo menos, a fase de grupos. Tenho lá um colega, o Kozłowski, que é um miúdo de 17 anos. Vou torcer por ele. Tem muita qualidade. Aos 17 anos, está num Campeonato Europeu. Isso diz tudo.
O que podemos esperar da seleção polaca?
Primeiro que tudo, são jogadores com muito trabalho físico. Mas, neste momento, com o Paulo Sousa, são uma seleção que gosta de ter bola e que tem o Lewandowski na frente. Há qualidade e jogadores muito bons, que jogam em Itália, Inglaterra e Alemanha. Agora, com o toque do Paulo Sousa, podem ser ainda mais perigosos. Também gostava de realçar que eles estão a começar a apostar cada vez mais na formação. A Polónia tem 40 milhões de habitantes, portanto, há talento. Basta melhorar o processo de formação.
A nossa seleção é a melhor a par de França
E em relação à nossa seleção? Tem algum prognóstico?
Revalidar o título de campeão europeu será sempre muito difícil porque há muitas boas seleções. Agora, se olharmos para a qualidade individual, a nossa seleção é a melhor a par de França. Mas, atenção, o grupo será muito difícil, até porque duas seleções jogam em casa. A chave vai ser sempre passar o grupo. A qualidade está toda lá, mas isso às vezes não quer dizer nada. No Euro'2016, não havia pressão, mas agora a pressão existe. Temos qualidade para chegar até à final, mas também é preciso ter aquela pontinha de sorte que tivemos em 2016.
Luís Mata fez um total de 18 jogos na primeira época na Polónia. © Reprodução Twitter Pogon
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