"Essa notícia vai ser dada dentro de duas semanas, preferia não estar a falar já sobre esse assunto porque é ainda um tema muito sensível. Durante esse tempo vai haver uma mistura grande de ideias, dúvidas e certezas e tenho que entender o corpo", afirmou o ala de 36 anos, acrescentando que vai falar com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) porque quer "estar na seleção sendo útil e não ser apenas mais um atleta", já que o "nome não joga".
Numa cerimónia com cerca de uma centena de pessoas na assistência, Ricardinho subiu ao palco emocionado para receber Medalha de Honra do Município e agradeceu à família e aos dois primeiros treinadores -- o de futebol e de futsal --, entregando ao seu pai a medalha de ouro conquistada na Lituânia no dia 03 de outubro.
"A minha mãe sempre foi a líder da casa, fez-me aprender muitas vezes sozinho qual o caminho do sucesso. A palavra mais forte vai para o meu pai: inconscientemente foi a pessoa que mais me inspirou para superar a batalha de uma lesão muito forte no tendão com 36 anos, em que muita gente dizia que estava acabado, e o meu pai fez-me acreditar que era possível", revelou.
"O meu pai perdeu uma perna há muitos anos, continuou e lutou pela vida, adaptou-se e foi isso que fiz: adaptar-me para ser o Ricardinho que sou agora. Não ia ser o driblador, o do 'cabrito', dos golos impossíveis, mas fui batalhador, dei tudo pelo país e sou orgulhosamente português e gondomarense", prosseguiu.
À margem do momento de homenagem, em declarações aos jornalistas, o seis vezes melhor jogador do mundo de futsal explicou a emoção de poder voltar à terra onde tudo começou e perceber que conseguiu "chegar do bairro ao topo do mundo", aproveitando para inspirar "cada menino a acreditar que pode lá chegar".
"A cada dia que passa temos mais noção daquilo que fizemos. Conseguimos conquistar o mundo entre 150 seleções, isso é ser o melhor dos melhores e é incrível. Jogámos com duas seleções -- na meia-final (Cazaquistão) e final (Argentina) -- a quem não tínhamos ganho uma única vez, conseguimos fazer daquela maneira, a sofrer. Foi mesmo à português", vincou.
A FPF recebeu também a mesma condecoração por parte do município e o presidente do órgão, Fernando Gomes, enalteceu o trabalho realizado pela sua equipa, que começou há 10 anos, e pela sinergia criada com a cidade de Gondomar, que classificou como a "sala de estar do futsal português".
"Ganhar uma medalha do mundo numa modalidade global é um feito cuja dimensão levaremos tempo a entender, um feito que começa nas mães e pais, em cada um que incentiva os filhos a fazer desporto, segue pelos clubes e dirigentes que permitem que as luzes se liguem nos pavilhões para que raparigas e rapazes pratiquem desporto. Portugal só viverá mais momentos como o que tivemos na Lituânia se tiver a humildade de, em vez de olhar para o céu quando ganha, olhar para a sua base e pirâmide", disse.
Sobre aquele que considera ser o "melhor jogador da história de futsal", Fernando Gomes destacou a recuperação da lesão grave em seis meses e sublinhou o papel de cada um do "grupo lutador" escolhido por Jorge Braz que mudou a mentalidade desportiva portuguesa.
"Agora sabemos como ganhar, ficou para trás a ideia errada de que era impossível", finalizou.
Também presente na cerimónia, o secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo, acentuou o papel do município que foi Cidade Europeia do Desporto em 2018, elogiou Ricardinho como "um orgulho para todo o país" e lançou-lhe o desafio de voltar para o próximo Campeonato Europeu.
Por seu lado, o presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins, realçou a FPF como "parceiro ativo" da cidade e a entrega da segunda condecoração do município ao "orgulho e herói" da terra: Ricardinho.