O que todos temíamos acabou por acontecer. Depois de ter estado ausente dos nossos pensamentos desde o Europeu 2016, passando pelo Mundial 2018 e até o Europeu 2020, a calculadora voltou para fazer sofrer os portugueses, e obrigar-nos a contas e playoffs que pareciam desaparecidos. Mas afinal não.
Na Luz, contra a poderosa Sérvia que já tinha causado problemas em março do ano passado, Fernando Santos procurava continuar a evitar esses cálculos, mas o inevitável e nada inesperado acabou por levar a equipa das quinas para um playoff. A Sérvia, que tinha mesmo que fazer pela vida para conseguir o lugar de apuramento direto, venceu o campeão europeu de 2016, numa vitória justa e merecida para a equipa que mais fez para sair com os três pontos do estádio da Luz.
O conjunto luso pouco ou nada jogou ao longo dos 90 minutos. O golo madrugador de Renato Sanches, logo aos dois minutos, animou as bancadas de um estádio da Luz recheado de apoio aos nossos jogadores, e parecia indiciar um caminho para um jogo tranquilo rumo ao Qatar, mas não poderíamos estar mais errados nesse pensamento.
Depois da paupérrima exibição na Irlanda, onde Fernando Santos fez muitas poupanças a pensar neste encontro decisivo, as 'pilhas' da seleção nacional duraram cinco minutos. Renato Sanches e Bernardo Silva foram os mais inconformados nos minutos iniciais, mas, depois disso, tudo mudou. Era preciso um Portugal controlador, e que anulasse as hipóteses da Sérvia, sempre perigosa no ataque, almejasse marcar os dois golos que valessem a subida ao primeiro lugar. Mas tudo correu mal.
O golo conseguido madrugador, e o conforto no resultado, fez com que os lusos entregassem a iniciativa do jogo, recuando as linhas e jogando para um resultado perigoso, dada a potência ofensiva do adversário. Cancelo e Nuno Mendes, normalmente muito ativos no ataque, quase não passavam da linha do meio campo.
Adivinhava-se uma igualdade. Depois da 'oferta' dos sérvios no golo de Renato Sanches, Rui Patrício decidiu retribuir a gentileza do adversário, quando, aos 33 minutos, Dusan Tadic disparou forte à entrada área, levando a bola, depois de desviar em Danilo, a passar por baixo do corpo do guardião.
Portugal sentiu sempre dificuldades para contrariar o jogo da Sérvia, e a inércia que existiu no primeiro tempo, e que exigia mudanças ao intervalo, acabou por se perpetuar para a etapa complementar. Fernando Santos estava mais preocupado em segurar o empate, tal como havia acontecido em Dublin, e prova disso são as entradas em campo de Palhinha e Bruno Fernandes, recuando Danilo para o eixo defensivo, entre José Fonte e Rúben Dias.
O dito popular costuma dizer que quem joga para o empate acaba mesmo por sofrer. E foi o que aconteceu. Com o passar dos minutos, e quase sem incomodar a baliza adversária, Portugal colocou-se cada vez mais a jeito de sofrer o segundo e de comprometer o apuramento direto, algo que acabou por acontecer, e, por mais que nos custe dizê-lo, de forma muito merecida.
A Sérvia lutou mais do que Portugal para fazer o segundo golo, e viu o seu esforço premiado com um cabeceamento certeiro de Mitrovic em cima do minuto 90, para aquela que foi a primeira vitória dos balcânicos sobre a turma nacional. Era o fim da linha para Portugal, e aparecia a bóia para os playoffs que acontecem em março do ano que vem. Agora, é preciso passar esses dois jogos para que o túnel rumo ao Qatar volte a ganhar Luz. O primeiro jogo desta fase não poderá contar com João Cancelo e Renato Sanches, que cumprem um jogo de castigo.
Mas vamos às notas deste encontro:
Figura
Dusan Tadic foi o homem deste encontro. Naquele que era um jogo decisivo para as duas equipa, o jogador do Ajax foi o homem mais desequilibrador do lado dos sérvios. Criou várias oportunidades e procurou sempre os espaços deixados pela defesa lusa, quebrando a resistência com um remate que deu em golo. Já no segundo tempo, fez a assistência para o golo de Mitrovic.
Surpresa
Renato Sanches foi um dos jogadores mais esclarecidos no lado português. Surpresa no onze titular, o médio do Lille fez por justificar a aposta de Fernando Santos, e marcou o golo da equipa nacional. Mas a sua magia e entusiasmo pouco fizeram a diferença dentro de uma equipa que viveu uma onda de quase inércia desde o apito inicial.
Desilusão
Noite para esquecer de Rui Patrício. Apesar de algumas saídas pelo ar que foram positivas, não podemos deixar de dizer que o guarda-redes teve culpas no golo do empate. Apesar de um desvio em Danilo, o guardião português devia ter feito um pouco melhor nesse lance.
Os treinadores
Fernando Santos
O selecionador nacional tem à sua disposição um dos melhores grupos de jogadores dos últimos anos, e por isso é difícil de perceber como deixou escapar este apuramento no último suspiro. A equipa das quinas era a favorita a vencer o grupo, mas não cumpriu os serviços mínimos. A fraca qualidade de futebol apresentada neste jogo, assim como na Irlanda, justificam a ida ao playoff.
Dragan Stojkovic
Sem uma equipa tão forte como a portuguesa, os sérvios mostraram que traziam a missão bem estudada, conhecendo de ponta a ponta todas as fraquezas da equipa de Fernando Santos. O golo madrugador sofrido não retirou qualquer alma aos sérvios, que reagiram bem a essa adversidade e asseguraram de forma merecida o bilhete direto para o Mundial'2022.
Arbitragem
Daniele Orsato optou por ter um critério mais largo, o que favoreceu o ritmo de jogo e não obrigou a tantas paragens. Esteve bem na decisão dos lances que criaram mais dúvidas.
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