Tote António Gomes, mais conhecido como Toti Gomes, chegou ao Wolverhampton em 2020, mas só neste mês de janeiro conseguiu a tão desejada oportunidade de representar o emblema inglês na Premier League.
Após ter passado pelo Estoril, o jovem defesa foi contratado na temporada passada, mas acabou por ser imediatamente emprestado aos suíços do Grasshopper, clube onde se manteve durante uma temporada e meia. Neste mercado de inverno, Toti Gomes viu o seu empréstimo ser interrompido e a razão não poderia ter sido melhor: passar a ser opção de Bruno Lage no principal escalão inglês.
O central português foi titular pelo Wolverhampton nos dois últimos jogos, diante de Southampton e Brentford, que culminaram em dois triunfos da equipa 'mais portuguesa' de Inglaterra.
Em conversa com o Desporto ao Minuto, João Carlos Pereira, treinador que trabalhou com o jogador na temporada passada, no Grasshopper, abordou o crescimento de Toti Gomes e o papel preponderante assumido dentro das quatro linhas.
O técnico de 56 anos, que chegou a comandar temporariamente a Académica na presente temporada, salientou a importância da passagem do jogador pelo campeonato suíço para que todo o contexto de evolução o levasse ao patamar atual.
"Tudo é possível quando os jogadores têm a mentalidade adequada. Quando o Wolverhampton o contratou, foi com uma ideia de prazo e num enquadramento de potenciar e desenvolver as suas características. O empréstimo ao Grasshopper foi importante porque ele teve a oportunidade de crescer numa competição diferente, altamente exigente. E nós tivemos alguma interferência nisto ao trabalhar diariamente com um jogador de futebol que estava disponível para nos ouvir, para refletir sobre os erros, tentar evoluir, tentar perceber o que podia acrescentar e desenvolver objetivos no seu processo de crescimento semanalmente", reconheceu João Carlos Pereira.
"Não tem de parar por aqui, ainda tem muito mais para dar. Nunca é tarde para começar a tornar-se um especialista e creio que, até ao final da carreira, é sempre possível dar saltos ou ir evoluindo no sentido de se tornar ainda mais competitivo, mais competente, mais capaz, mais conhecedor do jogo. Aquilo que ele conseguir no futuro será uma consequência do investimento que fizer no seu trabalho diário", acrescentou o técnico português.
No Grasshopper, Toti foi utilizado em 36 dos 37 jogos da equipa e João Carlos Pereira reconheceu a importância que o defesa tinha dentro do modelo de jogo praticado: "Nós começamos a olhar para o jogador e a fazer um diagnóstico daquilo que são as características e as capacidades, mas começamos também a construir uma visão daquilo que poderá dar no futuro, enquadrando numa ideia de jogo e, naturalmente, consegui logo detetar que ele tinha um perfil excecional para a posição e que ia acrescentar valor à equipa", afirmou.
O treinador português de 56 anos não hesitou em apontar as características que mais diferenciam Toti dentro das quatro linhas: "A primeira é o facto de ser um canhoto a jogar do lado esquerdo do eixo defensivo, porque tem naturalmente vantagens em termos de orientação corporal e do jogo. É um jogador que tem um poderio físico determinante e tem uma mentalidade tremenda. É um campeão na verdadeira aceção e ganhador nos duelos, tem muita ambição, é muito discreto e acho que se pode libertar ainda mais para ter um papel mais importante nas dinâmicas sociais. O Toti é muito respeitado pelo impacto e por tudo o que aportava à equipa. Se assumir um papel de liderança maior, isto pode torná-lo num jogador ainda mais completo, sobretudo pela forma como foi compreendendo a lógica do jogo e as exigências que o campeonato suíço lhe ia colocando", atirou.
O mais recente regresso do jovem atleta ao Wolves foi, naturalmente, tema de conversa. João Carlos Pereira foi desafiado a avaliar o modo de adaptação de Toti às ideias e ao sistema tático de Bruno Lage, principalmente tendo em conta a intensidade do campeonato inglês, mas não teve dúvidas quanto à afirmação do central.
"Eu creio que o enquadramento técnico-tático, no modelo de jogo e na ideia de jogo, não é diametralmente oposto àquilo que nós propúnhamos no Grasshopper. Pelo contrário. É na linha daquilo que nós propúnhamos. Todos os conteúdos e conceitos que trabalhou vão-lhe ser extremamente úteis para se integrar neste contexto, agora. Creio que se terá de adaptar às próprias particularidades e à matriz da Premier League, porque na realidade é uma matriz de jogo e de competição diferentes. Não tenho dúvidas de que a intensidade de jogo é superior, mas é uma questão de tempo e de oportunidades, dado que tudo se tornará mais fácil se ele continuar a ter oportunidades ou se as merecer naturalmente", afirmou.
Os dois jogos em que Toti alinhou recentemente pelo Wolverhampton, ambos na condição de titular, mereceram um comentário do técnico, que destacou o lado defensivo do jogador e confessou que poderá dar ainda mais no aspeto ofensivo: "Foi um Toti um pouco na linha daquilo que eu conheço, mas mais conservador, sem se expor muito. Do ponto de vista defensivo muito sólido e muito consistente, a dar ao jogo aquilo que o jogo lhe pede. Mas creio que ele vai ganhar mais confiança e entender melhor os seus colegas de setor, vai começar a ter também um maior desempenho do ponto de vista ofensivo e na construção da globalidade do jogo em si,", confessou.
Por fim, João Carlos Pereira abordou ainda a forma como Toti poderá encarar a pressão de um campeonato como o inglês: "O desejo e a ambição de vencer vai superar certamente todos esses momentos de pressão, de indecisão, de indefinição ou de dúvida. Acho que é mentalmente forte e não tenho dúvidas que podem haver momentos menos positivos, mas as pessoas que o rodeiam (staff e colegas) podem ajudá-lo de uma forma determinante a superar os obstáculos", finalizou.
Toti conquistou um lugar entre os principais eleitos de Bruno Lage, soma duas titularidades consecutivas e começa a destacar-se como mais um luso talento a emergir no Wolverhampton.
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