Medeiros alerta para danos na imagem do desporto após o Clássico

O CEO da Sport Integrity Global Alliance (SIGA) considerou hoje que a violência verificada no 'clássico' entre FC Porto e Sporting não dignifica "o nome de Portugal" e criticou a ausência de tomadas de posição das entidades nacionais.

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Lusa
24/02/2022 15:15 ‧ 24/02/2022 por Lusa

Desporto

I Liga

"Não podia estar aqui, no meu país, indiferente ao que se testemunhou no desporto português nas últimas semanas, mais concretamente no futebol. Não dignifica em nada o futebol, as instituições e as pessoas. E temos de ter a coragem de o dizer, não com silêncios cúmplices, não com omissões, mas com tomadas de posição. Não dignifica o nome de Portugal, cá dentro e lá fora, assistirmos a essa batalha tribal, não apenas verbal, mas de violência física", defendeu Emanuel Macedo de Medeiros.

O português, que fundou e dirigiu a Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional, mencionou os incidentes registados no 'clássico' da 22.ª jornada da I Liga portuguesa de futebol, de 11 de fevereiro, durante o discurso que proferiu na cerimónia de entrega do SIGA Special Recognition Award ao presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, na sede daquele organismo, em Lisboa.

"Quando acaba de eclodir na Europa uma guerra de consequências imprevisíveis, este seguramente não é o momento para hipocrisias. É o momento para falar verdade, para liderança e afirmação daquilo que ela deve significar", disse, perante um plateia na qual se encontrava o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Pedro Proença, ou o diretor de Federação Portuguesa de Futebol João Vieira Pinto.

Emanuel Macedo de Medeiros assumiu, contudo, que aquele não o momento "para uma abordagem mais profunda do tema".

Igualmente presente na cerimónia, o secretário de Estado da Juventude e Desporto esclareceu, à margem, o papel do Governo, recordando que tem reiteradamente lembrado "aos intervenientes mais diretos [no futebol] que eles vivem da imagem que a atividade que desenvolvem também deixa".

"Quando tantas vezes se fala da indústria do futebol, é bom que haja a preocupação de não matar o negócio. E não matar o negócio significa justamente exercer estes valores que foram tão amplamente falados [hoje, na cerimónia], da integridade, do respeito, da limpeza, do 'fair-play' que as coisas devem ter, e da exclusão de tudo o que são fenómenos que nada têm que ver com estes valores, seja a violência, a manipulação desportiva", enumerou João Paulo Rebelo.

O governante defendeu que "esses são princípios que têm que estar na cabeça, particularmente, dos dirigentes", mas também "de todos os agentes desportivos, dos jogadores, técnicos, árbitros".

"Nos últimos seis anos, não disse coisa diferente desta. Não é pelas minhas intervenções, ou a falta de intervenção de forma mais visível do ponto de vista mediático, que põe em causa justamente isto", sustentou.

O secretário de Estado notou que "ao Governo não cabe tutelar as modalidades", estimando que, "de resto, isso era uma coisa inaceitável".

"Às vezes, ouço alguns comentários a dizer que o Governo devia pôr mão nisto... o Governo a pôr mão nisto seria o quê? Organizar a competição desportiva? A esses devo lembrar-lhes, desde logo, que, quer a FIFA quer a UEFA, nunca mais aceitariam clubes e seleções nacionais a serem representadas nas suas competições. O principio da autonomia é absolutamente essencial. A responsabilidade da organização está muito bem definida", argumentou.

O governante sublinhou ainda que "os responsáveis estão a trabalhar" sobre os incidentes no 'clássico'.

"Nós temos sempre um afã imenso de querer logo, no dia seguinte, na hora seguinte, as consequências. Elas têm vindo a ser conhecidas. Diria que as instituições estão a funcionar. Agora, por mais que estejam a fazer esse trabalho, cabe à responsabilidade de cada um evitar momentos [...] em que ninguém fica bem na fotografia", concluiu.

O FC Porto-Sporting, que terminou empatado 2-2, ficou marcado por incidentes no relvado do Estádio do Dragão, no Porto, que levaram às expulsões de Palhinha, Tabata, Marchesín e Pepe já depois do jogo.

Palhinha foi castigado com três jogos de suspensão, Marchesín com dois e Tabata e Pepe foram suspensos provisoriamente por dois, por agressões a diretores da equipa adversária, sendo ambos alvo de processos de inquérito.

O mesmo sucede com os dirigentes Hugo Viana, do Sporting, e Luís Gonçalves, do FC Porto, que entraram "no terreno de jogo para provocar um conflito com um adversário", enquanto enfrentam uma suspensão preventiva de 20 dias.

Foi ainda instaurado um processo de inquérito a vários incidentes, como o arremesso de objetos por parte de apanha-bolas, o comportamento de elementos de apoio à organização do jogo (ativações publicitárias), e o Sporting anunciou que iria apresentar uma queixa-crime contra Sérgio Conceição, Vítor Baía e Rui Cerqueira, por "agressões verbais e tentativas de agressão física" ao presidente do clube, Frederico Varandas.

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