Paulo Fonseca chegou na noite desta segunda-feira a Portugal, depois de ter estado os últimos dias a tentar deixar a Ucrânia, país que foi invadido pela Rússia. O treinador português integrou o voo de repatriamento do Governo que trouxe 38 cidadãos portugueses, luso-ucranianos e familiares vindos de Bucareste, na Roménia, e que aterrou às 23h15 no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
"Obviamente estamos exaustos. Foram muitas horas de viagem. Gostaria de agradecer ao Shakhtar, que nos acolheu durante alguns dias, à Embaixada portuguesa, que sem ela não estaríamos aqui. Foram eles que nos transportaram de Kiev para a Roménia e que nos ajudaram na fronteira. E quero fazer um agradecimento muito especial a uma pessoa que estava em Portugal e que esteve sempre preocupado connosco, o senhor presidente da FPF, Fernando Gomes. Devemos o nosso obrigado", começou por dizer Paulo Fonseca, em conferência de imprensa.
"Foi um alívio para mim e para a minha família, mas custou-me muito deixar aquele povo que está a lutar de forma heroica. Custou-me muito ver o que se passava em Kiev e o pânico que senti. Sinto uma tristeza muito grande", admitiu.
Como tudo começou: "Nós tínhamos viagem programa para as 10 da manhã de quinta-feira. Íamos fazer um voo com ligação à Suíça e às quatro da manhã começámos a sentir as bombas a cair em Kiev. Entrámos em pânico e só tivemos tempo de pegar nas malas e sair para a rua. Ainda tentámos de sair de Kiev nesse momento, mas o trânsito era tanto que não conseguimos. Depois, ficámos no hotel com o Shakhtar. O momento em que sentimos mais medo foi quando sentimos as bombas a cair perto de nós. Foi naquele momento que percebemos que a guerra tinha começado."
O que deixa na Ucrânia: "Eu não tenho palavras para descrever o que se passa na Ucrânia. Aquele povo está a sofrer, mas está a lutar tanto para defender à sua pátria. E o presidente é o primeiro. Ainda hoje vi que havia uma lista enorme de pessoas para ajudar o exército. O que se está a passar na Ucrânia é único. Vai ser difícil para aquele povo, mas acho que eles já ganharam esta guerra."
O percurso da fuga: "Obviamente que vimos as colunas militares, ouvimos as sirenes, vimos alguns aviões a passar... A viagem foi longa e sempre com aquele sentimento de perigo. Isso foi o pior. Depois, o trânsito era enorme, havia filas em todo o lado. Não havia comida nem gasolina. Foi difícil por isto. Sentimos sempre que estávamos em perigo. É um misto de emoções. Por um lado consegui trazer a minha família, mas por outro lado eles deixaram lá praticamente tudo. Tenho uma grande ligação à Ucrânia. Tenho lá casa e estava lá a viver. Estivemos sempre escondidos num bunker. Acho que o pior começou a acontecer quando saímos de Kiev. Foi nessa altura que as coisas começaram a piorar."
A ajuda da Europa: "Acho sinceramente que a comunidade internacional tem feito muito para ajudar a Ucrânia, mas sinto que é manifestamente insuficiente para salvar a vida daquelas pessoas. Sinto que há algo mais a fazer."
Futebol em segundo plano: "Até me esqueci do futebol. Não tenho pensado na minha carreira. Quero regressar na próxima época, mas agora não penso nisso. Aos portugueses que ainda estão na Ucrânia, a minha mensagem é que tenham esperança e que continuem a lutar. A saída está cada vez mais difícil, mas tenho a certeza que a Embaixada vai continuar a ajudar essas pessoas. Tenho a certeza que vão sair de lá em segurança."
Paulo Fonseca chegou acompanhado pela mulher, de nacionalidade ucraniana, e pelo filho de três anos. No aeroporto estavam vários familiares à espera do treinador português que atualmente está sem clube.
[Notícia atualizada às 00h26]
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