Aproxima-se a fase decisiva para a seleção portuguesa. O playoff de acesso ao Mundial'2022 está aí à porta e a expectativa é cada vez maior para aquilo que Portugal poderá fazer.
Pela frente, a equipa das quinas vai ter a Turquia, um adversário com a sua fama, mas com igual imprevisibilidade. Sem qualquer troféu conquistado na história, mas com qualidade individual reconhecida em cada fornada de jogadores que surge na seleção, a Turquia vai lutar, tal como Portugal, com tudo o que terá em mãos por uma vaga no Mundial do Qatar.
Para se conhecer melhor o futebol turco e a equipa nacional da Turquia, o Desporto ao Minuto esteve à conversa com Miguel Cardoso, jogador português que representa o Kayserispor, 14.º colocado da Liga turca. Em exclusivo, o avançado de 27 anos começou por analisar a edição 2021/22 da competição, numa época que está a ser fora do esperado.
"O campeonato tem sido um pouco atípico, tudo indica que o Trabzonspor vai ser campeão. O Konyaspor, que é uma equipa que normalmente faz campeonato a meio da tabela ou luta para não descer de divisão, está, este ano, no segundo lugar, enquanto os supostos três grandes [Galatasaray, Fenerbahce e Besiktas] estão abaixo das expectativas. Nós, no nosso ponto de vista, estamos a fazer um campeonato tranquilo. Os nossos últimos três ou quatro jogos não foram tão bons, mas, durante a época, temos estado tranquilos, algo que já não acontecia há uns anos para o Kayserispor", começou por afirmar.
[Miguel Cardoso mudou-se para o Kayserispor no início desta temporada]© Getty Images
Um futebol de individualidades e pouca tática
Num olhar mais aprofundado sobre a equipa da Turquia, as suas valências e os seus pontos mais fracos, Miguel Cardoso admitiu que, principalmente, o plano técnico deverá ser o de maior cuidado para Portugal.
"Acho que esse é o ponto mais forte da seleção deles. A nível individual, têm jogadores bastante interessantes, os melhores deles nem jogam na Turquia, jogam em França, ou Itália, como o Hakan Çalhanoglu, do Inter, que dispensa apresentações. Essa será a maior valência da Turquia, mas Portugal tem, antes de mais, obrigação e, depois, uma qualidade muito superior à Turquia", disse.
Hakan Calhanoglu é uma das estrelas da Turquia, com 14 golos marcados e 67 jogos© Getty Images
Além da técnica, também a mentalidade dos jogadores turcos é uma das suas maiores características. Contudo, o avançado do Kayserispor reconheceu que a carga emocional dos jogadores e dos adeptos poderá jogar tanto a favor como contra os mesmos.
"Os jogadores turcos são um pouco à imagem dos adeptos. São adeptos fervorosos, logo os jogadores acabam por também o ser. Isso pode ser bom como pode ser mau porque, caso as coisas corram bem, eles galvanizam-se, mas, correndo mal para o lado deles, as coisas podem descambar. Mas, acima de tudo, são jogadores fortes psicologicamente e, como muitos jogam fora da Turquia, conseguem encontrar esse equilíbrio. Depois, o que poderá acontecer é eles serem meio temperamentais, à imagem dos adeptos", avisou.
Miguel Cardoso acredita que, apesar das forças apresentadas, a capacidade tática poderá ser o maior trunfo para a seleção de Fernando Santos. O português vê a equipa das quinas a tirar vantagem nesse plano.
"Na parte tática, temos uma grande vantagem. Não considero o campeonato turco muito tático, antes pelo contrário. São jogos muito partidos, e, para obterem resultados, vivem muito das capacidades individuais dos jogadores, principalmente os ofensivos. Portugal, nesse aspeto, está muito superior à Turquia, assim como os seus treinadores. Poderá ser uma grande vantagem para a seleção portuguesa", acrescentou.
"Os melhores são aqueles que estão no estrangeiro"
Olhando para as duas convocatória, salta à vista um dado. Na seleção turca, 14 jogadores convocados jogam no campeonato turco, ao passo que, da lista portuguesa, apenas cinco jogam na I Liga. Miguel Cardoso desmontou essa estatística e, apesar de reconhecer qualidade aos jogadores turcos do seu campeonato, acredita que os que jogam no estrangeiro são a maior força da seleção.
"O jogador português está mais valorizado do que o jogador turco, daí termos tão poucos jogadores que joguem em Portugal a irem à seleção. Estão nos campeonatos de Inglaterra, França, Espanha e Itália, e os jogadores turcos também começam a optar, em parte, por esse caminho. Ainda assim, muitos deles estão a jogar nos grandes clubes turcos, como o caso do Galatasaray, do Fenerbahce, do Besiktas e do Trabzonspor que, neste momento, está muito bem e acaba por ser um clube grande. Mas há que reconhecer que os melhores são aqueles que estão no estrangeiro", afirmou.
Portugal tem de afinar
Sobre Portugal, Miguel Cardoso não tem dúvidas que existe um grande ajuste a fazer antes de a equipa das quinas entrar em campo. Porventura, a capacidade da seleção nacional deverá ser suficiente para ultrapassar o playoff e marcar presença no Mundial'2022.
"A nível individual, os jogadores da seleção portuguesa dispensam apresentações. Toda a gente conhece os jogadores portugueses, sabe da qualidade que têm e daquilo que podem fazer. Aquilo que Portugal tem de melhorar, e acho que é visível, é o plano coletivo. É preciso encaixar essas individualidades e, se assim for, Portugal terá todas as condições para ir ao Mundial e ambicionar grandes feitos na prova", concluiu.
[Portugal terá de ir ao playoff para conseguir apurar-se para o Mundial'2022]© Getty Images
Apesar de se tratar de uma fase de eliminação, Portugal parte como claro favorito neste playoff. Portugueses e turcos não se estranham dentro das quatro linhas, isto porque este duelo teve a sua primeira edição em 1955, com uma seleção que tinhas caras conhecidas como Germano, Matateu, José Águas, Pedroto e Travassos, entre outros. Desde então, Portugal e Turquia defrontaram-se sete vezes entre Mundiais, Europeus e amigáveis, tendo perdido apenas o último, em 2012.
Com o histórico a seu favor, a seleção nacional vai jogar pela vida já nesta quinta-feira, no Estádio do Dragão, em jogo marcado para as 19h45.
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