João Carlos Pereira falou ao Desporto ao Minuto sobre o percurso de treinador ao longo dos últimos 25 anos e de como o facto de ter passado por vários países além-fronteiras permitiu identificar algumas diferenças entre países, principalmente nas culturas futebolísticas de cada região.
Ainda com os incidentes do FC Porto-Sporting frescos na memória, o treinador de 56 anos recordou um episódio desse jogo, realizado no passado dia 11 de fevereiro, em que deu conta de ter recebido várias chamadas de diferentes sítios do mundo a questionar a razão das lamentáveis cenas após o desfecho do encontro (2-2).
"Conheço muita gente em muito lado deste mundo, e, quando surgiram as confusões no FC Porto-Sporting, tive várias pessoas amigas a ligar e a questionar se um jogo de futebol era uma guerra. Isso retrata um pouco aquilo que é a nossa essência enquanto pessoas, latinos, portugueses, como se fosse um reflexo da nossa sociedade e da forma como sentimos as coisas", contou.
"Não penso de maneira nenhuma que vou ganhar porque sou mais 'chico-esperto' ou que vamos meter pressão sobre o árbitro porque isto nos vai fazer ganhar o jogo. Na realidade, o que pode acontecer pontualmente é com as emoções à flor da pele, mas parece-me claro que, para algumas das equipas do nosso campeonato, é quase como uma prática normal. Meter pressão nos árbitros, criar um clima de terror, enfim, também é válido, porque tudo o que é permitido é válido. Mas acho que as equipas devem ser treinadas e trabalhadas para serem melhores dentro de campo. Essas coisas fogem-me um bocado ao lado. Se gosto do que acontece? Não só não gosto, como acho que não é nada bom para a imagem do nosso futebol", acrescentou.
Ânimos exaltados no jogo entre FC Porto e Sporting, que contabilizou várias expulsões após o apito final devido a agressões entre jogadores e staff© Getty Images
Contrastando com alguns episódios conflituosos, o futebol português tem crescido a olhos vistos na perspetiva de projetar jogadores e até treinadores, sendo esse um ponto-chave no discurso de João Carlos Pereira.
"O campeonato é o que é, e quem sou eu para alterar o campeonato que temos? Enquanto treinador, quero dotar a minha equipa de organização e capacidade, de forma a potenciar as qualidades individuais dos jogadores e a criar um talento coletivo. Pretendo olhar para aquilo que pode levar a minha equipa a ser melhor do que as demais. Se queremos vender um produto e valorizar os jogadores, acho que temos de continuar a primar pela competência e qualidade de trabalho, porque o nosso futebol, pelos resultados nas competições internacionais e, sobretudo, nas seleções nacionais, prova que tem evoluído num sentido positivo e espero que assim continue", atirou.
No momento de apontar as diferenças entre os campeonatos portugueses e as competições estrangeiras por onde passou, o treinador de 56 anos realçou as "particularidades" do ponto de vista físico e tático que acentuam essas mesmas diferenças.
"O nosso estilo de jogo e a forma como os nossos treinadores encaram o jogo têm particularidades distintas. Por exemplo, acho que o campeonato suíço (seja na primeira ou na segunda divisão) é um bocadinho mais físico, com muita influência anglo-saxónica, com outro tipo de perfil físico e jogadores muito mais disciplinados. Mas, do ponto de vista tático, tem uma matriz própria: recuperam a bola no corredor e forçam os lados, são muito objetivos e têm pouca intenção de encontrar o melhor caminho para chegar à baliza do adversário, porque procuram o caminho mais direto, embora nem sempre seja o melhor. Cada campeonato tem as suas particularidades, a cultura ou o clima. No Kuwait, com o calor que se faz sentir, o campeonato é mais pausado", rematou.
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