Luís Rocha falou ao Desporto ao Minuto sobre o percurso como jogador ao longo dos últimos dez anos a jogar como sénior, mas a tensão vivida na Ucrânia (ao lado da Polónia, onde está a jogar) não escapou à conversa e o jogador português admitiu já ter ficado muito receoso com a situação.
Os conflitos já duram há mais de um mês e o defesa português contou como se tem sentido no futebol polaco ao longo das últimas semanas, além de ter ainda apontado as diferenças na forma como o povo polaco expressa as emoções em situações tensas como as que têm acontecido em solo ucraniano.
"Ao princípio, foi muito difícil. Posso dizer que tive medo. A minha família (filha e esposa, que agora estão comigo novamente) também estava receosa, porque a toda a hora ouvíamos notícias e começávamos a ouvir os aviões a sobrevoar a cidade, mesmo sendo uma ação de controlo. Acalmou um bocadinho, mas posso dizer que no início tive muito medo", atirou.
"As pessoas parecem mais calmas. Nós, portugueses, como nunca estivemos numa situação semelhante, olhamos um pouco de maneira diferente e sentimos medo. Os polacos não sei se é por já terem passado por algo similar, mas não são pessoas de mostrar muito os sentimentos, se estão ou não preocupadas, sempre com a cara um pouco mais fechada. Mas sem dúvida que eles estiveram e estão algo preocupados, porque tentam a toda a hora arranjar comida, roupas e esses bens para ajudar a Ucrânia. Não mostrando eles tanto os sentimentos, de certeza que estão também preocupados", acrescentou.
Apesar de ser o único português a alinhar no Cracovia Kraków, Luís Rocha não é o único luso a jogar na Polónia. Só no Legia Warszawa estão a jogar três portugueses (Josué, Yuri Ribeiro e Rafael Lopes) e o defesa de 28 anos confessou falar regularmente com Josué, apesar de nem sempre ser sobre a guerra na Ucrânia.
"Costumo falar muito com o Josué porque nós jogamos Playstation juntos e não falamos muito sobre o que se está a passar, mas de certeza que também está muito preocupado e é normal. Sei que a minha esposa também fala muito com a esposa do Rafael Lopes e eles no início estavam muito preocupados, sem saber bem o que fazer, se a família devia ou não ficar. É uma situação realmente difícil e muitas das vezes nem sabemos o que fazer", atentou.
Questionado se já tinha interagido com algum futebolista russo ou ucraniano, Luís Rocha esclareceu que apenas dialogou com dois jogadores ucranianos, que representam o mesmo clube, um dos quais passou noites mal dormidas quando tudo começou.
"Temos aqui dois companheiros ucranianos, um que está na equipa B [Oleksiy Dityatjeve] e outro que chegou em janeiro e está na equipa principal [Yevhen Konoplyanka]. Lembro-me perfeitamente dos primeiros dias em que ele chegou. A família dele também era para vir, mas não veio. Passado pouco tempo começou a guerra, a família dele estava lá e ele ia para os treinos sem dormir. Pouco depois, a família conseguiu sair através da fronteira com a Eslováquia, mas foram momentos muito difíceis, sem dúvida", contou.
Apesar de os conflitos não terem alterado a rotina dos trabalhos da equipa, o defesa português confessou que os jogadores passaram a olhar para as situações ao redor de forma algo diferente. "Íamos para os treinos e falávamos entre nós sobre o que poderia vir a acontecer ou não. De repente, passava um helicóptero por cima do campo onde estávamos a treinar e ficávamos a questionar", finalizou.
Leia Também: "Voltar a Portugal? Antes diria que não, mas agora tenho pensado nisso"
Leia Também: "Quando falo com alguém da Rússia sobre a guerra, eles resguardam-se"