Com uma diferença de apenas três anos entre si, Wilson Eduardo e João Mário trocaram as camadas jovens do FC Porto pelas do Sporting, em 2003, mas houve um desejo que ficou por cumprir.
Em conversa com o Desporto ao Minuto, o avançado do Alanyaspor admitiu que jogar ao lado do seu irmão, no Sporting, era um desejo, mas tal nunca se concretizou e, até hoje, continua sem perceber o motivo.
Numa altura em que Wilson Eduardo ia acumulando sucessivos empréstimos a clubes como Beira-Mar, Olhanense e Académica, João Mário começou a ser chamado, gradualmente, à equipa principal do Sporting.
Porém, quando o irmão mais velho regressou a Alvalade para assinalar a tão ansiada estreia, João Mário 'caiu' para a equipa B e, mais tarde, acabou emprestado ao Vitória FC. Enquanto, na época seguinte, o avançado saiu por empréstimo para a primeira experiência no estrangeiro e viu o médio fixar-se no Sporting.
Apesar de tudo, Wilson Eduardo preferiu valorizar o presente e deixar rasgados elogios à evolução de João Mário, ao serviço do Benfica, depois de ter saído do Sporting com o título de campeão nacional em 2020/21. O bom momento do médio de 29 anos acabou mesmo por conduzir ao regresso à seleção nacional, para jogar no Mundial do Qatar, algo que também acabou por ser tema de conversa.
Sabemos que o futebol é isto mesmo também. Estávamos os dois no mesmo clube, onde fizemos formação. Contávamos que pudéssemos jogar juntos. Se acontecesse, iria ser algo fantástico. Mas se era um desejo nosso? Claro que era.
Apesar de ser mais novo, o João Mário conseguiu estrear-se primeiro no Sporting. Como se sentiu ao ver que o seu irmão estava a vingar em Alvalade?
Senti-me bem. Muitas pessoas fazem comparações com o meu irmão, porque chegou a um patamar mais alto e foi campeão europeu [em 2016] na seleção nacional. Mas é meu irmão. As pessoas podem dizer o que quiserem, mas nunca vou ter um sentimento de inveja ou algo do género. Claro que fico contente quando ele atinge patamares altos. Na altura, até se estreou no Sporting numa competição europeia, diante da Lazio, creio. No ano seguinte [em 2013/14], tínhamos a possibilidade de jogar juntos no Sporting e não aconteceu. Achavam que não devia acontecer. Até hoje, não sei o motivo. São situações que não conseguimos controlar.
Houve algo dentro do Sporting que 'barrou' essa hipótese?
Não sei o motivo, sinceramente. No ano anterior, houve a estreia das equipas bês. No ano a seguir, surgem as tais situações que não controlamos e não percebemos o por quê. Na primeira metade da época, simplesmente não jogou pela equipa principal e só treinava e jogava pela equipa B. Contávamos que pudéssemos jogar juntos. Num contexto competitivo diferente, ele acabou depois por sair na segunda metade da época [para o Vitória FC], num ano em que ele até é convocado para o Mundial'2014.
Tem pena de nunca ter partilhado balneário com ele?
Claro. Foi uma coisa que nós desejávamos. Sabemos que o futebol é isto mesmo também. Estávamos os dois no mesmo clube, onde fizemos formação. Se acontecesse, iria ser algo fantástico. Mas se era um desejo nosso? Claro que era.
Muitos falam do Mundial ser realizado nesta altura, mas para ele até foi importante. Se fosse como nos anos anteriores, no final da época, provavelmente, não estaria [na lista] porque não estava a jogar no Benfica com a regularidade que está a ter agora.
Como avalia o sucesso de João Mário no Benfica ao mais alto nível?
Em termos de números, sim, sem dúvida. Vê-se que está feliz. Acho que a força do João [Mário] é aquilo que ele transmite cá para fora. As pessoas têm noção de que é uma pessoa calma, que não se deixa afetar tão facilmente por situações menos boas, como se pode pensar. Penso que, além de toda a qualidade técnica e tática que tem, é importante num jogador ter essa força mental para superar momentos que não são tão bons. Ele saiu do Sporting com o título de campeão e foi para o Benfica numa transferência que não é fácil de se aceitar por parte dos sportinguistas. Mesmo do lado dos benfiquistas pode ter havido alguma desconfiança por toda a história do João no Sporting.
E esta época? É a melhor até ao momento?
Ele começou bem, mas, com a saída do Jorge Jesus e a entrada do [Nélson] Veríssimo, não teve os minutos que desejava numa altura em que as coisas não estão tão bem, o clube acaba por não ter nenhum título. Penso que toda esta mudança, com a chegada do Roger Schmidt, com a exigência que é colocada, já se vê que é uma equipa intensa e que gosta de controlar e pressionar alto. Muitos pensavam que o João podia sair por ter de se adaptar à exigência do treinador. A verdade é que, com toda a força mental que ele tem, começou bem [esta época]. Por tudo aquilo que demonstrou, subiu na hierarquia de capitães, o que é muito relevante, parecendo que não, na confiança que o treinador pode passar ao jogador. Creio que tudo isso foi importante para ter a confiança de toda a estrutura e do treinador. Os próprios colegas respeitam-no bastante. O resto, depois, ele demonstra no campo. Penso que estão todos felizes por aquilo que ele tem feito.
O regresso à seleção nacional surgiu na altura certa para ele?
Penso que sim. Ele já não ia à seleção há dois anos. Começou bem no Benfica e foi chamado. Penso que, este ano, por tudo o que tem feito, [a convocatória para o Mundial] veio na altura certa. Muitos falam do Mundial ser realizado nessa altura, mas para ele até foi importante. Se fosse como nos anos anteriores, no final da época, provavelmente, não estaria [na lista], porque não estava a jogar no clube com a regularidade que está a ter agora.
Após ter sido campeão europeu por Portugal em 2016, João Mário ainda foi ao Mundial'2018, mas esteve de fora do Euro'2020. O bom momento no Benfica ajudou-o a regressar aos eleitos de Fernando Santos para o Mundial'2022.© Getty Images
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