"Fomos pombas e serpentes". O legado de Fernando Santos em palavras

Chega ao fim um legado de oito anos do engenheiro ao comando da seleção das quinas. Recordamos agora o que fica, em discurso direto, de um selecionador que subiu por duas vezes ao 'Evereste'.

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Ricardo Santos Fernandes
16/12/2022 07:50 ‧ 16/12/2022 por Ricardo Santos Fernandes

Desporto

Portugal

Todas as histórias têm um ponto final. A história de Fernando Santos à frente dos destinos da seleção nacional conheceu, esta quinta-feira, o seu ponto final. Quase oito anos de caminho feito, com duas subidas ao ‘Evereste’: a conquista do Euro’2016 e o triunfo na Liga das Nações em 2019.

Porém, o Mundial’2022 acabou por ser decisivo para um desfecho antecipado do casamento que ligava o engenheiro à Federação Portuguesa de Futebol por mais dois anos.

O contrato terminava em 2024, ano em que cessa também o mandato de Fernando Gomes, mas o presidente que tutela o organismo federativo chegou a acordo para a rescisão antecipada do vínculo.

Um caso de prudência e ambição

Portugal realizou no Qatar o terceiro melhor Mundial da sua história, apenas suplantado pelo certame de 1966 e o de 2006. Porém, e apesar dos resultados, as boas exibições, ao longo do reinado de Fernando Santos, nunca foram uma cortina a que os portugueses se pudessem agarrar. Tantas, e tantas vezes, se ouviu o argumento de que a seleção tem a obrigação de fazer mais, e melhor, com os ovos quem tem à disposição, mas a verdade é que a ‘omelete’ saía fria da frigideira, e outra vezes nem chegava para atingir os resultados desejados.

Ainda há poucos meses, Fernando Santos esteve encostado às cordas, quando Portugal falhou o acesso direto ao Mundial'2022 e teve de recorrer a um play-off para salvaguardar a presença no maior certame do desporto-rei.

Curiosamente, e no que diz respeito à questão exibicional, Portugal sagrou-se campeão da Europa apregoando uma música que se tornou viral: “Pouco importa, pouco importa se jogamos bem ou mal Queremos é levar a taça para o nosso Portugal!”. Efetivamente a taça chegou, mas os olhos dos portugueses, tendo em conta o que viam, continuavam ‘torcidos’.

Porém, os resultados são a fonte de renovações e de despedimentos. Fernando Santos também nunca escondeu o que era uma primazia para ele, e importa recordar aquilo que disse a 20 de junho de 2017: "O meu conceito de bonito é ganhar”. 

Uma frase que cinco anos volvidos ganhou um colorido diferente, antes do arranque do Mundial no Qatar: "Se vamos fazer coisas bonitas e não jogar bem, ninguém vai ganhar”. Contudo, a prudência sempre faz parte do ADN dos últimos anos de Portugal e foi essa a receita para a maior página de ouro do futebol português.

Notícias ao Minuto [10 de julho de 2016, o dia em que Portugal se sagrou campeão da Europa pela primeira vez]© Reuters  

“Fomos simples como pombas, prudentes como serpentes. Passámos pontes e pontes, sempre com portugueses lá, e isto enche a alma. E os portugueses são um povo de alma. Por vezes não acreditamos em nós próprios, mas somos dos melhores do mundo”, assim descrevia o ex-selecionador a conquista do Euro’2016, na conferência de imprensa que sucedeu a vitória diante dos franceses, por 1-0, em Paris. Simultaneamente, Fernando Santos também nunca escamoteou a ambição de conquistas maiores, e seja em 2018, na Rússia, como no Qatar, em 2022, desbravou sempre o caminho a conquistas maiores.

"Espero e desejo ser campeão do mundo, é a ambição natural, qualquer português quer ir ao aeroporto”, dizia Fernando Santos, em 2016, mas avançando até 2018 o teor das palavras era o mesmo: "Nós não temos um sonho, temos um objetivo claro: lutar pela vitória no mundial”.

Todavia, o sonho Mundial ruiu. Primeiro às mãos do Uruguai e quatro anos volvidos diante da congénere marroquina. Justificações há muitas, mas a desilusão imperou sempre. Portugal ruiu diante de seleções menores e pairou sempre no ar a ideia: ‘Podíamos ter ido mais longe’.

O momento em que perdemos a fé... no "melhor do mundo"

A distância percorrida foi curta, não por falta de fé de Fernando Santos. “Percebi que Cristo está vivo em cada um de nós”, asseverou Fernando Santos, em 2015, que, na verdade, perdeu a fé em… Cristiano Ronaldo. Depois do jogo contra a Coreia do Sul, e das palavras nada simpáticas do capitão para com o selecionador, a verdade é que o banco de suplentes tornou-se o habitat, no momento do apito inicial, do antigo jogador do Manchester United.

Para muitos constituiu uma surpresa, mas aquilo que Fernando Santos outrora disse, em outubro de 2014, perdeu validade. “Ronaldo é Ronaldo! Tem uma disponibilidade muito grande para servir a seleção e procurar fazer o que faz bem, os golos. Sempre mostrou um grande compromisso com a equipa e depois o que tiver de acontecer acontece. Nunca me preocupou”. 

Notícias ao Minuto [A insatisfação de Ronaldo por voltar a sentar-se no banco de suplentes diante de Marrocos]© Getty Images  

Ronaldo deixou de alimentar a seleção com golos e a titularidade, diante da Suíça, escapou-lhe para Gonçalo Ramos. A equipa subiu de rendimento e a ‘chapa 6’ contra a congénere helvética valeu nova posição de suplente de Ronaldo. Surpresa? Se calhar, não. Voltamos ao arquivo de frases de Fernando Santos.

"Ter o melhor do mundo não chega. É importante, mas é preciso ter uma equipa”, dizia o engenheiro em maio de 2019, após Ronaldo falhar a fase de grupos da Liga das Nações. A palavra equipa falou mais alto e Fernando Santos terminou a sua era na seleção, relegando o jogador a quem mais apostou… para o banco de suplentes.

O antigo selecionador não escondeu a emoção de quando ouviu o hino pela primeira vez, em 2014, sublinhando que “foi um momento de muita emoção. Não sabia se me apetecia chorar ou se me apetecia rir”. Por 109 ocasiões, Fernando Santos ouviu A Portuguesa, na condição de treinador do conjunto das quinas, terminando com um balanço de 68 vitórias, 21 empates e 20 derrotas.

Leia Também: William Carvalho sobre Fernando Santos: "Escrevemos a página mais bonita"

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