Aurélio Buta demorou sete meses a fazer a estreia pela equipa principal do Eintracht Frankfurt, clube para onde se mudou no verão passado, após deixar os belgas do Antuérpia, uma oportunidade que nunca teve no Benfica.
Formado no clube da Luz, depois de ter iniciado o processo formativo no Águeda e, depois, no Beira-Mar, o lateral direito, de 26 anos, não chegou a estrear-se na equipa principal das águias, apesar de ter sido apontado com uma das joias da formação.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Aurélio Buta falou sobre essas sete épocas de águia ao peito, onde teve como companheiros de equipa nomes como João Félix, Florentino Luís, Rúben Dias ou Jota. Lamentando não ter podido estrear-se pelos seniores, o internacional pelas camadas jovens lusas não fecha a porta a um regresso ao Benfica no futuro. E a seleção está na mira do defesa português.
Todos os jogadores da formação que chegam ao Benfica têm essa ambição de chegar à equipa principal
Recordemos esse período no Benfica, onde fez grande parte da formação. Esperava ter feito a estreia pela equipa principal, antes dessa saída a título definitivo, já que era apontado como uma das grandes esperanças da formação?
Eu ambicionava, claro, essa estreia pela equipa principal do Benfica. Na altura, eu fiz a pré-época porque o André Almeida tinha-se lesionado e o mister Hélder Cristóvão, da equipa B, disse-me que eu ia substituí-lo no estágio que fizemos no Algarve. Fui com eles e foi uma experiência muito boa, aprendi muito com a malta que lá estava na altura. Ainda fiz dois ou três jogos, se não me engano. Foi algo único.
E como foi essa oportunidade de treinar com os seniores, que na altura eram orientados por Rui Vitória?
Foi um sonho. Todos os jogadores da formação que chegam ao Benfica têm essa ambição de chegar à equipa principal. Na altura, foi possível treinar com eles. Foi o concretizar de um sonho poder jogar ao lado de grandes jogadores, poder compartilhar o balneário com atletas que eu via na televisão todos os fim de semana a jogar e até no estádio. Claro que foi muito bom partilhar esses momentos com eles.
Aurélio Buta e o treinador Rui Vitória© Global Imagens
Seguiu do Benfica para o Antuérpia, por empréstimo, depois de ter feito a pré-época com a equipa principal. Sentiu que foi uma porta que se fechou nesse verão de 2017, até porque não voltou no verão de 2018?
Não pensei nisso. Como era um empréstimo, sempre pensei que, fazendo uma boa época e se as coisas corressem bem na Bélgica, na temporada seguinte, podia voltar a participar na pré-época da equipa principal. Mas não correu dessa forma. Ainda assim, o Antuérpia deu-me um voto de confiança e acreditou muito em mim, ao ponto de assinar em definitivo comigo. E eu apreciei muito isso. Foi uma opção certa.
E quem eram as referências na equipa principal do Benfica, nessa altura?
Eu era defesa-direito na equipa B do Benfica e olhava muito para o Nélson Semedo. Ele vinha a fazer épocas excelentes e era uma grande referência. É um jogador que admiro muito.
Foi colega na formação do Florentino Luís, que se tornou numa peça chave do Benfica, depois de dois períodos de empréstimo. Acredita que se não tivesse ficado em definitivo no Antuérpia, hoje poderia ser opção na equipa principal?
Isso já não sei dizer [risos]. É difícil responder a essa pergunta, porque acho que as coisas acontecem quando têm de acontecer. Ter saído foi bom para mim, essa experiência em outros campeonatos foi muito boa. Mas, respondendo diretamente, poderia ser, claro. A situação do Florentino… Ele saiu por empréstimo duas vezes e creio que não jogava muito. Esta época, quando chegou ao Benfica, mostrou todo o seu talento e a qualidade que tem. Joguei com ele na equipa B e também na UEFA Youth League, e, nessa altura, era um jogador com grande qualidade. Não estou nada a estranhar a época que ele está a fazer.
Aurélio Buta com a camisola da equipa B do Benfica© Getty Images
Também partilhou balneário com o João Félix, no Benfica B. Vê o João mais feliz agora, no Chelsea, comparando com as épocas em que ele esteve no Atlético de Madrid?
Creio que sim. O João é um jogador com bastante qualidade. Quando ele treinava connosco, na equipa B, ele que foi o mais novo na altura a estrear-se por essa equipa, dava para ver que era um jogador diferenciado. Fico feliz pela carreira que ele está a fazer, até ao momento. Agora, no Chelsea, voltou a mostrar a qualidade que tem. No Atlético, também demonstrou isso, mas sinto-o mais feliz neste momento. E dá mesmo para ver que ele está de novo a demonstrar todo o seu futebol.
Rúben Dias é um líder por natureza. E o sucesso que ele está a ter não nos surpreende a nós, que o conhecemos
O Rúben Dias também o acompanhou várias épocas na formação do Benfica. Nessa altura, já previa que ele chegasse ao nível em que está nos dias de hoje, ao ponto de ser uma referência a nível dos defesa-centrais na Europa?
Para ser sincero, sim. O Rúben foi sempre um jogador muito constante, sabia sempre o que queria. Desde os sub-15 que ele sempre demonstrou ser um líder. Quando eu jogava com o Rúben, ele passava-nos uma grande tranquilidade, e, dentro de campo, estávamos sempre atentos. O Rúben é um líder por natureza. E o sucesso que ele está a ter não nos surpreende a nós, que o conhecemos. Sempre foi um profissional a 100%, e sempre se focou no que queria. Agora, está a recolher os dividendos disso.
Jota, que agora está no Celtic, tem dado nas vistas, na Escócia, depois de não ter conseguido mostrar todo o seu potencial ao serviço da equipa principal. Acredita que ele pode regressar ao Benfica no futuro e mostrar essa qualidade que lhe é reconhecida?
O Jota é um jogador que precisa de jogar, e, no Benfica, não estava a ter essa oportunidade. Quando saiu para o Celtic, estava feliz e a jogar bem como está a fazer agora. Tem um enorme talento. Os jogadores, quando estão contentes e têm essa regularidade, as coisas saem naturalmente bem. É o que está a acontecer com ele.
Aurélio Buta esteve sete época ao serviço do Benfica© Getty Images
Por falar em regressos ao Benfica, o seu nome também foi colocado como potencial reforço do Benfica, em 2021, antes de ir para o Eintracht. Esses rumores tinham algum fundamento?
A mim, não chegou nada [risos]. Creio que seja uma mentira. Não me chegou nada aos meus ouvidos, nem mesmo ao meu empresário. São falsas notícias.
Vê-se regressar ao Benfica nos próximos anos? No caso, regressaria com um estatuto diferente daquele com que saiu…
Claro que sim. O Benfica foi o clube que me formou e que me fez crescer muito. Como disse antes, nós, os jogadores da formação, queremos sempre muito jogar pela equipa principal. E, se um dia tiver essa oportunidade para regressar, claro que seria com enorme gratidão que aceitaria.
E era para discutir a titularidade na lateral direita?
Se tivesse essa oportunidade, claro que ia chegar para tentar jogar de imediato no onze. Se voltasse, claro que era bom jogar. Era uma ambição para mim poder estar no onze.
Estou muito feliz neste clube que apostou em mim e é aqui que estou concentrado
Tem-se consolidado ao serviço do Eintracht Frankfurt nesta temporada. Quais são os teus planos para o futuro?
Os meus objetivos são, principalmente, não ter mais lesões. Tenho vindo de uma série de leões no passado… Quero não ter lesões, estar bem e fazer o máximo de jogos possível e, claro, ganhar títulos neste clube?
Qual o próximo passo que pensa dar na carreira? Está nos dos maiores campeonatos da Europa e num clube que luta pelas competições europeias…
Para já penso no momento. Estou no Eintracht, que é o clube que represento, e penso dar o meu máximo aqui primeiro. Depois as coisas surgem naturalmente. Se existirem outras possibilidades no futuro, claro que ficaria muito contente. Mas de momento estou muito feliz neste clube que apostou em mim e é aqui que estou concentrado.
É uma ambição minha chegar à seleção nacional. Mas não fecho portas a Angola
A nível de seleções, foi internacional pelas camadas jovens de Portugal, mas também poderá ser opção para a seleção de Angola já que nasceu em Luanda. Se o telefone tocasse com chamadas das duas seleções, qual delas escolheria?
Para ser sincero, claro que escolheria Portugal. Também é uma ambição minha chegar à seleção nacional. Sei que é difícil, mas vou continuar sempre a trabalhar para que um dia, quem saiba, possa ter essa oportunidade. Mas, por outro lado, não fecho as portas à seleção de Angola. Quem sabe um dia também posso representar os Palancas Negras. Não fecho as portas a ninguém, está tudo em aberto.
A nível da seleção nacional, há uma grande concorrência para a posição de defesa direito, como o Diogo Dalot, o Nélson Semedo, o Ricardo Pereira, o Cédric Soares, entre outros. Olha para este vasto número de concorrentes como um desafio para provar que merece o seu lugar nos eleitos?
Nesta altura a seleção nacional tem defesas direitos de bastante qualidade. Claro que é difícil para mim poder entrar nesse grupo porque são todos jovens e com grande qualidade. Mas eu nunca desisto e quem sabe um dia posso ter essa oportunidade. Cabe-me a mim continuar a trabalhar, fazer bem o meu trabalho e depois isso logo se vê.
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