Nos últimos anos, a seleção nacional tem-nos habituado a sofrer até ao último segundo para garantir uma vaga nas fases finais de Europeus ou Mundiais. Em quatro das últimas seis qualificações, a equipa das quinas teve de fazer muitas contas e até a playoff para poder suspirar de alívio e juntar-se à elite. Mas não com Roberto Martínez.
Desta vez, e depois de já estar reservada a viagem para a Alemanha no próximo ano, havia uma grande oportunidade para fazermos história. Os dois duelos do mês de novembro colocavam as cores nacionais a um pequeno passo da elite de seleções que tiveram apenas vitórias em qualificações. Depois de uma boa exibição em Vaduz, a perfeição chegou-nos na noite de domingo no Estádio de Alvalade.
Diante de um pujante ambiente que emanou desde as bancadas, Portugal assinou uma exibição demolidora frente à Islândia, com um triunfo por 2-0 que selou um apuramento histórico, e também ele perfeito, rumo ao próximo Campeonato da Europa.
No Estádio José Alvalade, em Lisboa, na despedida do Grupo J, a seleção nacional cumpriu o objetivo final de terminar incólume esta qualificação, mas sem deslumbrar. Ainda assim, foi a suficiente para se pintar de verde e vermelho uma noite recheada de história. Bruno Fernandes começou a 'cozinhar' o bolo com um excelente golo aos 37 minutos, e após um passe de calcanhar de Bernardo Silva. Na segunda parte, Ricardo Horta deu a estocada final no gelo islandês, colocando a cereja no topo do bolo aos 66 minutos.
18 anos depois, Portugal regressará à Alemanha no verão do próximo ano e com muitos créditos. Além da caminhada incólume neste apuramento, o passaporte conta ainda com um dos melhores registos de uma seleção numa fase de qualificação para o Campeonato da Europa, com apenas dois golos averbados, e também a melhor marca de golos marcados numa fase de qualificação - foram 36 remates certeiros ao longo de 10 vitórias em 10 jogos.
Cristiano Ronaldo e companhia viajam, assim, até à Alemanha para tentar melhorar aquele que foi o quarto lugar no Mundial'2006, com uma queda diante dos anfitriões. Esperam eles, e esperam todos os portugueses. A qualidade está lá, resta saber se a estrelinha estará do nosso lado no próximo Campeonato da Europa.
Mas vamos às notas desta partida:
Figura
A titularidade em todos os 10 jogos desta fase de apuramento mostram bem a importância que Bruno Fernandes tem nesta seleção. É preponderante no esquema tático de Roberto Martínez e na noite de domingo voltou a mostrar credenciais. Destacou-se pelo golo anotado ainda na primeira parte, mas também pelo grande trabalho defensivo.
Surpresa
Os últimos jogos no Barcelona não têm corrido bem a João Félix, mas o avançado esteve a um nível muito elevado diante da Islândia. Esteve perto de marcar por duas vezes na primeira parte e foi deliciando o público com vários pormenores técnicos de qualidade, e, ao mesmo tempo, colocando em pânico a defesa adversária. Esteve no lance que deu origem ao 2-0, atirando para defesa apertada de Valdimarsson.
Desilusão
Ao capitão de equipa exige-se, muitas vezes, que seja o exemplo para o restantes companheiros. Porém, Jón Gudmundsson falhou nessa missão em Alvalade. Elemento de grande criatividade nos islandeses habitualmente, o jogador do Burnley teve uma noite desinspirada.
Treinadores
Roberto Martínez
Dez jogos depois, podemos dizer que a aposta no treinador espanhol foi acertada. Levou a equipa das quinas a um recorde de 10 vitórias em outros tantos na qualificação, deixando para trás a tão fadada, e muitas vezes amiga dos portugueses, calculadora. Nota-se uma equipa alegre e unida rumo a um objetivo comum, com uma grande comunhão com os adeptos portugueses. Ainda que a qualidade esteja lá, resta agora saber como reagirá a equipa das quinas contra adversários de maior valia. Ainda que a caminhada tenha sido perfeita, falta agora sermos desafiados por um adversário que seja de qualidade superior aos que se tive nesta qualificação.
Age Hareide
A Islândia está a 'milhas' do poderio que apresentou, por exemplo, na fase final do Euro'2016 e na qual até defrontou Portugal. O período de atrevimento dos islandeses foi demasiado curto para preocupar verdadeiramente Alvalade. Os nórdicos deixam Lisboa com a derrota, mas com uma exibição em que foram compactos defensivamente, retardando ao máximo aquilo que foi o primeiro golo da equipa das quinas.
Arbitragem
Nada apontar no trabalho da equipa de arbitragem liderada pelo grego Anastasios Papapetrou.
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