Na Cidade do Futebol, em Oeiras, Luciano Gonçalves tomou posse para um terceiro e último mandato na liderança da APAF, após ter sido reconduzido no cargo com 100% dos votos, enquanto o árbitro Luís Godinho dirige a Mesa da Assembleia-Geral (MAG).
"Ponderei muito se deveria continuar com esta missão difícil, nem sempre gratificante e poucas vezes compreendida. Infelizmente, o futebol é muito injusto, tem demasiadas pedras. É preciso muita força de vontade e paixão para ir desviando essas pedras sem desviar do foco essencial, que é melhorar o futebol e a arbitragem. Há um clima tóxico no futebol em Portugal, os castigos continuam a ser suaves e há o sentimento claro de que o crime compensa", começou por salientar Luciano Gonçalves, durante o discurso.
Considerando que o resultado das eleições "trouxe uma responsabilidade acrescida", o presidente da APAF assegurou que irá "defender e exigir para os árbitros o que eles merecem", com a convicção de serem "sempre parte da solução e não do problema".
"Podem contar com lealdade e respeito desta equipa, que apenas exige o mesmo em troca", apontou, acrescentando: "A humanização da figura do árbitro tem de ser um objetivo claro. É inaceitável que possam continuar a ser saco de pancada dos outros".
A 'bandeira' da campanha eleitoral, que se pretende vir a ser uma realidade durante o quadriénio 2024-2028, passa pela construção de um centro de estágios, "que será um marco histórico para a arbitragem nacional e internacional", rumo à profissionalização.
"É nosso desejo escutar opiniões, contributos e problemas, e discuti-los com quem de direito. É essencial existir convergências o mais amplas possíveis e só juntos podemos lutar pela evolução da arbitragem e do futebol. Estamos cientes das dificuldades. Não se preveem tempos fáceis, mas esta equipa está preparada para ser parte da solução. Por todos os árbitros do passado, do presente e do futuro, e por uma APAF mais digna e respeitada", concluiu Luciano Gonçalves, de 43 anos, que ocupa o cargo desde 2016.
Luís Godinho, empossado como presidente da MAG, sucedendo no posto ao também árbitro Artur Soares Dias, encerrou a tomada de posse com um discurso longo e muito aplaudido pelos presentes, no qual deu até exemplos pessoais para ilustrar a sua ideia.
"É imperativo que os árbitros, e a arbitragem, se abram cada vez mais ao mundo. Têm sido dados passos nesse sentido, mas é preciso fazer mais. É essencial que as pessoas conheçam a nossa essência e saibam que, deste lado, há homens e pais de família que trabalham arduamente, celebram as suas vitórias e choram as suas derrotas", afirmou.
O árbitro da Associação de Futebol de Évora, de 38 anos, lembrou que, na temporada passada, foram agredidos em estádios e pavilhões desportivos 37 árbitros e que, nesta época, já foram 10, sendo insuficientes os comunicados e as ações a denunciar os atos.
"Todos temos dias maus, na vida pessoal e profissional. Independentemente de quem cá esteja e de sermos os melhores ou piores do mundo, não podem existir dúvidas da integridade do árbitro sempre que há um erro. Sou acérrimo defensor da crítica, mas não abdico do combate a quem, com a crítica, coloca em causa os valores do árbitro. Somos um país gigante em termos desportivo, com grandes treinadores, futebolistas, dirigentes, mas também grandes árbitros", salientou, requerendo melhores medidas.
Luís Godinho entende ainda que "a liberdade que abril nos deu foi claramente traída", pois "há uma ideia completamente errada" do uso da liberdade de expressão: "Poucos são aqueles que medem o peso das palavras e o impacto que elas têm na vida dos implicantes. Essas palavras nada contribuem para a pacificação do futebol português".