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"Vítor Bruno? Ser adjunto não é a mesma coisa que treinador principal"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Paulo Alves fez um balanço do que foi a última edição do campeonato português e coloca o Sporting na linha da frente para conquista o bicampeonato. O técnico analisou ainda a permanência de Roger Schmidt no Benfica e a troca de comandante no FC Porto.

Notícia

© FC Porto

Rodrigo Querido
03/07/2024 08:01 ‧ 03/07/2024 por Rodrigo Querido

Desporto

Exclusivo

A última temporada do campeonato português ficou marcada pela conquista do título de campeão nacional por parte do Sporting. Ainda que longe das lides de I Liga, Paulo Alves esteve atento ao que se passou em Portugal e, em entrevista concedida ao Desporto ao Minuto, fez um balanço do que aconteceu em solo nacional em 2023/24.

Atualmente sem vínculo a nenhum clube depois de ter deixado os espanhóis do Lugo, o treinador, de 54 anos, considerou que a permanência de Gyokeres no Sporting, ele que é muito pretendido por grandes clubes europeus, deixa o conjunto de Alvalade mais perto da conquista do bicampeonato.

Paulo Alves ainda a permanência de Roger Schmidt no Benfica e a troca de treinadores no FC Porto, com Vítor Bruno a assumir o lugar que foi de Sérgio Conceição nas últimas sete temporadas.

No Sporting tem havido essa paciência e essa calma, sem nunca deixar de acreditar naquilo que se está a fazer

Olhemos para o que aconteceu este ano na I Liga. Considera que o Sporting foi um justo vencedor do campeonato?

Sim, o Sporting foi um justo vencedor, sobretudo porque tem um sistema de jogo perfeitamente definido e assimilado por todos, e os jogadores são contratados especificamente para encaixar naquele tipo de jogo e metodologia. Além disso, tem algo que cada vez mais é raro no futebol, que é a paciência. Nem sempre as coisas acontecem ou batem certo, mas também temos de ter noção de que rapidamente podem mudar. E no Sporting tem havido essa paciência e essa calma, sem nunca deixar de acreditar naquilo que se está a fazer. Obviamente que é muito mérito do Rúben Amorim, em definir como tem definido, da direção em ter essa paciência e em dar espaço para se trabalhar, e da equipa, que foi a mais regular e manteve-se fiel aos seus princípios. 

A chegada do Gyokeres no verão passado foi fundamental para este sucesso, ou existiram outras coisas também bem feitas no que diz respeito às contratações?

Ter um jogador como o Gyokeres, que faz os golos que faz, claro que tem um peso muito importante nos resultados. Foi um jogador escolhido, em função das suas características, para aquilo que o treinador queria e encaixou na perfeição. O impacto que teve surpreendeu toda a gente, até porque vinha de uma liga muito competitiva e, normalmente, esse tipo de jogadores que se destacam no Championship acabam por ir para a Premier League. Ele não deu esse passo e em Portugal teve um impacto extraordinário. Mas isso é a capacidade de análise e de perceber que determinado tipo de características encaixam naquele perfil, sistema e metodologia.

E acredita que é possível segurar o Gyokeres no próximo mercado? Uma eventual saída deixaria o Sporting em desvantagem para o ataque ao bicampeonato?

Vamos ver... O mercado vai ditar as suas leis. Certamente haverá mexidas nos clubes e nos plantéis, mas claro que era uma grande perda e deixaria o Sporting em desvantagem ou, pelo menos, sem um goleador em que se pode confiar e ter a certeza de que vai resolver muitos jogos. Se eventualmente sair e não for bem substituído, por um jogador que consiga ter uma influência semelhante, claro que isso pode ter reflexos a nível classificativo. Acredito que até ao final do mercado haverá sempre esta incerteza.

O Benfica falhou a reconquista do título e encerrou a temporada sem nenhum troféu. Considera que foi uma época negativa?

Aos clubes grandes é exigível a conquista de um troféu que seja. E isso não acontecendo, sobretudo num clube como o Benfica, onde se gastou bem, é sempre negativo. Foi uma época negativa, as expetativas eram muitas, chegaram muitos jogadores, mas definitivamente não resultou.

Muito se pediu a saída do treinador Roger Schmidt, mas Rui Costa acabou por segurá-lo. Acredita que foi a opção mais certa?

Os clubes não podem ser geridos só com emoção. Os benfiquistas queriam substituir o treinador, mas depois há o outro lado, o do que isso acarreta. E as decisões, muitas vezes, têm também esse peso. Sem dúvida que é um risco muito grande para Rui Costa. Se não correr bem, as críticas vão multiplicar-se e subir de tom. Sinceramente acho que o Roger Schmidt tem demonstrado algumas dificuldades em interpretar o jogo, é uma característica dos treinadores alemães, que definem uma forma de trabalhar e não se desviam disso. E o nosso futebol é um pouco diferente. Sobretudo num clube grande, o treinador tem que interagir com o jogo, muitas vezes ter o 'golpe de asa' de, ele próprio, mudar o jogo, com substituições, com alterações táticas, que acabem por dar resultado. E ele tem tido alguma dificuldade em fazer esse upgrade para o futebol português. É algo que também será bastante desafiante para ele. Os resultados serão fundamentais para o futuro do treinador e do clube.

O Paulo Alves também passou pelo FC Porto enquanto jogador. Como é que viu todo este processo que levou à saída de Sérgio Conceição?

É verdade que não foi uma saída pacífica, mas no futebol este tipo de relações treinador/clube ou treinador/adjunto causa desgaste, especialmente nos clubes grandes. O que fica, no entanto, é que o Sérgio, apesar de todas as dificuldades, manteve sempre o FC Porto competitivo, na rota dos títulos e esse é o mérito que tem de lhe ser entregue. O resto, será o futuro a dizer.

Depois de muitos anos com Sérgio Conceição à frente dos destinos do clube, a nova direção decidiu apostar em Vítor Bruno, que cumpre a primeira experiência como treinador principal. Foi uma aposta de risco de Villas-Boas?

Ser treinador do FC Porto tem sempre o seu risco inerente. Se, por um lado, é compreensível a aposta em Vítor Bruno, por ser uma pessoa que está por dentro das rotinas recentes do FC Porto, por outro, ser treinador-adjunto não é a mesma coisa que ser treinador principal, especialmente num clube extremamente exigente e competitivo a todos os níveis.

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