O novo acordo de gestão do Estádio Cidade de Coimbra, cujo processo teve várias trocas de críticas entre município e clube, foi aprovado hoje, já depois das 00:00, por unanimidade, numa continuação da reunião camarária que tinha sido suspensa na segunda-feira, na esperança de as duas partes chegarem a um entendimento.
O contrato, que devolve algum poder de decisão à autarquia e a possibilidade de outros clubes poderem usar um estádio que é propriedade do município, terá agora de ser votado em Assembleia Municipal, que deverá ocorrer no início da próxima semana.
No final da votação, o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, apelou ainda para que a assembleia geral de sócios da Associação Académica de Coimbra -- Organismo Autónomo de Futebol (AAC-OAF) possa decorrer ainda este mês para não criar "um hiato jurídico" (o atual acordo, que durou durante 20 anos, termina na próxima semana).
O novo acordo prevê que a Académica deixe de poder utilizar o Estádio Cidade de Coimbra para organizar outros eventos que não desportivos (em 2023, foi o clube de futebol que recebeu 300 mil euros para se poderem realizar os concertos dos Coldplay) e determina que parte das receitas das rendas dos espaços explorados no estádio (em 2022/2023 arrecadou mais de 300 mil euros) seja aplicado na manutenção e conservação daquele equipamento.
O remanescente poderá ser aplicado no futebol de formação e na constituição de uma equipa de futebol feminino (não profissional) por parte da AAC-OAF.
O programa de desenvolvimento desportivo associado ao contrato prevê que a receita com as rendas dos espaços comerciais do estádio possa atingir os 575 mil euros em 2028, prevendo gastar cerca de 360 mil euros por época em manutenção e conservação.
O clube considera ainda que a formação e futebol feminino representem 25% das despesas previstas para a época 2024/2025 (275 mil euros).
Na reunião, também marcaram presença alguns adeptos da Briosa.
A vereadora do PS Regina Bento considerou que todo o processo "foi uma grande trapalhada que não dignificou as instituições" e vincou que a Académica "é uma das maiores bandeiras da cidade", justificando o voto favorável para não obstaculizar uma solução entre as partes.
O vereador da CDU, Francisco Queirós, realçou que a autarquia deve "tudo fazer para apoiar o movimento associativo e desportivo" do concelho, mas recordou que o estádio, tal como o nome indica, é "da cidade de Coimbra", municipal e não de um clube.
Já o presidente da Câmara de Coimbra aclarou que "a cedência do estádio desportivo nunca foi uma questão", mas sim "a parte comercial do estádio", referindo que a última renovação do anterior contrato, há cinco anos, já não estava de acordo com a lei, ao permitir o financiamento de um clube de futebol profissional por parte de uma autarquia.
No plano de recuperação da AAC-OAF, no âmbito do seu processo de insolvência, o clube de futebol faz referência às receitas com a gestão do Estádio Cidade de Coimbra como ganhos suplementares que entram nas contas do clube.
A agência Lusa questionou a Académica se uma desafetação de parte das receitas previstas no plano de recuperação com o Estádio Cidade de Coimbra poderia pôr em causa esse mesmo plano mas não recebeu qualquer resposta do clube.
Num comunicado divulgado na quarta-feira, a AAC-OAF criticava a posição da Câmara Municipal, alegando ainda que o clube "sempre" procedeu "à manutenção e conservação" daquele equipamento.
No entanto, em março de 2023, o presidente do clube, Miguel Ribeiro, afirmava, a propósito do investimento em obras no estádio por parte da promotora responsável pelos concertos dos Coldplay na cidade, que não era feita "manutenção" do equipamento "há cerca de seis anos".
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