Na lista de treinadores que marcaram o Benfica - e o futebol português - é obrigatório constar o nome de Sven-Göran Eriksson. Corria o ano de 1982 quando o treinador sueco assinava pelas águias, naquele que seria o seu primeiro desafio fora de portas, depois de ter comandado o Degerfors IF e o IFK Goteborg. Nessa primeira passagem por Portugal, que durou duas épocas, despertou a atenção de grandes clubes europeus e acabou por se juntar, depois, à AS Roma.
Após três temporadas na capital italiana, Eriksson seguiu para a Fiorentina e nesse período foi novamente convidado para treinar o Benfica. Por detrás dessa proposta estava Gaspar Ramos, o então diretor desportivo das águias.
Foi precisamente com o antigo dirigente que o Desporto ao Minuto conversou sobre o técnico sueco que deixou o futebol de luto esta segunda-feira, aos 76 anos, depois de uma dura batalha contra um cancro no pâncreas. Gaspar Ramos, que conseguiu convencer Eriksson a voltar à Luz na época 1989/90, recorda o treinador como sendo "um homem muito especial" com "ideias muito próprias" mas que, ainda assim, se permitia a "discuti-las e conversar sobre elas". "Foi uma pessoa com quem tive uma relação muito próxima. Vivemos momentos excecionais", lembrou ainda.
Apesar da importância que teve no regresso de Eriksson ao Benfica, Gaspar Ramos não esteve presente na cerimónia de homenagem ao treinador realizada no dia 11 de abril deste ano. "Lamento que o presidente do Benfica não me tenha convidado. As pessoas pensam que o Benfica para trás não conta e que apenas conta o presente", atirou o antigo dirigente, criticando Rui Costa.
Ainda assim, os dois estiveram juntos em Lisboa, no hotel em que Eriksson ficou hospedado, com Gaspar Ramos a destacar que foram recordados "momentos bons" vividos por ambos e que a fase particularmente difícil, marcada pela doença, ficou à parte nessa conversa. "Dava a sensação de que ele estava ótimo porque a aparência era boa. Nestas alturas, procuramos não abordar as questões que são preocupantes e falámos pouco sobre a doença. Falámos sobre o passado", revelou.
E por falar em passado, Gaspar Ramos sublinhou que partilhava com Eriksson a "ideia de que a cabine é um fator importantíssimo e que sem uma boa cabine, sem um bom espírito de grupo que se cultiva na cabine, não há boas equipas". "Vivemos isso em conjunto e eliminámos focos que podiam levar a uma destabilização. Recordo os grandes jogos que disputámos, como o facto de termos metido em sentido o AC Milan, que era a melhor equipa do mundo na altura", frisou.
Inspirado no Liverpool e apaixonado pela tática
Eriksson é muitas vezes apontado como um treinador que mudou o paradigma do futebol português, afirmação com a qual o ex-diretor desportivo das águias concorda. "Ele entendia que o Benfica tinha de ter um modelo de jogo adaptado às circunstâncias e ele baseava-se muito no futebol do Liverpool, pelo qual era apaixonado. Ele jogava normalmente em 4x4x2 e no início de uma época disse-me: 'Agora vamos começar a jogar com três defesas', aquilo que hoje se usa muito. As coisas não estavam a funcionar muito bem contra as equipas portuguesas, que se fecham muito, e ele em determinada altura decidiu voltar ao modelo do Benfica, que era ideal para se jogar em Portugal. Para jogar contra equipas mais valiosas, ajustámos o nosso modelo tático a essas realidades, daí termos tido sempre a preocupação de observar muito bem essas equipas que encontrávamos na Taça dos Clubes Campeões Europeus", contou.
Eriksson visitou o Estádio da Luz pela última vez neste ano de 2024, sendo alvo de uma homenagem emotiva e que contou com a presença de vários jogadores que orientou ao serviço do Benfica.© Getty Images
Importa lembrar que, pelo Benfica, Sven-Göran Eriksson conquistou três campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal e uma Supertaça. Chegou ainda à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1990, tendo perdido por 1-0 contra o AC Milan, em Viena.
Até sempre, Sven-Göran Eriksson 🤍#EPluribusUnum pic.twitter.com/qHiEFLhU8y
— SL Benfica (@SLBenfica) August 26, 2024
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