"O que nos tem focado mais na área do trabalho é sabermos o que é que nós teremos para projetar o próximo ciclo olímpico. Isso é fundamental. O Orçamento do Estado que está agora a ser discutido é algo que nos preocupa imenso. [...]. Sabemos que Portugal não tem petróleo a nascer no Alentejo, ou nas Beiras, ou seja lá onde for, é um país finito em relação a poderio económico, mas temos que ver e estudar a forma de mudar um pouco o paradigma daquilo que é o apoio ao desporto e como é que o Governo e as instâncias políticas veem o desporto", defendeu Artur Lopes.
Para o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), o "desporto tem sido sempre marginalizado na agenda política".
"O Governo tem que olhar para o desporto, primeiro, pondo-o na agenda da política, como um ponto importante. Foi demonstrado, mais do que demonstrado, tem sido demonstrado por toda a gente, mas se houve alguém que o demonstrou foi esta casa, pela voz do próprio José Manuel Constantino. O desporto é, de facto, um bem que é socialmente mais importante e menos dispendioso do que aquilo que vale. E, portanto, é um bem e o desporto em si mesmo transporta para a sociedade 'n' valores que de outra maneira não se conseguem", salientou.
Escudando-se nos números, Artur Lopes indicou que, em 2010, o COP recebia cerca de 80% do que eram os seus custos com pessoal, "técnicos de alta valia que têm que ser bem pagos", um apoio que agora está nos 50%.
"Esta casa evoluiu muito, cresceu muito e, portanto, o Governo tem que nos dizer a nós, muito diretamente, olhos nos olhos, 'nós não queremos um Comité Olímpico com esta grandeza'. Porque não podem exigir qualidade em todas as áreas que hoje o Comité Olímpico oferece, não ajudando economicamente, até para manter os altos quadros que nós temos e para manter a qualidade da produção que fazemos", argumentou
Portanto, segundo o presidente do COP, o Governo tem que ser muito claro a dizer o que quer ou não quer. "Esta casa não pode manter um equilíbrio a receber, por exemplo, para atividades regulares, 50% do que são os gastos só com o pessoal, fora os outros custos que são inerentes à manutenção da casa", reforçou.
O Governo corrigiu os valores da despesa prevista no Orçamento do Estado para 2025 no setor do desporto para 54,5 milhões de euros, um dia depois de ter anunciado 42,5 ME na proposta entregue na Assembleia da República.
"Os nossos Jogos Olímpicos agora, na direção e de toda a gente que trabalha aqui dentro, é o orçamento, fazer ver ao Governo que realmente este orçamento - houve um aumento de 8%, com aquela retificação [...] - é muito pouco musculado. Eu acho que é pornograficamente pouco", vincou.
Artur Lopes insistiu que "tem que ser mudado o paradigma completamente", e relatou que nas reuniões que o COP teve com partidos políticos -- "Fomos recebidos, não por todos, alguns não responderam" - todos mostraram estar sensíveis aos problemas de financiamento do desporto.
"Compreensões, temos tido muitíssimas. Compensações, nem por isso", pontuou, insistindo que o COP "gostaria de ter uma palavra a dizer" na discussão do Orçamento do Estado.
Para o dirigente, "agora é que é a altura de começar a criar os cavouco de maneira a construir o edifício que chegará a Los Angeles", algo que, revela, ainda não começou a ser feito.
"Não, ainda não. Agora estão no Orçamento. Depois do Orçamento, é evidente que o contrato [programa] será um bocado o espelho daquilo que for o orçamento e a quantia que virá para o desporto", respondeu, ao ser questionado pela Lusa se já teria havido reuniões com o executivo de Luís Montenegro para negociar o contrato-programa para os Jogos Olímpicos Los Angeles2028.
O presidente do COP pronunciou-se ainda sobre a intenção do primeiro-ministro de "fazer crescer acima de 20%" o valor alocado aos contratos-programas para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Los Angeles2028, anunciado em 11 de setembro, na receção aos atletas que estiveram em Paris2024.
"Temos que ver o que é que esses 20% trazem subjacente. Atenção, esta casa só vive bem se as federações estiverem bem, se os clubes estiverem bem [...] estamos a afastar-nos cada vez mais da média europeia no apoio per capita ao desporto. Temos que ter muito cuidado. As federações, como os clubes e associações, têm de ser apoiadas para depois trabalharem connosco e, para nós, supervisionarmos, ajudarmos, colaborarmos no sentido de reter aqueles que são os melhores e que vêm a dar as medalhas, os diplomas e as honras para Portugal", concluiu.