"Parece-me que é um grupo com muito boa química. Às vezes, olhamos para isso quase como um detalhe, mas, para mim, é decisivo. Quando conseguimos o apuramento para 2007, foi muito pelo espírito daquele grupo, que era especial e fez com que tivéssemos a capacidade de superar muitas dificuldades que foram aparecendo pelo caminho. Do que vejo de fora e conheço de alguns atletas, parece-me que a seleção nacional vive um bom momento a esse nível e isso ajuda muito ao trabalho diário que realizam nestas janelas [internacionais]", reconheceu o antigo base, de 41 anos, em declarações à agência Lusa.
Portugal qualificou-se para a fase final do Campeonato da Europa de 2025 ao fim de 14 anos, repetindo as presenças de 1951, 2007 e 2011, após ter beneficiado da derrota da Ucrânia com a Eslovénia (71-84), em Riga, na quinta ronda do Grupo A de apuramento.
"A seleção não tem pressão nenhuma, mas tem de querer e ambicionar tudo. É também importante que os jogadores desfrutem da ocasião, porque, quando a minha geração se recorda [das duas participações consecutivas], lembra-se de momentos de alegria e para serem desfrutados como profissionais. Muitos destes atletas vão ter uma grande primeira oportunidade para estar num palco destes", vincou o atual treinador-adjunto do Sporting.
Os 'linces' selaram uma vaga na 42.ª edição da prova, antes de perderem com Israel (78-84), num jogo deslocalizado para a capital da Letónia, devido à ação militar israelita na Palestina, duas semanas depois de a equipa feminina ter feito o mesmo de forma inédita.
"Todos aqueles que participaram direta ou indiretamente estão de parabéns. Obviamente, são boas notícias para o basquetebol nacional ter as duas seleções seniores envolvidas no palco maior europeu, ainda que, por exemplo, tenha havido um contexto diferente em 2007 e agora se veja cada vez mais equipas a participarem. De qualquer forma, é muito importante estarmos sistematicamente nos grandes momentos, não só a nível de clubes, mas também de seleções, para que o basquetebol nacional ande para a frente", indicou.
Sublinhando o efeito das equipas de sub-23, Miguel Minhava acredita que o regresso do Sporting ao basquetebol sénior masculino em 2019/20, após 24 anos de ausência, e a coexistência dos 'grandes' "gera mais interesse e dá melhores condições aos jogadores".
"Eu diria que é um processo que está longe de estar concluído ou numa fase avançada e ainda temos muito para pedalar. Para mim, a participação das equipas portuguesas nas provas europeias é determinante e temos tido FC Porto, Benfica e Sporting lá de forma sistemática nos últimos anos. Esse contacto internacional também é decisivo para que os jogadores melhorem os seus desempenhos. Não há outra hipótese. Se ficarmos fechados em Portugal, não vamos conseguir crescer tanto. Estas são algumas das razões que nos explicam o facto de termos conseguido o que já não conseguíamos há 14 anos", reiterou.
O progresso competitivo de Portugal coincidiu com a estreia lusa na Liga norte-americana de basquetebol (NBA) efetivada pelo poste Neemias Queta, que, após duas temporadas nos Sacramento Kings (2021-2023), sagrou-se campeão nos Boston Celtics em 2023/24.
"A questão Neemias é fundamental, já que ele é muito peculiar. Além do indiscutível valor acrescentado que traz, é muito grande e não temos esse tipo de jogador neste momento. Naturalmente, fará com que a equipa tenha algumas rotinas diferentes. O Neemias Queta ainda não teve muito tempo [de trabalho em contexto de seleção principal], mas, quando o fez, sentimos o impacto que tem. Não sei se o selecionador optará pelo Rúben Prey, que está a jogar nos campeonatos universitários dos Estados Unidos (NCAA) pelos St. John's Red Storm e também dá uma dimensão física à seleção que não temos agora", analisou.
Situado na 55.ª posição mundial, e 28.ª continental, do ranking masculino da Federação Internacional de Basquetebol (FIBA), Portugal foi 15.º na estreia em Europeus, em 1951, ao atuar por convite em França, voltando quase seis décadas depois para um nono lugar em 2007, em Espanha, e um 21.º em 2011, na Lituânia, na primeira edição a 24 equipas.
Miguel Minhava, que então pertencia ao Benfica, pelo qual festejou quatro campeonatos, disputou seis jogos em 2007 e dois em 2011 ao serviço dos 'linces' em Campeonatos da Europa, vivendo os "momentos mais marcantes" de um trajeto com quase duas décadas.
"Isto não tem de ser visto como uma meta, mas uma parte do caminho. É importantíssimo que os responsáveis pelo basquetebol em Portugal tenham essa noção. Nós temos de ter vontade de fazer mais. É bom chegar onde não temos ido muitas vezes, mas, que a partir de agora, isto sirva para construir algo ainda mais forte e que as ausências destas provas passem a ser quase uma exceção e não essa regra que tem vigorado até agora", apelou.
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