"Cristiano Ronaldo foi muito importante para o crescimento da Arábia"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Daniel Ramos, neste momento sem clube, não descarta um regresso à Arábia Saudita ou um 'salto' ao Brasil. O treinador português destacou ainda a importância de Cristiano Ronaldo para o crescimento recente do futebol saudita.

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Rodrigo Querido
21/03/2025 07:54 ‧ ontem por Rodrigo Querido

Desporto

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Daniel Ramos é um nome bastante conhecido no futebol português. Com mais de 700 jogos realizados ao longo de toda a sua carreira como treinador, o técnico natural de Vila do Conde deixou recentemente o comando do AVS, mas já só pensa no regresso ao ativo.

 

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o timoneiro português recordou a passagem, ainda que muito curta, pela Arábia Saudita e destacou a grande importância que Cristiano Ronaldo teve na mudança promovida no futebol deste país

De Galeno a Morita, passando por Fransérgio, Daniel Ramos destacou alguns jogadores que potenciou ao longo da sua carreira. O técnico disse ainda que descarta um regresso à Arábia Saudita, onde esteve entre 2021 e 2022, ou um 'salto' ao Brasil.

A exigência vem do ponto de vista desportivo. Acho que o grande ganho do campeonato saudita tem a ver com a disciplina

Já vivenciou o que é treinar na Arábia Saudita. Como foi esse período no Al-Faisaly?

Foi algo para o qual não estava preparado, não estava pensado. Foi algo que aconteceu, o clube fez muita força. Já no fecho de campeonato [2020/21] eles tentaram levar-me. O Santa Clara convenceu-me a ficar, acreditei no projeto. O que é certo é que o projeto de Santa Clara. O clube é vendido, entra um outro tipo de investidor, outro tipo de dirigentes, e deixa de ser o Santa Clara que eu gostava, que tanto me diz porque teve muita importância também na minha carreira. Sofri e festejei bastante lá. Trabalhei para conquistar algo importante, como foi conseguido. É uma região que me diz muito, que eu gostei muito de lá estar e espero um dia poder lá voltar.

Depois voltou a surgir o convite do Al-Faisaly. Tinha uma cláusula que dizia que se existisse novamente um convite desse clube eu poderia sair e foi isso que aconteceu. Foi uma experiência engraçada, completamente diferente, culturalmente e futebolisticamente muito diferente. É um clube que vive muita qualidade dos estrangeiros, que fazem a diferença e aportam qualidade ao seu campeonato. A maioria dos clubes enquadrava-se em três níveis de jogadores: os estrangeiros muito bons, árabes muitos bons e médios e outros fracos. Toda a gente fazia parte do seu plantel. É como se tivéssemos jogadores do Campeonato de Portugal, de uma II Liga e de uma I Liga no mesmo plantel e a disputar uma I Liga. Isso não acontecia nas melhores equipas árabes, mas acontecia na grande maioria das outras.

Havia um grande desnível entre os jogadores e isso condicionava não só o processo de treino, mas a qualidade do mesmo. O rigor também, uns mais profissionais que outros, o lado cultural importante. A exigência vem do ponto de vista desportivo. Acho que o grande ganho do campeonato saudita tem a ver com a disciplina. Os seus dirigentes, diretores desportivos devem implementar outro tipo de rigor e exigência. A maioria dos dirigentes são sauditas, que estão habituados a determinados comportamentos e não querem mudar, existe resistência à mudança. Essa resistência à mudança complica também a evolução. A entrada dos jogadores importantes, e o Cristiano Ronaldo foi extremamente importante porque a exigência dele é vista por outros que são tentados a acompanhá-lo, e de diretores desportivos com capacidade de revigorar está a trazer um campeonato saudita mais competitivo. Foi uma experiência muito positiva, estive quase a voltar lá, no futuro, quem sabe.

"Despedimento do AVS? Não se justificava. Faltou um bocado de paciência"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o treinador português explica a saída extemporânea do AVS, de onde foi despedido em fevereiro, assim como os projetos para o futuro na carreira de treinador.

Rodrigo Querido | 07:43 - 21/03/2025

Com esta ida do Cristiano Ronaldo para a Arábia, as condições de trabalho melhoraram. Vê-se a regressar num futuro próximo? Recentemente foi notícia que recebeu abordagens de lá…

Sem dúvida que poderei voltar lá no futuro. Eu tenho acompanhado, não só por curiosidade, mas também por perceber que poderá ser um passo na minha carreira este regresso à Arábia. É um dos campeonatos que eu tenho seguido com maior rigor, e tenho percebido que essa melhoria, esse 'refresh' que é a palavra certa, em vários itens. Se calhar não tinham tanto rigor e neste momento têm-no. A tal entrada dos jogadores importantes na Arábia Saudita fez crescer o brilho dos sauditas em querer melhorar e em querer dizer que o seu campeonato está ao nível dos melhores a nível mundial. Essas melhorias são visíveis neste momento. Acho que foi muito bom para o campeonato saudita esse upgrade, porque está a torná-lo também muito mais visível e muito mais apetecível para a maioria dos jogadores, como é lógico, treinadores e dirigentes desportivos.

Notícias ao Minuto Daniel Ramos esteve na Arábia Saudita em 2022© Global Imagens  

Também foi apontado recentemente ao Brasil. É um mercado que o seduz?

Sim, é verdade. Tem sido outro campeonato que tenho seguido com atenção, não só a Série A, como a Série B. Tivemos o exemplo do Pepa que foi à Série A [Cruzeiro] e as coisas não correram conforme ele pretendia. Depois, arriscado para alguns e nem tanto para ele, foi competir na Série B. Conseguiu entrar num bom projeto [Sport Recife], num bom clube, conseguiu promovê-lo e fez com que a Série B fosse também um passo que pode ser importante para treinadores portugueses. A Série A é algo que é desejável por muitos treinadores. Mesmo na Série B há bons projetos. Há muito clube brasileiro que está a ser comprado por investidores brasileiros e de fora do Brasil, que querem ter rentabilidade. São conhecidos alguns grupos, como o grupo City e outros, que estão a entrar no Brasil no sentido de potencializar jogadores e, provavelmente, trazê-los depois para a Europa.

O campeonato brasileiro, neste momento, tem muita credibilidade e tem muita qualidade. Deixou de ser um campeonato brasileiro para ser um que está a aproximar mais do europeu. Pela entrada de treinadores europeus, pela entrada de jogadores também oriundos da Europa e brasileiros a regressar. Temos jogadores portugueses a jogar lá. Temos jogadores oriundos de outros países a jogar no Brasil, Neste momento, o campeonato brasileiro, por aquilo que demonstrou e por a abertura que está a conceder, é perfeitamente possível que os treinadores portugueses, e no meu caso específico, o vejam como uma possibilidade de entrada. A qualidade e a visibilidade são muito altas. A credibilidade que existe no futebol brasileiro é bem superior àquilo que existia há alguns anos.

Não me identifico nada com um futebol defensivo. Quem me conhece sabe que valorizo muito o ataque

O Daniel é visto muitas vezes como um treinador mais defensivo que procura, digamos, jogar para conquistar um pontinho. Concorda com esta opinião, ou tem muito a ver com o contexto em que está inserido?

Não, não concordo. Isso já foi tema no passado e falei sobre isso numa outra oportunidade. Eu tenho várias subidas de divisão. Quem joga para a subida de divisão não pode ser defensivo. Sou campeão nacional da segunda divisão. Tenho subidas já em número significativo. Tenho dois sextos lugares, dois sétimos lugares na I Liga e isso não pode ser um futebol defensivo.

Agora, há situações em que temos que perceber aquilo que temos. Dou um exemplo muito específico de um sétimo lugar conseguido com uma equipa inferior que foi no Marítimo. Primeiro ano, uma equipa com muita qualidade e que foi capaz de lutar por condições europeias. Sexto lugar com todo o mérito. Na segunda época houve perda de jogadores importantes. O plantel não era tão forte, perdeu qualidade, mas não deixámos de ter um sétimo lugar. Éramos uma equipa mais de espera, que tinha outro tipo de argumentos. Não tínhamos a possibilidade de ter o mesmo estilo de jogo, a mesma ideia de jogo. Tivemos resultados muito próximos de um ano para o outro, mas com qualidade de jogo diferente e com resultados próximos.

Isso tem muito a ver com uma coisa que já disse. Pedem-nos resultados e nós temos de tentar responder com resultados. Quando podemos ter resultados, qualidade de jogo, valorizamos mais os atletas. Algo que me pedem sempre, e eu tento fazê-lo, é valorizar atletas, promover atletas jovens, procurar com que os jogadores sejam valorizados. E tenho muitos casos na carreira de valorização de atletas. Fransérgio, Rodrigo Pinho, Dyego Sousa, Léo Jardim, Galeno, Eustáquio, Morita, Fábio Cardoso, Carlos Jr., Cryzan, Thiago Santana, Paulinho, Sauer e tantos outros.

Não me identifico nada com um futebol defensivo. Quem me conhece sabe que valorizo muito o ataque. Mas não consigo ter um futebol atrativo e de ataque sem ter capacidade de resposta para que isso aconteça. Por isso é que de desejava ter um plantel com muita qualidade, para poder implementar essa dinâmica ofensiva. Mas temos de resultados porque o resultado manda no futebol. Se não os tivermos, vem outro.

Eu sei que um treinador não gosta de individualizar jogadores, mas quem foi, para si, o melhor jogador que já treinou?

É um pouco injusto. Fica difícil nomear um e, por isso, vou nomear alguns que me ficam na retina. Vou pegar no Morita porque é um caso recente. É um jogador fenomenal e que foi um achado. Vi vários jogos dele antes de dizer que 'sim' e fiquei surpreendido. Não acreditava que ele tinha tanta qualidade. Disse ao Diogo Boa Alma [na altura diretor desportivo do Santa Clara] para trazê-lo rapidamente. Tentei também trazer outro japonês este ano, que já está a dar cartas noutro país. O Japão é um mercado interessante.

Vou falar também de jogadores que tive no Rio Ave, e peço desculpa se me estou a esquecer de algum. Há o Fábio Coentrão, Rúben Semedo, Nuno Santos, Galeno. Há também Lincoln, o Léo Jardim e o Hélton Leite. Dentro destes estaria o meu top 3.

Notícias ao Minuto Daniel Ramos estreou-se na I Liga ao serviço do Marítimo© Global Imagens   

E o que mais o surpreendeu em termos de evolução? Talvez o Morita...

Do Morita já estava à espera. Já disse em entrevistas anteriores que era inacreditável como nenhum grande português tinha ido buscá-lo quando estava no Santa Clara. Ele esteve para ir para o Fenerbahçe e acabei por ser o tampão para ele não ter ido na altura. Disse-lhe para esperar que um clube grande do mercado português o vinha buscar. E isso aconteceu. A ascensão do Morita foi boa, mas esperada. Já estava num patamar muito alto.

Vou dar um exemplo de um jogador que tinha muita qualidade, mas que não utilizava todas as suas potencialidades e que é o Lincoln. Poderia dizer o Galeno, mas ele depois veio a confirmar a qualidade. Via nele grande potencial, mas não a utilizava ao serviço do jogo. Acabava por ser previsível. Ele jogava pela esquerda e driblava para dentro em nove de dez ocasiões. Melhorou nesse aspeto, e falámos muitas vezes sobre isso, assim como a defender.

Mas voltemos ao Lincoln. Quando cheguei ao Santa Clara, ele era um jogador com muita qualidade técnica, capaz de fazer coisas fantásticas com bola e sem bola tinha nota negativa. Mostrava-lhe imagens de treinos e jogos em que ele vinha a passo junto ao meio-campo. Ele disse que nem se apercebia. Perguntou-me o que devia fazer e disse-lhe que o primeiro passo era aceitar que não estava a fazer certo. A partir do momento em que ele disse que queria melhorar nesse aspetos, ajudámo-lo nisso. Mostrámos imagens e a evolução começou a acontecer. Foi da noite para o dia esta melhoria defensiva. Tornou-se um jogador completo e competitivo. Chamou-me muito a atenção porque quis evoluir.

Leia Também: "Despedimento do AVS? Não se justificava. Faltou um bocado de paciência"

 

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