Pedro Henriques concedeu uma entrevista ao Desporto ao Minuto onde elogiou os trabalhos de Vítor Pereira e de Pedro Proença à frente do Conselho de Arbitragem (CA) e da Liga de Clubes, respetivamente. O antigo juiz lamentou a saída do antigo árbitro do horizonte da UEFA, mas manifestou confiança no trabalho de Proença à frente do organismo que tutela o futebol português.
Ainda, o antigo árbitro revelou já ter sido convidado para integrar cargos diretivos, mas insiste que se sente melhor a trabalhar a vertente tática do futebol. Contudo, não descarta uma possível candidatura a um dos órgãos responsáveis pelo desporto-rei em Portugal.
Como avalia o trabalho de Vítor Pereira no Conselho de Arbitragem, tendo em conta as constantes críticas aos árbitros?
O Vítor Pereira foi o melhor presidente que passou pelo Conselho de Arbitragem, porque organizou e pensou na profissionalização. Pensou em cursos e tecnicamente é muito bom. Eu lembro-me que quando entrou queria projectar a arbitragem no contexto internacional. E nós atingimos, com muito mérito do Pedro Proença, coisas inimagináveis. Aqui, o Vítor Pereira também teve mérito pelo trabalho positivo que fez nos bastidores.
Agora está desgastado por um conjunto de situações que foram acontecendo e, se calhar, vai terminar o ciclo dele no próximo ano. Não sei se se vai recandidatar ou não, mas é sempre uma posição de desgaste, tal como na política. Tecnicamente foi o melhor presidente de todos os tempos.
Sob o ponto de vista pessoal, no relacionamento humano, teve alguns problemas nas questões de liderança, de gestão de pessoas e do grupo e talvez isso tenha sido o problema. Eu penso que foi nessa questão que foi perdendo fulgor, pois teve alguns problemas com o Pedro Proença, com o Olegário [Benquerença]… Está relacionado com a maneira de ser dele, mas isso não invalida o excelente trabalho que fez. Está lá há muitos anos e as críticas dos clubes A, B, ou C vão fazendo desgastam-no. Sobretudo quando há penalties que não são marcados e isso acaba por recair indiretamente sobre ele.
Como avalia os primeiros meses de Pedro Proença à frente da Liga de Clubes?
O Pedro Proença é uma pessoa extremamente competente em tudo o que se mete e em tudo o que faz em termos de trabalho. É inteligentíssimo e não tenho dúvidas que ele vai conseguir realizar parte do que promete. Já sabemos que o ideal é cumprir todas as promessas eleitorais, mas não se vão conseguir cumprir. Há sempre perdas pelo caminho, houve agora a questão da centralização dos direitos [televisivos] e, se ele não conseguir essa, vai conseguir outras.
Vai tentar dar credibilidade em termos internacionais, na projecção do futebol a esse nível. Vai sair de lá com as finanças com muito mais saúde, ele é um grande gestor de finanças – a sua área de formação - e um bom líder de pessoas. Neste momento, está a tomar o pulso, está a começar, vai ter algumas dificuldades e optou por algum silêncio em termos externos. É nisso que ele está a trabalhar.
Pedro Proença era membro do Comité de Arbitragem da UEFA. Não acha que poderia fazer mais a respeito da internacionalização da arbitragem e do futebol português como representante luso num organismo europeu?
Não sei se seria mais útil, mas termos alguém português na UEFA e na FIFA a nível de arbitragem é sempre útil. Se estivesse lá outra pessoa, estava tranquilo. Foi uma oportunidade perdida nesse aspeto. Ele estava numa posição em que era quase o braço direito do Collina [n.d.r.: ex-árbitro e presidente do Comité de Arbitragem da UEFA] e tenho pena que ele não esteja lá. Mas fez esta opção pessoal e profissional e sei que vai fazer um bom trabalho na Liga. Embora seja uma profissão de maior desgaste, mas qualquer pessoa sofre desgaste.
Ambiciona exercer algum cargo no Conselho de Arbitragem ou alguma função mais directiva num dos organismos que tutelam o futebol português?
Não. Já fui convidado e até já fui abordado para integrar uma candidatura para um futuro Conselho de Arbitragem. Mas aquilo que eu disse a quem me abordou, digo agora, o meu lugar é do lado técnico do terreno. Eu gosto é de estudar as leis e as normas, analisar casos e ajudar no próprio treino e é isto que me move. Isto não quer dizer que daqui a quatro, cinco, dez anos não me possa candidatar a uma associação distrital, ou a um nível maior, à Federação [Portuguesa de Futebol] ou à Liga [de Clubes]. Neste momento, não tenho qualquer tipo de aspiração. Mais vale estar nesta área, onde sou melhor, do que ser mais um no dirigismo.