Enquanto a equipa de Trás-os-Montes percorria o país de uma ponta à outra, nos cerca de 800 quilómetros que ligam as duas cidades, os adeptos engalanaram as rotundas, as ruas, os carros e as janelas com bandeiras e cachecóis 'azul-grená' e, na hora da chegada, além dos aplausos, das 'selfies' e dos gritos, o mote era "Para cá do Marão, mandam os que cá estão".
No passado domingo, o Desportivo de Chaves empatou no terreno do Portimonense por 1-1, garantindo a subida ao escalão máximo do futebol português, 17 anos depois da última presença.
Mal soou o apito final em Portimão, a cidade de Chaves, com cerca de 40 mil habitantes, "virou do avesso" com multidões nas ruas, carros a congestionar a circulação - alguns dos quais ficaram sem buzina -- e uma festa e felicidade como "há muito não se via".
No palco da festa flaviense, na rotunda do Monumento, lia-se numa faixa "Nós no campo, vós na bancada, somos um só".
As bancadas do Estádio Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira estavam lotadas com miúdos e graúdos e, no momento da entrada dos jogadores no relvado, a espuma tapou as vistas, os gritos anularam as conversas e os 'flashes' das câmaras registaram o momento para a posteridade.
De cachecol ao peito, algo habitual há mais de 20 anos, Armando Sousa saltou das bancadas para o terreno de jogo para abraçar os jogadores, mas sobretudo o técnico Vítor Oliveira, de quem "muito gosta".
"Estou mesmo muito emocionado. Fui a Portimão ver o jogo e não estou nada cansado porque a alegria é maior", disse à Lusa.
Sobre as memórias do Chaves na I Liga, Armando realçou que se "lembra perfeitamente" de ver multidões e autocarros invadirem a cidade.
Com 77 anos, Álvaro Pinto garantiu que para a próxima temporada não vai falhar "um único jogo".
"Estou imensamente feliz. Lembro-me bem de que quando o Chaves estava na I Liga, era uma loucura na cidade, tanto que, para tomar um café, tínhamos de estar uma hora à espera na fila".
A viver pela primeira vez a presença do Desportivo de Chaves no escalão máximo do futebol português, Mário Fontinha, de 14 anos, também ele jogador do clube no escalão de iniciados, afirmou estar "muito orgulhoso".
"Isto é uma festa muito grande, estou impressionado", frisou.
Sara, de 10 anos, acompanhada pela avó, adiantou que esta subida é "mesmo bonita".
"Gosto de futebol, mas não venho muito ao estádio, a ver se venho mais agora", disse timidamente.
Empunhando uma bandeira, Teresa Tomás disse que não perdeu um minuto do jogo e que, quando terminou a partida, ficou "sem palavras".
"É inexplicável, não costumo muito vir 'à bola', mas estamos sempre com o emblema do Chaves no coração. A cidade vai ficar mais alegre e é disso que precisamos", comentou.
O trabalho não permitiu a Jorge Sousa viajar até Portimão, mas não falhou à receção.
Considerando que o Chaves já devia estar na I Liga "há muito tempo", Jorge Sousa, de sorriso rasgado, não escondeu estar "muito, muito, muito feliz".