Em declarações à agência Lusa, o representante e advogado da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), André Matias de Almeida, disse que se ficar provado, através da análise da totalidade dos documentos disponíveis desde o início das conversações com os sindicatos, que estes não agiram de boa-fé e que "nunca tiveram intenção de chegar a entendimento", isto "não poderá deixar de ter as naturais consequências legais".
Relativamente às declarações do secretário de Estado da Energia acerca da preparação de "uma rede de abastecimento de emergência" de combustíveis, caso a greve dos camionistas a partir de 12 de agosto se concretize e não sejam cumpridos os serviços mínimos, André Matias de Almeida disse encará-las com "total normalidade", uma vez que depois do impacto que teve a greve de abril "nenhum Governo pode permitir uma situação de crise energética".
"O Governo esteve à mesa das negociações e sabe quem esteve de boa-fé e quem esteve de má-fé", acrescentou o porta-voz da ANTRAM.
Por sua vez, o Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM) e o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), que entregaram o pré-aviso de greve, revelaram-se surpreendidos com as declarações do secretário de Estado, uma vez que dizem ainda estar à espera de serem chamados para uma reunião para decidir os serviços mínimos a cumprir.
O secretário de Estado da Energia, João Galamba, disse hoje numa entrevista ao Dinheiro Vivo e à rádio TSF que "o Governo está preparado para o que vier a acontecer" na eventualidade de uma greve geral de camionistas a partir de 12 de agosto, acrescentando que está já a ser preparada "uma rede de abastecimento de emergência" com um mês de antecedência.
João Galamba referiu também que o Governo está a trabalhar na definição de serviços mínimos.
"Se acontecer algo semelhante ao que aconteceu na última greve teremos no terreno um dispositivo que identifica os abastecimentos prioritários, os postos que têm de ser abastecidos, os circuitos que abastecem esses postos, bem como depois a necessidade de motoristas que garantam esses abastecimentos. Iremos definir os serviços mínimos e esperamos que sejam cumpridos, mas se não forem temos medidas alternativas", sublinhou.
O governante adiantou que "já está também preparada uma 'task force' especial da Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE), com procedimentos internos por parte da sua própria rede de emergência de postos de abastecimento (REPA), que depois se articula com as forças de segurança para a operacionalização da rede alternativa".
"Haverá um acompanhamento muito próximo de vários membros do Governo, das áreas da Energia, Transportes, Administração Interna, como na greve anterior", salientou.
Questionado sobre como vai ser no Algarve, onde muitos portugueses vão estar a passar férias e onde o gás natural não chega por gasoduto, João Galamba disse que estão a "ser criadas condições".
"Há locais de abastecimento de gás no Algarve que são prioritários e estão incluídos na rede de emergência que referi. Mesmo num cenário de greve e quebra dos serviços mínimos, esse abastecimento e os consumos na região estão garantidos", indicou.
Os sindicatos representativos dos camionistas não chegaram a acordo com a ANTRAM e entregaram um pré-aviso de greve, com início em 12 de agosto, após uma reunião de quase cinco horas, sob a mediação do Ministério do Trabalho.
O pré-aviso de greve do SNMMP e do SIMM propõe serviços mínimos de 25% em todo o território nacional, enquanto na greve de abril eram de 40% apenas em Lisboa e Porto.
A elevada adesão à greve de três dias em abril surpreendeu todos e deixou sem combustível grande parte dos postos de abastecimento do país.