De acordo com um relatório sobre a emissão de dívida nos mercados emergentes, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, Angola deverá ter, no final deste ano, um volume de dívida comercial de 50,9 mil milhões de dólares (46,9 mil milhões de euros), um ligeiro acréscimo face aos 49,5 mil milhões de dólares (45,6 mil milhões de euros) que registava no final do ano passado.
O relatório contabiliza apenas a dívida comercial, seja através da emissão de títulos de dívida, não contabilizando os empréstimos bilaterais, deixando assim de fora, por exemplo, os empréstimos provenientes da China ou o programa de apoio financeira do Fundo Monetário Internacional, no valor de 3,7 mil milhões de dólares, cerca de 3,4 mil milhões de euros.
"No total, os países dos 53 mercados emergentes analisados pela S&P vão representar 5,8% do total de dívida emitida em 2020, com a maioria (46%) a estar concentrada na Europa Central e de Leste e na Comunidade de Estados Independentes, seguido do Médio Oriente e África do Norte (34%) e na África subsaariana (20%)", lê-se no documento, que estima que Angola e o Egito sejam os países que mais vão renegociar a dívida.
"Estimamos que Angola e o Egito vão enfrentar o maior rácio de dívida renegociada ['debt rollover, no original em inglês], incluindo dívida de curto prazo, com 75% e 33% da dívida total face ao PIB, respetivamente", aponta-se no documento.
Isto reflete, alertam, "a dependência destes países na dívida de curto-prazo, bem como a elevada dívida total".
Na análise sobre a África subsaariana, a S&P diz que as emissões de dívida na África do Sul, Angola e Nigéria vão representar a maioria do endividamento este ano (80%), com a Nigéria a representar 45% da dívida emitida nesta região.
Para esta região, a S&P estima que vá haver emissões de dívida no valor de 94 mil milhões de dólares (86 mil milhões de euros), este ano, sendo que 25% destas emissões servirão para refinanciar a dívida de longo prazo, resultando em nova dívida no valor de 70 mil milhões de dólares (64 mil milhões de euros).
"Antecipamos que o volume de dívida vá chegar aos 485 mil milhões de dólares [447 mil milhões de euros], o que representa um aumento face ao ano passado de 40 mil milhões [36,8 mil milhões de euros], ou seja, 9%, e calculamos que Angola, Zâmbia e Quénia continuem a enfrentar o maior rácio de dívida 'rolante' ['rollover debt', no original em inglês] em percentagem do PIB, com 75%", concluem os analistas.
A emissão de dívida 'rolante' caracteriza-se, no essencial, pela reestruturação da dívida atual, em que um emissor concorda pagar uma taxa de juro mais elevada em troca do adiamento do vencimento do empréstimo, ou emite nova dívida para pagar a atual, uma prática que os analistas encaram como perigosa por perpetuar o ciclo da dívida e afundar o país nesta 'armadilha'.
No total mundial, a S&P estima a emissão de dívida este ano vá aumentar 8,1 biliões de dólares (7,4 biliões de euros), 5% mais face a 2019, para uma dívida total de 53 biliões de dólares [48,8 biliões de euros].
"O aumento reflete o aumento das necessidades de financiamento dos maiores países emissores, num contexto de políticas orçamentais mais expansivas e com perspetivas económicas globais mais frágeis", comentou a analista Karen Vartapetov, citada numa análise enviada aos investidores.