"O impulso inicial é ir ao mercado com aquilo que se pode, neste momento é o 'take away' [recolha no restaurante] e o 'delivery' [entrega em casa]. Considero que é a opção errada por duas questões: uma é a questão de saúde pública, a outra é pelo momento que vejo que irá acontecer e que será muito complicado", afirmou à agência Lusa o presidente da delegação dos Açores da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Rui Anjos.
Para o empresário, além de colocar em causa a saúde pública, as recolhas no restaurante e as entregas ao domicílio comportam um "custo acrescido" para os clientes.
"Alerto que não o façam [as recolhas no restaurante e as entregas ao domicílio] porque tem um custo acrescido que irá fazer muita falta depois. Estamos a atravessar um período de uma grande pancada e toda e qualquer poupança vai fazer falta para o futuro", destacou.
Segundo o decreto do Governo que estabelece os termos do estado de emergência, os estabelecimentos ligados à restauração "devem ser encerrados no seu atendimento público", mas devem procurar manter-se em funcionamento para serviços de entrega ao domicílio e recolha na loja.
Para Rui Anjos, proprietário de oito estabelecimentos em Ponta Delgada, todos totalmente encerrados, os empresários do setor estão "devastados", reconhecendo que não é "tarefa fácil" implementar "medidas sustentadas" de apoio aos empresários durante este "cenário dantesco".
"Penso que, para o cenário que temos, não há neste momento medidas sustentadas para aguentar o que quer que seja e para os empresários estarem fortes para enfrentar esta frente de batalha. Porque é um cenário nunca antes visto à escala global", assinalou, quando questionado sobre as medidas anunciadas pelos governos nacional e regional de apoio aos empresários.
O responsável pela AHRESP nos Açores considerou que depois da "tormenta" vem "sempre o bem", pelo que espera que a sociedade se torne "menos consumista" e mais assente no "valor da pessoa" devido aos efeitos da pandemia de covid-19.
"Espero que não sejam as empresas a reinventarem-se, mas sim as pessoas a reinventarem-se e espero que isso possa acontecer no melhor sentido", apontou.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 360 mil pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 17.000 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, há 23 mortes e 2.060 infeções confirmadas, segundo o balanço feito segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde.
Dos infetados, 201 estão internados, 47 dos quais em unidades de cuidados intensivos.
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.