A altura é de mudança para Mário Centeno, que anunciou, na terça-feira, a saída do Governo, deixando o lugar a João Leão, até então secretário de Estado do Orçamento.
Além de chegar ao fim o seu capítulo no Governo de Costa, o ministro cessante começou também esta quinta-feira a preparar a sua despedida do Eurogrupo, onde continuará como presidente até ao final do mandato, que termina a 12 de julho.
Naquela que é a última entrevista enquanto ministro das Finanças, Mário Centeno desvalorizou a decisão, explicando que se trata do "fim de um ciclo".
"Não há nenhum motivo, é mesmo só o fim de um ciclo, e temos de olhar para isso com alguma tranquilidade", explicou Centeno durante o Telejornal, na RTP, sublinhando que foi uma decisão que "foi sendo tomada ao longo do tempo".
Banco de Portugal? "É um cargo que qualquer economista pode gostar de desempenhar"
Muito se tem escrito sobre a possibilidade de Mário Centeno assumir o cargo de Governador do Banco de Portugal. Questionado sobre essa vontade, o ministro cessante 'fecha-se em copas' e remete a "decisão compete ao próximo ministro das Finanças e ao Governo".
No entanto, Centeno sublinha que "é um cargo muito importante para o país, que não vai perder importância nos próximos anos e, portanto, é um cargo que qualquer economista pode gostar de desempenhar", remata, frisando que não vai falar mais sobre o assunto.
Sobre os diplomas aprovados na generalidade no parlamento e que, se vierem a ser lei, criarão um período de nojo entre funções governativas e na liderança do banco central, o ministro das Finanças disse desconhecer qualquer país que tenha "esse género de incompatibilidades escritas em normas".
"Ser governante não é propriamente um cadastro", reforçou, questionando, depois de ter sido ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, que cargos poderia desempenhar seguindo esse tipo de critérios.
Mário Centeno salientou que, em Portugal, três governantes do PSD "assumiram cargos desta natureza após terem sido governantes" e aconselhou o país "a não se pôr mais restrições a si próprio".
Relação com primeiro-ministro? "Não houve nenhuma deterioração"
Mário Centeno garante que a decisão de sair do Governo nada tem a ver com António Costa, sublinhado que não houve "nenhuma deterioração dessa relação". "Nada mudou do ponto de vista político ou no relacionamento pessoal", acrescentou, sublinhando que a relação entre um ministro das Finanças e um primeiro-ministro é "tensa, mas saudavelmente tensa".
As dúvidas sobre uma possível rutura na relação entre Costa e Centeno surgiram após a polémica com o Novo Banco, onde foram injetados 850 milhões de euros, no mesmo dia em que António Costa garantiu, no Parlamento, que não haveria mais ajudas até que os resultados da auditoria que está a ser feita ao Novo Banco fossem conhecidos.
Com a polémica instalada, que envolveu também um comentário do Presidente da República, Mário Centeno e António Costa reuniram-se em São Bento, na residência oficial do primeiro-ministro. Agora, o ministro das Finanças demissionário clarifica que a reunião aconteceu porque "havia necessidade de esclarecer uma situação de tensão que estava a crescer em termos públicos" e que "não tinha intenções de sair" do Governo.
Questionado sobre se sentiu falta de apoio por parte do Presidente da República, Centeno esclarece que "não" e salienta que a relação com Marcelo é "institucional".
"Nós, do ponto de vista institucional, sempre tivemos boas relações com o Presidente. Não tenho de filtrar esse apoio institucional", reitera, acrescentando: "Não tenho sequer que me sentir incomodado com a declaração, nem creio que tenha sido nesse sentido".