"Queremos mesmo criar condições para produzir muito hidrogénio, para produzir hidrogénio verde e renovável, queremos produzi-lo ao mais baixo custo possível e para isso precisamos de soluções e essas soluções só serão construídas com o vosso empenho", disse João Matos Fernandes, dirigindo-se à comunidade científica presente no auditório do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEG), onde decorreu hoje a sessão de discussão da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2).
Matos Fernandes considerou que o hidrogénio vai ser um dos pilares na transição para uma economia descarbonizada até 2050 e lembra que a estratégia de aposta no hidrogénio não aterrou agora no seu ministério.
"Esta estratégia do hidrogénio está longe, muito longe, de ser o filho bastardo que apareceu e que aterrou nas intenções do Ministério do Ambiente e da Ação Climática. Longe disso. Tudo começa com Portugal, antes de toda a Europa, ter dito que vamos ser o primeiro país a ser neutro em carbono no ano de 2050", declarou.
O governante realçou que Portugal foi "mesmo o primeiro país do mundo a afirmá-lo -- em 2016 em Marraquexe pelo primeiro ministro, António Costa -, de maneira clara e evidente", referindo que o projeto de Sines vai ser um "grande projeto para produzir hidrogénio verde com eletrólise feita a partir de água do mar".
Mas, prosseguiu, espera que possam nascer em Portugal "outros projetos".
Matos Fernandes considerou ser "particularmente relevante" para a EN-H2 "as tecnologias de produção", "armazenamento", "distribuição e abastecimento", "transporte", na injeção da rede de gás natural", "construção de novas células de combustível, "novos materiais" e "novos processos".
O ministro defendeu que a estratégia para a produção de hidrogénio verde passa pela "tecnosfera", proteção da biosfera usando a tecnologia a favor da defesa do ambiente.
"Temos que dar o salto para, não esquecendo nunca que o nosso fornecedor é a biosfera, tentarmos o mais possível ir trocando esse fornecedor por um outro a que eu chamarei de tecnosfera. A tecnosfera tem naturalmente como base o material que o nosso pródigo planeta nos disponibiliza, mas temos mesmo de saber construir uma grande camada tecnológica (...), para termos a certeza que utilizamos de forma parcimoniosa os bens da biosfera", declarou.
Na sessão de discussão da EN-H2, Matos Fernandes alertou ainda a comunidade científica para pensar em soluções para o destino dos novos materiais que sejam criados para alcançar a meta da descarbonização até 2050.
"Uma particular atenção e uma chamada de atenção para aquilo que são os novos materiais. Não tenho dúvidas em poder afirmar o meu receio dos novos materiais quando ao colocá-los no mercado não pensamos o que é que lhe vamos fazer quando eles acabam. É absolutamente fundamental saber o destino que vai dar aos novos materiais que sejam criados", afirmou.
Segundo Matos Fernandes, o hidrogénio representará um papel "muito relevante em Portugal".
"Com as condições que temos para poder produzir hidrogénio verde, vamos mesmo ser um dos países liderantes, à nossa escala, mas tentando ir para além da nossa própria dimensão neste domínio do hidrogénio verde".
O governo tem o compromisso de atingir a neutralidade carbónica em 2050 e Portugal definiu para 2030 uma incorporação de 47% de fontes renováveis no consumo final de energia, a redução para 65% da dependência energética e em 35% o consumo de energia primária. A EN-H2, com o enfoque no hidrogénio verde, pretende facilitar e acelerar a transição energética em vários setores, particularmente nos transportes (pesados e marítimos, por exemplo), e na indústria, reforçando a economia nacional e a sua retoma.
Segundo o Governo, a oportunidade que o hidrogénio representa poderá traduzir-se, no horizonte 2030, "em investimentos na ordem dos 7 mil milhões de euros em projetos de produção de hidrogénio e numa redução das importações de gás natural na ordem dos 300 a 600 milhões de euros".
O ministro Matos Fernandes referiu ainda que a pandemia da covid-19 veio mostrar a necessidade de uma reindustrialização do país, mas que "evidentemente" não se pode construir o futuro "utilizando as ferramentas do passado".
"A reindustrialização do país tem que ser feita de outras formas, com outros processos e pensada para uma sociedade neutra em carbono, que regenere recursos e que caiba dentro dos sistemas terrestres", com novos modelos de negócio e com novas tecnologias para "relançar a economia".
Além de Matos Fernandes, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, participaram sessão de discussão da EN-H2, bem como Carlos Martins, da Martifer, Helena Silva, do CEIIA, João Abel Lopes, do INESC, Jorge Pinto, da Caetano Bus, Mariana Domingos, da NET4CO2, Nuno Moreira, da DouroGás, Pedro Furtado da REN, Perfeito Isabel, da TurboGás, entre outros.
A comunidade científica, em articulação com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, tem vindo a debater as potencialidades relativamente ao hidrogénio, a nível europeu e mundial, mas também as condições particulares de Portugal para o desenvolvimento de projetos com aquela fonte energética.
O acesso a infraestruturas de transporte (gasodutos e portos), a existência de indústrias (aço, refinação, química), o acesso a fontes de água (mar ou residual), a disponibilidade de recursos renováveis, o enquadramento político e a existência de mecanismos de apoio, têm sido alguns dos temas debatidos.
O documento da EN-H2 está em discussão pública até dia 6 de julho.