O Estado chegou a acordo com os privados para ficar com 72,5% da TAP. Pedro Nuno Santos reiterou, no espaço da 'Grande Entrevista' da RTP, esta quarta-feira, que a companhia aérea tem uma "importância crítica para a economia" e defendeu ainda que "o Governo não pode ter medo de tomar decisões que são importantes".
Ainda assim, o ministro com as pastas das Infra-estruturas e da Habitação reconheceu que é natural que os portugueses, "muitos deles que vivem com dificuldades", encarem o investimento na TAP "com perplexidade, temos perfeita consciência disso".
Contudo, em cima da mesa, sublinhou, estava a necessidade de "salvar uma empresa com importância crítica para a economia ou deixá-la cair". E "deixar cair a TAP significaria um custo tremendo para a economia nacional superior a 1.200 milhões de euros", sustentou.
Para além disso, justificou o governante, "se a TAP caísse, deixávamos de ter um 'hub' em Lisboa. O centro a partir do qual se fariam as ligações aéreas seria Madrid".
"Pode garantir que será uma injeção única? Não posso"
Pedro Nuno Santos garantiu que "o Governo não tem prazer em injetar 1.200 milhões de euros numa empresa". Mais, para o ministro, "ninguém pode dizer que está satisfeito com uma intervenção destas, ninguém está. Tivemos um problema e tivemos de agir".
Já questionado sobre se poderia garantir que a injeção de 1.200 milhões será única, o ministro foi perentório: "Não posso. Era desonesto se o estivesse a fazer".
A questão, alegou, é que "estamos a operar num contexto de absoluta incerteza. Ninguém tem a certeza se as previsões de retoma vão ser ultrapassadas, para cima e para baixo, para o mal ou para o bem, mas temos de tomar decisões neste contexto de incerteza. Nem eu, nem nenhuma pessoa consegue ter a certeza sobre a evolução do turismo, da aviação, da economia em geral".
Torna-se imperioso, como defendeu o governante, "conseguir rapidamente que a TAP volte a pôr aviões no ar". No entanto, Pedro Nuno Santos tem uma certeza: "Não vamos estar assim eternamente, a pandemia terá um fim, a recessão económica também".
"Nunca na vida se falhariam salários"
Ainda sobre a mais recente injeção do Estado na companhia aérea, Pedro Nuno Santos destacou que os 1.200 milhões de euros "têm de chegar rapidamente" e afastou ainda a possibilidade de haver uma falha de salários: "Nunca na vida se falhariam salários, seja de que forma fosse. Esse risco não existe".
Porém, a injeção de liquidez será necessária a curto prazo "para pôr os aviões no ar. Temos os principais concorrentes europeus a viajar mais para o Brasil do que nós".
"Podemos garantir postos de trabalho a todos os trabalhadores da TAP? Não"
Assumiu Pedro Nuno Santos que a "não existe um plano de reestruturação [para a TAP] neste momento", mas rejeitou a ideia de que este não seja necessário.
"Criou-se a ideia de que havia uma solução milagrosa na Europa que significaria auxiliar a TAP sem reestruturação", mas a verdade é que a transportadora portuguesa terá de passar por esse processo, à semelhança do que acontece com outras companhias europeias.
Nesta reestruturação, "podemos garantir postos de trabalho a todos os trabalhadores da TAP? Não, estaríamos a mentir a todos nós".
De acordo com Pedro Nuno Santos, "não temos uma operação que justifique a dimensão que a TAP tem, nem se perspetiva. Mas temos obrigação de fazer este trabalho [de reestruturação] com respeito pelos trabalhadores. Temos muito respeito por quem faz a TAP todos os dias, não é um ministro, ou os acionistas, são os trabalhadores que fazem desta uma empresa altamente respeitada".