Segundo o documento, elaborado pelo consultor do Governo António Costa Silva e a que a Lusa teve hoje acesso, "é vital Portugal reforçar o seu papel como Centro Europeu de Engenharia, tendo em conta que a revolução tecnológica em curso e a reindustrialização do país necessitam de mão de obra qualificada e em particular de engenheiros, não só de 'software' ou eletrotecnia, mas engenheiros mecânicos, civis, químicos, mineiros, físicos tecnológicos, aeroespaciais e outros".
Esta componente, sustenta, "é vital para a transformação da economia e recomenda-se fortemente a criação de 'kits' pedagógicos ilustrativos das profissões mais necessárias para atrair estudantes do ensino secundário".
O consultor refere que a transição digital "é um dos instrumentos essenciais da estratégia de desenvolvimento do país" e que o "atraso no processo de transição digital em muitas empresas e organismos da Administração Pública tornou-se evidente com a crise da covid-19 em domínios como os da desmaterialização dos processos, organização do teletrabalho ou competências de uso das tecnologias digitais, sobretudo em contextos novos e fora das atividades rotineiras".
"A transição digital deve ser assumida como catalisador da transformação industrial em curso" e um elemento "propulsor desta transformação é o alargamento da fibra ótica para cobrir todo o país, o que é muito importante para não termos um país a várias velocidades, ao mesmo tempo que reforça a coesão territorial e a integração do interior na economia nacional e global", defende Costa e Silva.
O outro elemento propulsor e estratégico para o futuro, acrescenta, é a utilização da nova geração de tecnologias móveis, a rede 5G (quinta geração móvel), para alavancar a conectividade do país.
"O alargamento da fibra ótica para cobrir todo o país é um fator crucial para a transição digital e ecológica, para o aumento da competitividade do tecido empresarial, para a coesão territorial e para o ecossistema da inovação e investigação. Este é um projeto estruturante para o futuro de Portugal", lê-se no documento.
António Costa Silva sugere também um plano de investimento na Administração Pública, "com o objetivo de acelerar o processo de transição digital, permitindo a todos os organismos públicos o reforço das suas competências no uso das tecnologias digitais e na flexibilização e simplificação dos processos de trabalho".
É também proposto um plano de investimento no tecido empresarial, "direcionado para as empresas com o objetivo de recuperar o atraso existente em alguns setores em relação ao processo de transição digital", bem como "um plano de investimento para acelerar a transição digital das empresas, apoiando a concretização da Indústria 4.0 e facilitando o acesso aos meios digitais e a aquisição de equipamentos e de competências para a digitalização dos processos de trabalho e dos produtos, permitindo às PME [pequenas e médias empresas] ultrapassarem os défices de competência no uso de tecnologias digitais".
No início de junho, o Governo confirmou que António Costa Silva tinha sido convidado para coordenar a preparação do programa de recuperação económica e que este tinha aceitado esse convite "como contributo cívico e 'pro bono'".
Segundo o Governo, o objetivo era que o trabalho preparatório estivesse concluído quando o Governo aprovasse o Orçamento Suplementar, altura em que o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, assumiria a "direção da elaboração do programa de recuperação".