De acordo com o relatório publicado no dia em que se assinala o Dia Mundial da População, os dados referentes a 2019 da distribuição dos trabalhadores portugueses pelos diferentes setores confirmam a afirmação crescente do setor dos serviços, que a presidente da Pordata, Luísa Loura, atribui, em grande medida, ao turismo.
"O turismo teve um 'boom' muito forte nos últimos anos e, ao crescer tanto, contribuiu para o crescimento do setor terciário, o que faz com que nos outros setores a proporção tenha baixado", explicou.
No sentido oposto, o setor que emprega menos pessoas em Portugal é o setor primário (5%), tendo-se verificado uma perda de cerca de 56% de efetivos entre os agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, pesca e floresta entre 2009 e 2019.
No entanto, a presidente da Pordata ressalva que o menor número de trabalhadores do setor primário não implica, necessariamente, uma menor relevância das atividades que o integram.
"A importância do setor primário pode não diminuir mesmo que haja menos pessoas nesse setor, porque pode ser facilmente industrializável ou, pelo menos, substituído por máquinas", considerou Luísa Loura.
Quando olha para as tendências ao nível da empregabilidade em Portugal, a especialista em estatística associa a supremacia do setor dos serviços a uma outra dimensão do retrato de Portugal: a educação.
Segundo os dados da Pordata, é cada vez maior o número de pessoas com ensino superior em Portugal e se em 2009 apenas 11% dos portugueses chegava a este nível de escolaridade, em 2019 era quase 20% da população.
"Os empregos que estas pessoas vão encontrar serão, naturalmente, ligados aos conhecimentos que adquiriram e isso é muito positivo", disse à Lusa, referindo que, em 10 anos, duplicou o número de especialistas das atividades intelectuais e científicas, passando a representar 19% do total da população empregada.
No geral, os níveis de escolaridade em Portugal têm assumido uma tendência crescente e em 2019 apenas 6% da população não tinha qualquer instrução. Por outro lado, na última década observou-se uma descida de 20 pontos percentuais na taxa de abandono escolar, que em 2019 se situava nos 11%.
Comparando estes dados àqueles relativos à emigração de adultos entre os 25 e os 39 anos, Luísa Loura disse que, apesar de a população estar mais escolarizada, o mercado de trabalho não está a conseguir captar os recursos humanos nacionais.
Segundo a presidente da Pordata, este grupo etário perdeu 530 mil pessoas entre 2009 e 2019, o que representa quase 25%", uma perda que não se explica com a quebra da natalidade, mas com a emigração.
"A população está mais escolarizada, mas o nosso mercado de emprego não consegue segurar nem valorizar devidamente esta população mais escolarizada que, portanto, sairá", vaticinou.
Ainda sobre o emprego em Portugal, Luísa Loura destacou os dados referentes ao padrão de inativos, que incluem estudantes, reformados e aquilo que a Pordata descreve como domésticos.
Nos últimos 10 anos, o número de domésticos no país foi cada vez menor, uma tendência que poderá estar associada, segundo a especialista, ao aumento das famílias monoparentais, mas também aos baixos salários entre a população jovem, uma vez que, em 2018, cerca de um em cada cinco jovens ainda eram considerados pobres.