Em declarações à agência Lusa, Bernardo Corrêa de Barros adiantou que a zona de Cascais (distrito de Lisboa), tal como outras no país, está a passar por uma fase muito difícil em plena época alta e sublinhou que o mercado nacional "é claramente insuficiente" para alimentar toda a hotelaria e alojamento local que Cascais tem.
"Nós aconselharíamos o Governo a pensar numa estratégia, numa injeção direta de capital nos hotéis, porque vamos ter uma crise gravíssima e que será muito prejudicial nos próximos anos. Será melhor injetar dinheiro diretamente nos empresários do que estar a Segurança Social nos próximos a ter de suportar estes custos com subsídios de desemprego", precisou.
Os números, sublinhou, são "chocantes", com quebras a chegarem aos 100%.
"Na hotelaria, em março a quebra era de 78% de hóspedes, em abril de 100% e em maio de 98%. Alguns hotéis estiveram abertos a dar apoio com os seus alojamentos e unidades disponíveis aos profissionais de saúde do concelho de Cascais, dentro da sua responsabilidade social. Foram parceiros a albergar médicos e enfermeiros e restantes profissionais de saúde, mas sem a atividade", precisou.
Há, inclusive, hotéis quase centenários que fecharam as suas portas pela primeira vez.
"Isto é uma crise sem precedentes, nunca vista. Temos estado em contacto permanente com os diretores das várias unidades hoteleiras - Cascais tem mais de 30 hotéis dentro do concelho - e o sentimento é geral. É um sentimento muito pouco esperançoso num futuro próximo. Estamos a trabalhar no futuro, a planear o futuro, mas o nível de incerteza é muito grande", disse.
O presidente da Associação Turismo de Cascais teme que muitas empresas venham a fechar devido à crise gerada pela pandemia.
"Ainda hoje falava com os diretores dos hotéis do Estoril, que tinham um número de reservas substancial e que têm vindo todas a ser canceladas. Estávamos com alguma esperança numa retoma turística", disse.
Bernado Corrêa de Barros lembrou que a região se preparou, que a Câmara Municipal de Cascais disponibilizou testes a toda a população e que as medidas de contingência foram tomadas pelos hotéis, mas os turistas não apareceram como era esperado.
"O mercado nacional, que tem ainda uma representatividade significativa, não é o que Cascais necessita neste momento, porque a maior representatividade é a do mercado internacional como um todo. [...] Cascais está a sofrer enormemente com esta situação", contou.
O responsável recordou que foram feitas várias campanhas a nível internacional desde o pico da pandemia, bem como a nível nacional.
"Lançámos recentemente o guia 'Boa cama, Boa mesa' para estimular o mercado nacional, mas o mercado nacional não é suficiente pata alimentar toda a hotelaria e alojamento local que Cascais tem. Não é claramente suficiente", frisou.
De acordo com Bernardo Corrêa de Barros, 99% dos hotéis estiveram encerrados em abril e maio.
"Os números no início do ano eram muito animadores, perspetivámos ser o melhor ano de sempre para Cascais. Temos vindo a melhorar os nossos números ano após ano, em número de hóspedes, no preço médio praticado. Tínhamos o preço médio mais alto do país e, neste momento, avista-se uma catástrofe", disse.
Por isso, a associação considera que o Governo deve tomar medidas urgentes para ajudar o setor: "Temos tido conversações. A Confederação do Turismo esteve reunida e a associação esteve presente. Foi explicada a situação que o país e as diversas regiões estão a viver neste momento e foi tocado este ponto, mas não se viram grandes medidas apresentadas. Não sentimos o otimismo habitual do senhor primeiro-ministro", disse.
No seu entendimento, o Ministério da Economia, que tem a tutela do turismo, e o primeiro-ministro "têm de olhar para o setor com olhar muito crítico".
Na quinta-feira, a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) exigiu medidas mais robustas e céleres para o setor, destacando como a mais urgente o prolongamento do 'lay-off' simplificado até dezembro, abrangendo todos os ramos turísticos.