Questionado pela Lusa sobre a situação da companhia, liderada por investidores islandeses e que desde março não opera voos regulares devido ao encerramento das fronteiras de Cabo Verde para conter a pandemia de covid-19, o presidente do conselho de administração da CVA, Erlendur Svavarsson, afirmou que o "foco dos acionistas e da administração é preparar a companhia" para "o reinício das operações assim que as condições pandémicas o permitirem".
"Entretanto, as condições de saúde, segurança e financeiras dos funcionários da companhia aérea são de suma importância. Foi aprovada uma prorrogação do regime de 'lay-off' implementado pelo Governo de Cabo Verde, pelo que já podem ser tomadas medidas que reflitam essa realidade", acrescentou Erlendur Svavarsson, que é também diretor executivo da companhia.
Garantiu igualmente que os "acionistas continuam em conversações sobre a resolução futura das finanças da companhia aérea a longo prazo".
A companhia aérea contava em março com 330 trabalhadores, não tendo a administração quantificado os valores em atraso.
"A administração e os acionistas não abandonaram os funcionários e, de facto, os salários estão a ser pagos hoje e esperamos que todos os saldos remanescentes aos funcionários sejam colocados em ordem o mais tardar na próxima semana", afirmou ainda Erlendur Svavarsson.
Em conferência de imprensa realizada na terça-feira, o secretário permanente do Sindicato dos Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo (Sitthur), Carlos Lopes, acusou a administração da CVA de deixar os trabalhadores da companhia "completamente abandonados e à sua sorte".
O dirigente sindical acusou a administração de apresentar "todo o tipo de desculpas para tentar justificar o não pagamento dos salários aos trabalhadores e não dá nenhuma satisfação aos mesmos". Apontou que os trabalhadores que se encontram em regime de 'lay-off' -- recebem 70% do salário, dividido em partes iguais pela empresa empregadora e pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) estão a "sobreviver" com apenas 35% do salário normal, dados os atrasos por parte da CVA.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, afirmou em 07 de setembro que a negociação para o apoio público à CVA "é complexa", mas garantiu que a companhia, parada há mais seis meses, "continuará a existir".
Em entrevista à agência Lusa, Ulisses Correia e Silva assumiu que a situação que a CVA atravessa, com o arquipélago encerrado às ligações aéreas internacionais regulares para travar a pandemia de covid-19, é idêntica à da "maior parte das companhias aéreas do mundo".
"Isto relativamente à não realização de voos e as consequências económicas e financeiras daí advenientes. As soluções de viabilização das companhias no contexto da pandemia do coronavírus não são fáceis na Alemanha, em França, em Portugal, em qualquer outro país e obviamente também em Cabo Verde", disse.
O chefe do Governo acrescentou que o executivo está a trabalhar com a administração da CVA -- desde março de 2019 liderada por investidores islandeses - num "quadro complexo" de apoio, mas deixou a garantia: "Sendo certo que qualquer que seja a decisão final, a CVA continuará a existir e a ser a companhia de bandeira".
Há várias semanas que são conhecidas negociações entre o Governo e a administração da CVA sobre o apoio estatal à companhia, ainda sem entendimento.
Em causa está uma companhia privatizada há um ano e meio, em que o Estado ainda detém uma participação no capital social de 39%, mas que está totalmente parada desde a suspensão dos voos internacionais para o arquipélago.
Cabo Verde permanece encerrado a voos internacionais, mantendo apenas, desde 01 de agosto, um "corredor aéreo" com Portugal para "voos essenciais" nos dois sentidos, que obrigam à apresentação de testes negativos à covid-19.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
O Governo cabo-verdiano concluiu este ano a venda de 10% das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39% restantes, que deveriam ser alienados em bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo executivo devido aos efeitos da pandemia.