"O Governo tomou as medidas tarde e é pena, porque nós chamamos à atenção a tempo", disse o presidente da AHP, Raul Martins, em entrevista à agência Lusa, referindo-se às medidas de apoio disponibilizadas pelo executivo, para fazer face aos efeitos da pandemia de covid-19 no setor da hotelaria e turismo.
"A AHP, desde o princípio, chamou a atenção para o apoio que devia ser dado e as primeiras medidas que foram tomadas, ainda em abril, maio deste ano, não foram suficientes. O Governo corrigiu", defendeu o responsável, acrescentando que o "Governo vai corrigindo" erros, depois de ouvir o setor.
Relativamente aos apoios, Raul Martins destacou uma das medidas que está prevista para o próximo ano e que determina o prolongamento das moratórias relacionadas com empréstimos bancários até setembro de 2021, apontando não ser suficiente.
"Infelizmente eu penso que não vão ser suficientes até setembro", sublinhou o presidente da AHP, acrescentando que, segundo as previsões para a hotelaria, a nível mundial, 2021 "ainda vai ser um ano de prejuízo" e que em setembro as empresas não terão liquidez suficiente para fazer o pagamento das prestações em falta.
Assim, a AHP propôs novas medidas ao Governo, entre elas o prolongamento até março de 2022 das moratórias relacionadas com os pagamentos dos empréstimos bancários que se vençam, bem como com o pagamento dos reembolsos decorrentes dos financiamentos contratados no âmbito do PT2020.
Para Raul Martins, estas medidas não pesam no Orçamento do Estado e permitem aos hoteleiros "uma certa estabilidade nos apoios" até à retoma do setor, que admite não saber quando acontecerá.
O presidente da AHP disse, ainda, que Portugal não está a utilizar o total das verbas destinadas à requalificação de unidades hoteleiras, no âmbito do Compete 2020, cujo prazo terminava no final do ano, mas foi prolongado para 2023, porque a libertação daquelas verbas está condicionada a uma "pontuação mínima" que não pode ser ultrapassada.
Neste sentido, a AHP pediu também ao Governo que essa verba seja libertada, para permitir que os hotéis façam as suas obras de requalificação neste período de baixa procura, em que alguns deles têm as portas fechadas.
"Os apoios que vêm agora da Comissão Europeia, estes novos, já não têm esse condicionamento, é facto, mas estão muito direcionados para duas áreas que são a digitalização e a sustentabilidade e a eficácia energética", ressalvou Raul Martins, alertando, no entanto, que os hotéis não vivem "só de digitalização e de energia mais ou menos verde".
Como medida a médio e longo prazo, a AHP propôs também ao Governo a criação de um fundo de investimento imobiliário especificamente para o Turismo, gerido pelo Banco de Fomento, para "participar em sociedades que tenham dificuldades, ou que tenham desequilíbrio financeiro", esclareceu o presidente, adiantando, porém, não acreditar que o Banco de Fomento abra portas no dia 04 de novembro.
Entre as propostas feitas pela AHP está, ainda, a anulação do Imposto Municipal Sobre Imóveis (IMI) de 2019, que é pago em 2020, uma medida que cabe às câmaras municipais tomar.
"Há câmaras que já estão a fazer isso e eu faço daqui um apelo para que as câmaras que tenham mais peso do turismo o façam, [porque] o ano que vem ainda é mau e isso era uma forma de aliviar a tesouraria", afirmou Raul Martins.
A AHP adiantou que as suas novas propostas têm tido "bom eco" por parte do Governo, mas reiterou que "o tempo urge" e é necessário tomá-las atempadamente.