"news_bold">"Retoma existirá quando houver 50% do número de passageiros a desembarcar em Portugal, face a 2019. Quando houver 50% daqueles que desembarcaram (..) nós dizemos assim: 'olhe, tranquilo, isto é retoma a partir de agora", afirmou Raul Martins em entrevista à Lusa.
Os aeroportos portugueses movimentaram quase 60 milhões de passageiros no ano passado, um crescimento de 6,9% em relação ao período homólogo, segundo dados da Vinci, dona da ANA -- Aeroportos de Portugal, em comunicado.
O responsável lembrou que, de início, o país estava convencido de que a pandemia de covid-19 "durava três meses", mas que "ao fim de três meses os números [da atividade] eram muito inferiores" ao previsto.
Portanto, "quando se diz 'então, mas quando é que é a retoma? É em abril? é em maio?' Não sabemos. A incerteza é muito grande por força de não sabermos o resultado das vacinas. Portanto, é bom que tenhamos - digamos - um referencial e o referencial para nós (...) - não é o do 'mês tal' - é quando tivermos 50% [dos passageiros] em todos os aeroportos de Portugal. Não é no Porto ou em Faro, não, no geral, uns poderão ter mais outros poderão ter menos", disse.
Questionado como se traduzirá para a hotelaria esses 50% de passageiros do ano passado, Raul Martins apresenta uma média: a ocupação dos hotéis em Portugal foi de 70% em 2019 no geral - "há uns que tiveram 80%, outros tiveram menos (...). Se tivemos 70%, 50% são 35%. Nós [hotelaria] com 35% de ocupação, um hotel normal está [com o resultado] equilibrado, está no seu 'breakeven' [(ponto de equilíbrio entre ganhos e perdas], portanto não perde dinheiro", explicou o presidente da AHP.
Ainda assim, levado a comentar as estimativas que têm vindo a público para a provável retoma da economia, o responsável adiantou acreditar que se "a partir de abril" começar a haver "uma recuperação nas viagens das pessoas por força da eficácia de uma vacina", com o recuperar de alguma confiança, 2021 poderá traduzir-se numa quebra "na ordem dos 60".
Uma melhoria, tendo em conta que a estimativa para este ano é de uma quebra de receitas de 70%.
Para as contas não se pode ignorar o facto de que "a aviação prevê que só em 2024 chegue aos níveis de transporte aéreo de 2019" e que Portugal "depende do transporte aéreo mais de 90%", lembrou.
Assim, "se pensarmos que agora em 2020 tivemos uma queda de 70%, temos quatro anos, no fundo, a progredir a uma média de 10 a 15% ao ano. Dizendo de outra maneira: eventualmente só em 2022 é que estaremos a zero", logo "2021 vai ser um ano ainda de prejuízo para os hotéis em geral", afirmou.
"Temos de pensar mais assim do que numa situação otimista. Otimista já fomos quando apareceu a pandemia e enganámo-nos todos. (...) em termos económicos não podemos pensar melhor do que isto, e se for melhor, quem nos dera, porque rapidamente aumentamos as nossas condições", concluiu.