Em declarações hoje à agência Lusa, o presidente da Associação de Valorização do Chiado e a presidente da Associação de Comerciantes de Alvalade concordaram que as medidas restritivas por causa da pandemia trouxeram deceção ao setor e que as manhãs de sábado e de domingo provocam ajuntamentos de pessoas "sem resultados práticos".
"Se houvesse um sábado todo dia aberto, então, se calhar, não havia tanta gente em simultâneo, mas havia conversão de vendas. As pessoas estão habituadas a vir comprar ao sábado", apontou presidente da Associação de Valorização do Chiado, Victor Silva.
De acordo com o responsável, muitas lojas já fecharam na Baixa de Lisboa devido a problemas financeiros e muitas apresentam quebras na faturação na ordem dos 80%.
"Na minha opinião, seria preferível fechar o domingo. Se querem fazer limitações, que fechassem um dia, mas que o sábado corresse normalmente", disse, ressalvando que "está a ser muito mau do ponto de vista da economia.
Observando um cenário desolador, Victor Silva atentou que os comerciantes esperavam por um bom mês de dezembro, realçando que a manutenção do recolher obrigatório às 13h00, em Lisboa, nos dois próximos fins de semana "não está bem pensado".
"Não é solução nenhuma. Foi a pior notícia. Depois de termos perdido todos os feriados, vésperas de feriados, sábado e agora, na parte final, ficarmos sem os últimos sábados, não se percebe", salientou, sustentando que as medidas apenas vêm "potenciar as vendas 'online'".
Na Área Metropolitana de Lisboa (AML) apenas quatro concelhos, Almada, Barreiro, Lisboa e Loures, continuam com "risco muito elevado" de contágio pelo novo coronavírus.
Nesses quatro municípios também continuará em vigor a obrigatoriedade de encerramento do comércio e da restauração a partir das 13h00 aos fins de semana.
São consideradas exceções os estabelecimentos de venda a retalho de produtos alimentares, bem como naturais ou dietéticos, de saúde e higiene, que disponham de uma área de venda ou prestação de serviços igual ou inferior a 200 metros quadrados com entrada autónoma e independente a partir da via pública.
Também a presidente da Associação de Comerciante de Alvalade, Elsa Gentil Homem, explicou que os consumidores preferem ir ao comércio tradicional à tarde e que é só "à uma [da tarde] que as pessoas começam a andar na rua".
"O nosso Natal está feito. Eu sei que se estivermos doentes é bem pior. Agora, não se consegue vender. As pessoas não entram de manhã. As compras de Natal são feitas ao sábado à tarde", indicou, propondo o encerramento do comércio ao domingo.
Para Elsa Gentil Homem, era preferível abrir ao sábado à tarde e fechar ao domingo o dia todo, porque as pessoas dividem-se entre a manhã e a tarde e acaba por não haver tantos ajuntamentos.
"Uma solução que eu acharia normal era toda a gente fechar no domingo - domingo todo - como se fazia antigamente. Antigamente não havia comércio ao domingo. As pessoas estavam todas em casa ou passeavam na rua", disse.
Considerando que o comércio tradicional sairá prejudicado com a crise pandémica, Elsa Gentil Homem disse que muitas lojas já não reabrem no início do próximo ano.
"As pessoas que não encerraram até agora tinham esperança no mês de dezembro, que cobre algumas situações do ano. Agora, como isto está no mês de dezembro, acredito que no mês de janeiro muitas lojas não irão abrir", referiu.
Nos dias úteis, o recolher obrigatório em Lisboa vigora entre as 23h00 e as 05h00 e os estabelecimentos comerciais têm de encerrar até às 22h00. Os restaurantes, equipamentos culturais e instalações desportivas devem encerrar até às 22h30 (estabelecimentos de restauração podem funcionar até à 01h00, mas apenas para entregas ao domicílio).
Por seu turno, o presidente da Associação Empresarial de Comércio e Serviços dos Concelhos de Loures e Odivelas, Alcindo Almeida considerou que a saída de Odivelas da situação de "risco muito elevado" é uma boa notícia para os comerciantes do município, lamentando que Loures continue "na mesma".
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.535.987 mortos resultantes de mais de 67 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 5.041 pessoas dos 325.071 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.