Balanço. Pandemia trouxe a maior quebra económica (e regresso do défice)
A pandemia de covid-19 levou à maior quebra trimestral da economia portuguesa desde que há registo, no segundo trimestre, e o défice das contas públicas em 2020 deverá ser o maior desde 2014.
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Economia Pandemia
O segundo trimestre de 2020 observou a maior quebra do Produto Interno Bruto (PIB) desde que há registo em Portugal, devido à paralisação quase total da atividade económica no país durante o período de vigência do estado de emergência, entre 19 de março e 2 de maio, e às limitações impostas à maioria dos setores da sociedade.
Entre 01 de abril e 30 de junho de 2020, a economia portuguesa contraiu 16,3% face ao registado no mesmo período de 2019, e relativamente ao primeiro trimestre, o último sem pandemia de covid-19, a quebra do PIB foi de 13,9%, de acordo com números do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Segundo o INE, a quebra associada à pandemia de covid-19 fez-se sentir "de forma mais intensa nos primeiros dois meses do segundo trimestre", com descidas homólogas de 39,5% nas exportações e de 29,9% nas importações, e contrações de 11,9 pontos percentuais da procura interna e de -4,4 pontos percentuais da procura externa líquida.
Em abril, segundo o INE, as vendas do comércio a retalho caíram 21,6% face ao mesmo mês de 2019, uma descida sentida principalmente nas vendas de produtos não alimentares, segundo o INE.
Num inquérito conjunto do BdP e INE de 05 de maio, os respondentes reportaram que 58% das empresas tinham os seus funcionários em regime de teletrabalho na última semana de abril, descendo este número para 54% na primeira quinzena de maio.
Segundo dados do Banco de Portugal, entre 19 de março e 20 de abril, as compras pagas com cartão bancário caíram em média 56 milhões de euros por dia, tendo o montante de compras com cartão reduzido em 46% face ao valor previsto numa situação de normalidade.
Também em abril, de acordo com o INE, os hóspedes em alojamento turístico recuaram 97,1% e as dormidas diminuíram 96,7% em abril face ao mês homólogo do ano passado, numa "interrupção quase total da atividade" do setor devido à pandemia.
Em abril, de acordo com o Banco de Portugal, a restauração perdeu 354,4 milhões de euros face ao valor transacionado com cartão no mesmo mês do ano passado.
Em outros setores, como o automóvel, em abril registou-se uma "queda histórica" de 84,6% nos veículos matriculados, dado que "nem em fevereiro de 2012, em plena crise financeira internacional, com uma descida histórica de 52,3%, o mercado caiu tanto num único mês como no passado mês de março (-56,6%) e em abril de 2020 (-84,6%)", segundo a ACAP - Associação Automóvel de Portugal.
Também na aviação, a NAV Portugal, gestora do espaço aéreo nacional, anunciou que geriu menos 24,3 mil voos em março, uma quebra de 36% face ao mesmo mês de 2019, tendo esse valor diminuído para 4.018 voos em abril, o que corresponde a uma quebra de 94% face ao mesmo mês do ano passado.
A quebra da aviação em Portugal está também associada à transportadora aérea nacional, a TAP, que viu a sua operação de mais de 3.000 voos semanais ser diminuída, durante o mês de abril, para cinco ligações semanais entre Lisboa e as regiões autónomas da Madeira e Açores.
Já a CP - Comboios de Portugal estava a perder quatro milhões de euros por semana, de acordo com palavras do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, no parlamento, no dia 29 de abril.
Apesar do segundo trimestre ter sido o mais afetado, todo o ano foi impactado pela pandemia, com especial enfoque na reta final, devido às novas medidas de confinamento decretadas pelo Governo.
Com efeito, no quarto trimestre do ano, de acordo com o Banco de Portugal, a economia nacional irá contrair 1,8% face ao terceiro trimestre, com o governador Mário Centeno a alertar que "o efeito de arrastamento para 2021 não é totalmente favorável neste momento".
"A taxa de crescimento para 2021 está muito afetada pelo mau ponto de partida originado no quarto trimestre de 2020", disse Mário Centeno na segunda-feira, durante a apresentação do Boletim Económico do Banco de Portugal.
Ao longo do ano, as previsões macroeconómicas das instituições nacionais e internacionais também se foram alterando, face à evolução da pandemia.
Em abril, o Fundo Monetário Internacional previu uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020, previsões que foram revistas posteriormente, para uma recessão de 10,0% e uma previsão de taxa de desemprego nos 8,1%.
A Comissão Europeia estimou inicialmente uma contração da economia de 6,8%, mas as previsões atuais já apontam para uma quebra superior, de 9,3%, do produto interno bruto (PIB) português.
O Banco de Portugal previu, em junho, uma recessão económica de 9,5% em 2020 devido à pandemia de covid-19, e uma taxa de desemprego de 10,1%, revisões atualizadas em outubro e confirmadas esta semana, para uma recessão de 8,1% e uma taxa de desemprego de 7,2%.
Já o Governo, que vinha de um excedente de 0,1% obtido em 2019, verá as contas públicas regressarem ao défice, cuja estimativa estava inicialmente projetada nos 6,3% no orçamento suplementar, e foi depois revista em baixa para 7,3%, no âmbito do Orçamento do Estado para 2021.
A previsão de um défice de 7,3% para 2020 é a pior desde os 7,4% registados em 2014, ano em que Portugal ainda estava debaixo de intervenção externa da 'troika'.
Segundo as estimativas do Governo, a dívida pública deverá atingir os 134,8% do PIB este ano, depois de ter baixado para 117,2% em 2019, e a taxa de desemprego deverá subir de 6,5% para 8,7%.
Antes da pandemia de covid-19, no Orçamento do Estado para 2020, o Governo previa um excedente das contas públicas de 0,2% do PIB, um crescimento do produto de 1,9% em 2020, a dívida pública nos 116,2% e ainda uma redução da taxa de desemprego para 6,1%.
O FMI prevê uma queda da economia mundial de 4,4% em 2020, com uma contração de 4,3% nos Estados Unidos e de 5,3% no Japão, enquanto a China deverá crescer 1,9%.
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