Jorge Simões, vice-presidente da ACIFF para o turismo, disse à agência Lusa que a situação "é muito preocupante, porque na realidade os restaurantes vão estar restringidos ao 'take-away' e entregas ao domicílio, o que é manifestamente pouco e não dá para fazer face às despesas fixas das empresas".
"As empresas continuam a acumular dívida mês após mês, dívida essa que agora cresce ainda mais", sublinhou o dirigente, salientando que os empresários que têm meios próprios ou de financiamento "ainda se vão conseguindo aguentar, mas outros, que estão numa situação muito debilitada, não".
Segundo Jorge Simões, vários restaurantes encerraram com a indicação de que reabrem na Páscoa, mas disse temer que "alguns já não voltem a abrir portas".
Para o vice-presidente da ACIFF para o turismo, o facto de o Governo não ter encerrado as escolas neste segundo período de confinamento "deixa os restaurantes muito preocupados, porque esta medida vai retardar a estabilidade do mercado".
"Se as escolas encerrassem, talvez um mês de confinamento fosse suficiente para fazer regredir a pandemia, assim talvez seja necessário dois meses, o que faz toda a diferença neste setor", sublinhou.
Em declarações à agência Lusa, Álvaro Tomás, proprietário do restaurante Bijou, salientou que a restauração "está a ser vítima dos tempos que correm e este confinamento é mais uma machadada no setor".
"Na Figueira da Foz, temos sido extremamente massacrados, porque desde que começou esta segunda vaga praticamente não trabalhamos, já que houve oito ou nove fins de semana fechados por causa do elevado risco do concelho, quando 70 a 80% da faturação nesta altura do ano é realizada ao fim de semana", frisou.
Perante "estes tempos negros", Álvaro Tomás não augura "grandes esperanças a alguns restaurantes que estão em dificuldades" e receia que alguns "não voltem a reabrir e, mesmo que voltem a abrir, provavelmente alguns não abrirão com grandes condições que se mantenham no futuro".
O empresário vai encerrar o seu restaurante neste período, porque não acredita no 'take-away', "que é muito ingrato para o tipo de serviço, com caldeiradas ou arroz feito na hora, que não chegam a casa dos clientes no máximo da sua qualidade".
O presidente da Associação Figueira Sabor a Mar, Mário Esteves, considera o impacto do novo confinamento na restauração "extremamente negativo e mais uma machadada forte na economia, que obriga a fazer ginásticas financeiras enormes na gestão e na parte comercial".
"Esta decisão de confinar já deveria ter sido tomada para não andarmos no arranca não arranca, vai não vai. É aborrecido e uma penalização muito grande para o setor, mas temos de compreender a situação e o objetivo que temos é colaborarmos para sairmos o mais rapidamente desta situação de pandemia, que tanto nos tem prejudicado e feito perder vidas".
O empresário, proprietário do restaurante Caçarola 2, que emprega 16 pessoas, assume que vai trabalhar em 'take-away' e entregas ao domicílio apenas para manter a ligação aos clientes.
"O que se reflete na parte económica não é expressivo, mas é expressivo o nosso contacto de proximidade com o cliente", sublinhou, deixando um apelo ao Governo para que liquide com rapidez os apoios ao setor da restauração.
Salientando que sem receitas "não pode haver cumprimento do pagamento de impostos, a fornecedores e ao pessoal", Mário Esteves receia também "rutura e falência" de restaurantes e alerta que "as insolvências vão aparecer, seguramente".
A partir de hoje, o município da Figueira da Foz tem em vigor um regulamento de apoio às pequenas e médias empresas, com uma dotação de 200 mil euros, que as empresas se podem candidatar mediante alguns requisitos.
"Independentemente disto, considero que os apoios de maior monta e mais importantes estão a ser lançados e tenho a expectativa de que o Governo ajude a ultrapassar este período difícil", disse à agência Lusa o presidente da Câmara, Carlos Monteiro.
Segundo o autarca, "mal este período [da pandemia] esteja ultrapassado, vai-se retomar todo um conjunto de iniciativas que promovem a cidade para que a retoma seja rápida e eficaz".
Carlos Monteiro adiantou ainda que o município suspendeu a entrada em vigor de um novo regulamento dos resíduos sólidos urbanos, que "ia ter impacto na restauração e hotelaria", dado que são os maiores produtores daqueles resíduos, "porque se achou que não era a altura para aumentar esta taxa".
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