"A reabertura, no outono, aconteceu demasiado cedo e está agora a levar a outro confinamento draconiano, que está a levar para uma dupla recessão profunda. A recessão está de volta a Portugal, tal como no resto da Europa e da zona euro", disse Nouriel Roubini numa intervenção no 'warm-up' da QSP Summit, que decorreu hoje no pavilhão Rosa Mota - Super Bock Arena, no Porto.
O economista considerou que no outono ficou claro que "a reabertura tornou-se demasiado relaxada" tal como "em novembro e dezembro e durante a época festiva", o que levou a uma nova vaga do vírus "que é muito mais violenta que a primeira".
Nouriel Roubini destacou ainda "o aumento massivo da pobreza" em Portugal como consequência da pandemia, com "muitas pessoas a perderem os empregos e rendimentos, e em dificuldades e a sofrer".
"Tem sido mesmo trágico. As pessoas estão preocupadas que cerca de dois terços dos 360 mil empregos criados nos quatro anos antes de 2020 possam ser destruídos no ano passado e este ano", afirmou.
Como principais impactos na economia portuguesa, o professor na universidade de Nova Iorque destacou "o choque nas receitas do turismo", setor que tem um impacto de 15% no PIB nacional.
O economista alertou ainda para a potencial "fragilidade política" de Portugal, com "um governo minoritário que é apoiado por dois partidos relativamente esquerdistas que estão a dificultar a vida do primeiro-ministro".
"Também há algum nível de continuidade política, já que tiveram a reeleição com sucesso do vosso presidente", disse Roubini, vincando, ainda assim, "o risco de um impasse político".
Segundo o economista, há a possibilidade de que "os partidos de esquerda não vão permanecer moderados na linha das políticas económicas que seguiram nos últimos anos", mas ficarão "mais radicais", o que poderá levar a novos "danos económicos".
Apesar dos avisos, Nouriel ROubini salientou que os dados sobre o investimento direto estrangeiro estavam "fortes antes da crise e permaneceram fortes no ano passado e este ano".
"O facto de vocês terem trabalho barato, boa produtividade, boas instituições, democracia, infraestruturas, significa que este [Portugal] é ainda um destino muito bom para investimento em serviços, na indústria, no turismo", considerou.
O académico concluiu a sua intervenção dizendo que, apesar de haver "dificuldades económicas significativas", a médio prazo o país, "desde que mantenha uma política macroeconómica sã e continue as reformas estruturais", pode ter "um futuro brilhante".