"Ou a situação se corrige ou as trabalhadoras vão ter de adotar outras formas de luta, que podem passar por o recurso à greve" e mais deslocações à porta do local de trabalho para denunciar a situação e "manifestar o descontentamento", disse hoje Afonso Figueiredo, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro (STIHTRSC).
Em causa, explicou, está "o reduzido quadro de pessoal que obriga a ritmos de trabalho muito violentos e muito elevados, com uma carga horária diária praticada pela empresa que é de 12 horas".
"Esta situação é insustentável e desde 2019 que temos colocado esta preocupação à empresa para que ela seja corrigida e até hoje os trabalhadores não conseguiram ver esta situação corrigida", sublinhou.
O sindicalista disse que é exigido à entidade patronal, a empresa Sinal Mais, o "cumprimento da lei, em relação às oito horas de trabalho", e "o reforço do quadro de pessoal", para que as funcionárias tenham "condições de trabalho dignas" e "possam trabalhar em segurança".
Hoje, "mais uma vez", está a dar-se "um sinal de que a paciência das trabalhadoras se esgotou, porque também a sua saúde, a condição física e psicológica está completamente afetada. Há trabalhadores que, fruto desta situação, estiveram longos períodos de baixa, por problemas de saúde", referiu o dirigente sindical.
"Temos de preparar os carros com as refeições para os doentes que estão no internamento, na UCIP [Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes], reforços para o bloco, hospital de dia, entrega de suplementos para todo o hospital e é só uma pessoa que faz isso ao longo das 12 horas, sem falar na louça e na preparação de saladas", relatou a empregada do refeitório, Catarina Rodrigues.
A cozinheira Olinda Rodrigues acrescentou que as quatro funcionárias já pediram à entidade patronal para, "pelo menos, colocarem mais uma pessoa por turno", mas responderam que "não era possível".
"Disseram que nos punham a quarta gama, ou seja, as batatas descascadas, os alimentos descascados que já é um apoio, porque isso rouba-nos muito tempo, mas agora até isso nos tiraram", acrescentou.
Olinda Rodrigues salientou que, "além dos três ou quatro pratos diferentes servidos diariamente, a cerca de 30 a 40 pessoas no refeitório", também "há as sopas, que são imensas e, às vezes, tudo é diferente, porque varia na dieta dos doentes".
"Há as refeições que vão para os internamentos que têm de seguir as dietas dos nutricionistas e das próprias doenças de quem está internado e não podemos falhar, é a saúde da pessoa que está em causa", explicou, realçando que "tem de estar tudo perfeito".
Neste sentido, defendeu que "uma pessoa por mais que se esforce e queira cumprir, é muito difícil" e no final de um dia de trabalho Olinda Rodrigues contou que vai para casa "estoirada, completamente esgotada e em piloto automático, até a conduzir".
"Gosto muito do que faço e quero que tudo fique bem feito. Gosto de saber que os doentes ficam satisfeitos, porque já basta estarem doentes, ao menos que tenham uma boa refeição e a horas, e pagam por ela, mas pelo menos que tenham qualidade e é para isso que trabalho", acrescentou.
"Isto é completamente incomportável, as pessoas não aguentam", concluiu Afonso Figueiredo, adiantando que hoje foi entregue uma resolução aprovada pelas quatro funcionárias à administração da CUF e da empresa Sinal Mais que presta o serviço ao hospital privado em Viseu.